quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Capítulo 33

Dedicado à Dayane... E parabéns, Laix. Tudo de bom! 

Felipe's POV. 

Desde que fiquei sabendo do namoro da minha noiva com o meu amigo, fiquei com uma pulga atrás da orelha. Ela assumiu pra mim que o amou e aquilo não era muito fácil de se engolir. Eu estava achando-a fria demais, estranha demais e temia a minha dedução. Ela não poderia terminar comigo, eu a amava, não era justo. Apareci no seu aniversário e fui recepcionado por uma cena que não me agradou nada: Tanara e Luan. Dançando. Não queria alimentar minhas deduções, mas eles pareciam íntimos demais... Não, não podiam estar se gostando novamente! O ciúme está pondo pensamentos errados na sua cabeça, Felipe! 

Tanara insistiu em jantar comigo e eu não fazia ideia do que seria. Aliás, minha mente mandava alguns sinais e eu negava, não queria acreditar. Com medo, acabei despertando minha esperteza e lembrando de uma pessoa: Natacha. Ela e Luan sempre se pegavam e eu sempre torci por um namoro, mas ele negava. Era a hora perfeita de voltar a insistir nos dois. Marquei com ela e depois, com Luan. Tanara e Luan não saberiam da presença de ambos e nesse jantar, além de juntar Luan e Natacha, eu podia descobrir mais algumas coisas. 

Não aconteceu o que eu imaginava! Minha noiva se irritou completamente e Luan não dava atenção para a Natacha. Percebia uns olhares estranhos entre os dois e só de pensar em alguma coisa, já sofria. Não, não e não! Eram só paranóias minhas. Natacha nos convidou para o seu apartamento e nós dois insistimos para que minha noiva e meu amigo aceitassem. Pelo menos isso, conseguimos! 

Lá, para acabar com o tédio, Natacha propôs uma brincadeira. Eu já tinha bebido um pouco e na hora, só pensei na diversão, no momento: gostei e aceitei. Natacha era uma mulher linda e estava me oferecendo o que minha noiva já não dava mais: pegação. O problema era que Luan também teria que ficar com Tanara e bom, eu fiquei incomodado. Mas queria mostrar que confiava no meu taco e não disse nada. Eles se beijaram na minha frente e eu vi muito mais do que pretendia ver. Foi um beijo diferente, não um beijo de uma brincadeira, um beijo qualquer. Fiquei puto por dentro e me arrependi na mesma hora de ter aceitado aquilo, só que era tarde demais... Natacha me puxou para o seu quarto e mal esperou fechar a porta para me agarrar. Ela era atirada, não se importava com nada. Eu aproveitei. Uma despedida de solteiro, talvez? 

Estávamos concentrados demais e quando vi que a coisa estava esquentando, caí em mim. Já tinha se passado um curto tempo desde que entramos e eu resolvi afastar Natacha, que estava tão ofegante quanto eu. 

 - O que foi, Felipe? - reprovou minha atitude. 
 - Não posso fazer isso! Não com ela aqui! Não com ela com o Luan. Desculpa! - normalizei minha respiração e antes que ela falasse algo, saí dali, quase correndo em direção à sala. Encontrei Tatá chorando e a consciência pesou. Merda! 

 - Tatá... - me ajoelhei na sua frente. - Me desculpa, não devia ter aceitado isso! Não chora, meu amor. Cadê o Luan? - passei o dedo sobre sua face. 
 - Sai de perto de mim, Felipe! Eu tô com nojo de você! - levantou, me empurrando. 
 - Você disse que estava tudo bem! 
 - Eu sou uma idiota! Eu faço tudo errado! Antes de aceitar essa merda, você deveria lembrar do respeito que tem por mim. Se é que tem! - limpava as lágrimas. Não era muito drama todo esse choro só por isso? Ela também beijou, caramba!  
 - Foi só uma brincadeira, não precisa disso tudo. - falei calmo, com medo que ela tomasse alguma atitude precipitada. 
 - Não quero falar com você, eu vou embora! - pegou a bolsa e fez menção de ir até a porta, mas eu a impedi. 
 - Depois nós conversamos, certo? - falei sério. - Isso não vai nos atrapalhar em nada, não é Tanara? - me olhou com raiva. - Vamos casar! - apertei seu braço, lembrando da raiva que também senti ao vê-la beijando Luan. 
 - Me solta! - ordenou, ainda sim cheia de marra. Eu soltei, respirando fundo, tentando manter a calma. Não queria brigar com ela, faria de tudo para evitar isso. Ela não disse mais nada, simplesmente saiu correndo dali. 

Agora eu estava chateado com tudo. Com os olhares que eles trocavam, com minha falha em juntar Natacha e Luan, com o beijo dos dois e agora, com a nossa briga. 

 - O que aconteceu? - Natacha voltou do quarto, rindo. Ela era louca! 
 - Tatá estava chorando. - sentei, bufando. 
 - Por quê? 
 - Pelo o que eu fiz, Natacha. Fiquei com você! Ela é sensível! 
 - Tem certeza? - riu debochada. 
 - Claro que tenho! 
 - E cadê o Luan? 
 - Quando eu voltei ele já não estava mais aqui. 
 - E ela estava chorando? 
 - É. Agora brigamos e eu tô puto! Não posso brigar com ela! 
 - Todo casal briga.
 - Eu gosto dela, Natacha. Eu vou me casar com ela! 
 - Você é cego? 
 - Cego? Por quê?
 - Ué, não viu o beijo deles? 
 - Vi, o quê que tem? Nos beijamos também.
 - Nosso beijo foi bem diferente do dele. Tinha algo a mais ali... E você viu que no jantar ele me evitou, né?! 
 - O que você tá querendo falar? 
 - O óbvio. Eles já namoraram. E ele ainda é louquinho por ela, dá pra ver na cara dele. Você vai ter sempre um concorrente dentro de casa! - encarei-a e ela deu de ombros. Pior que eu não podia negar que ele agia estranho. Que droga! 
 - Claro que não, Natacha. Ele já falou pra mim que é só passado! 
 - Você sabe o que é 'mentir'? Porque assim, achava que fosse mais esperto. 
 - O que você tá insinuando? 
 - Posso mesmo falar? 
 - Claro. - respirei fundo e fiquei atento à suas palavras. 
 - Eu acho que ele não ficou comigo no jantar por causa dela. Não me procura mais por causa dela e... ela estava irritada por causa de mim. Os dois ficaram sem graça com a brincadeira que eu inventei e eu só fiz isso para comprovar o estava suspeitando. Eles se gostam, é fato. Não sei o que ela tá fazendo com você! 
 - Você fala isso, assim? Na minha cara? 
 - Você disse que eu podia falar. - deu de ombros. - Sério que você não enxergou isso? 
 - Eles andam estranhos. 
 - É claro que você enxerga isso! Por isso me chamou pra esse jantar. Juntando eu e Luan você tira ele do caminho de vocês. - ela era esperta. 
 - Ela confessou pra mim que gostou muito dele. 
 - Claro que gostou! Meu querido, no ano que eles namoraram você precisava ver... Eu não sou fã do Luan, mas como eles eram muito falados, acompanhava. 
 - Eu preciso afastar eles. 
 - Felipe, sua cabeça não dói?
 - Hã? 
 - Meu filho, não quero julgar ninguém mas... Eu tenho quase certeza que você está sendo corno.
 - Tá louca, Natacha? - me exaltei. 
 - Relaxa! Dói muito no início, mas...
 - A Tanara nunca faria isso comigo! 
 - Ela tem cara de perigosa, mas gosta do Luan, e quando a gente gosta... 
 - Guarda o seu veneno pra você, Natacha! Eu não tenho culpa se ele não te quis. 
 - Veneno? Felipe, você devia era deixar de ser anormal e fazer um Instagram. 
 - O que tem no Instagram? 
 - Coisas me levaram a pensar isso! Ele postou uma foto com ela, você sabia? 
 - Como assim?
 - Ai, meu Deus! - suspirou. - Eu vou te mostrar, pra você não continuar sendo trouxa. 

Natacha pegou o celular e se aproximou de mim. Vi ela abrindo esse aplicativo de fotos e digitando um user estranho. Lunara? O que é isso? Clicou na última foto e me entregou o celular. Então, comecei a ler a legenda. 

lunara Passei quase meia hora pensando em como começar essa legenda, mas, não dá! A pancada foi forte demais, bagunçou tudo. Eu só queria dizer: BRILHA OU NÃO BRILHA?! Assumiu, Brasil! LUNARA VOLTOU, ESTÃO BRI BRI BRI LHAN DO... ⭐️ "Parabéns, Pikitinha ❤️" discreto porém fofo, porque ele é desses... ✔️ Não vou escrever mais nada porque isso foi o suficiente, já vou passar um ano sambando em vocês só com essa postagem do Luan. DEPOIS DE DOIS ANOS SOLTEIRO, o cantor está NA MO RAN DO! E sinceramente? Eu tô foda-se se a central falou que ele continua solteiro, ninguém de lá deve saber o que está acontecendo de verdade... Por hoje é só, galerinha! Até a próxima aula de: cartas, búzios, tarô e uma ajudazinha secreta. EU JÁ SABIAAAAAAAAAA! Ai CARALHO!!!!!!! #BrilhaLunara #MigoAssumiu #LaurinhaGanhouMadrasta #TôEhMorta #OlhaEles #2013•2018 #SãoAnosDeHistória #❤️
Só fiquei confuso. Vendo meu desentendimento, ela pôs em outra foto, depois em outra, e outra... E aos poucos eu fui entendendo. 

Luan's POV.

Voltei para casa arrasado. Não queria acreditar que ela fez isso comigo, com a gente. E pra variar, eu descontei tudo na bebida. Por estar sozinho, me permiti chorar. Eu tinha vergonha, um homem feito chorando por nada... Mas era assim que ela me deixava: sensível. Esse sentimento louco tinha me tornado um cara sensível, intenso e agora amargurado. Não foi fácil acabar com tudo, porém, foi preciso. Estava orgulhoso por não ter me deixado levar novamente, mas confesso: nunca doeu tanto. Só que eu teria que aprender a lidar, esquecer e superar. Tanara está me fazendo sofrer mais uma vez, e dessa vez, parece dez vezes pior. Errei em achar que poderíamos dar certo. 

Não pude curtir meu sofrimento, tive que voltar para a estrada na sexta-feira. Nos shows foi meio complicado disfarçar meu abatimento e acabei tendo que abrir o jogo pelo menos com o Roberval. Ele tentou me dar força, o que não adiantou muito. Prometeu não contar para ninguém e era melhor assim mesmo. Queria que aquela história, aquela humilhação... morresse. Tanara fez mesmo a sua escolha, sequer veio atrás de mim. Vai casar. O que me deixava mais magoado era lembrar das suas falsas promessas; e o que me dava mais raiva era lembrar de todas as vezes que eu acreditei nas suas mentiras, me iludi. Trouxa! Como você foi trouxa, Luan! 

Devo assumir um fato que ocorreu! Minha tristeza era tanta que eu não fui capaz de completar um show. Me sentia esgotado, muito triste, cansado... Aquilo não podia ser só dor de cotovelo! Saí do palco passando mal e todos se preocuparam, depois, me encheram de esporros. Por quê? Porque descobriram que eu estava bebendo a todo momento. Eles não sabiam o real motivo do mal estar e culpavam a bebida. Era ela! Só ela! A bebida não tinha nada a ver com isso, somente me aliviava. 

             24 de janeiro de 2018. 

Era uma quarta-feira e eu estava em casa. Com o violão no colo e o celular do lado, eu acabara de terminar uma canção. Tanara servia pelo menos pra isso: me dar inspiração. 

Faz de brinquedo não 
Esse meu coração que te ama 
Deixa ele fora disso
Se as coisas não vão bem 
Se ele não faz nada certo 
Não vem me fazer de remédio 

Tenho medo de você passar pelo o que eu tô passando agora
E você não aguentaria ver o amor da sua vida te usando 

E vai lá terminar com ele, diz que ainda treme ao me ver
Fala bem na cara dele que ainda me ama 
Só assim te aceito 

Tocando assim, toda, eu até gosto. Não usaria-a para nada, a deixaria ali, para no futuro olhá-la, lembrar de tudo e pensar: ainda bem que passou. Porque nada era pra sempre! Eu sei que não... Mas por enquanto, ainda dói e meu esgotamento continua. Está foda! 

A campainha tocou e eu estranhei, não estava esperando ninguém. Mesmo sem imaginar quem seria, eu fui abrir. E quando a abri, tive uma baita e infeliz surpresa. 

 - Felipe? O que você quer?
 - Vim conversar com você. - sorriu cínico. - Posso entrar?
 - Entra. - dei passagem e ele entrou. Fechei a porta em seguida. 
 - Não sei por onde começar... São muitas coisas, sabe?
 - Não tô te entendendo. - o que ele queria? 
 - Gostou de me fazer de trouxa? De me fazer de corno? - cruzou os braços, continuando com o sorriso cínico. 

Capítulo 32 - Um bom perdedor.

Dedicado à Mirella e Larissa...

Luan's POV. 

Nem tive tempo para pensar no que aconteceu comigo na hora que Felipe chegou. No dia seguinte da festa, tive que buscar Laura. Eu estava com saudades da minha filha, ficava bem com a sua companhia. Mas à tarde, ela resolveu pedir para brincar com Alice, minha afilhada. Pedir não, me azucrinar. Eu tentei convencê-la a esquecer essa ideia, porém, isso era quase impossível. Não teve outro jeito, a levei na casa de Larissa. Ela disse que não tinha nenhum problema e mesmo assim, eu ficava um pouco sem graça. 

Quando liguei para avisar que estava indo buscá-la, Larissa me avisou que tinha levado ela e Alice para a casa da Érika, para brincarem com a Eduarda. Perguntou se eu podia ir até lá e eu, obviamente, aceitei numa boa. Veria minha Tatá pessoalmente e veria como ela estava. Se já tinha terminado com Felipe, se estava marcando de fazer isso... Eu queria saber e ela não citou nada sobre esse assunto comigo. 

Entrei na casa da minha ex e futura sogra e dei de cara com Alexandre. Nos cumprimentamos e eu perguntei da minha filha. Ele falou que elas estavam no quarto da Eduarda e as chamou, mas pelo visto, elas demorariam para descer. Diferente do seu pai, eu e Alexandre sempre nos demos bem. Ficamos conversando e eu acabei observando algo que me chamou atenção. O notebook dele estava próximo e estava ligado, o navegador aberto em um site... 

Antes do aniversário da Tatá, durante minhas viagens, eu estava com meus pensamentos mais adiante. Estava pensando mais além; sim, no nosso futuro. Eu sabia que ela não tinha voltado a morar em São Paulo, era apenas uma temporada por causa do casamento. Então, obviamente, sem casamento... ela voltaria. Mas comigo, ela fica. Eu não deixaria ela voltar. Não tinha lógica! Nos casaríamos logo e moraríamos juntos, certo? Só que eu também não era burro, cego e nem incompreensível. A ligação dela com a sua família era muito forte e por isso, quando estivéssemos casados, ela tinha que ficar viajando... Com certeza aconteceria isso! Sua avó era tudo pra ela e sempre moraram juntas. Na época que namorávamos, ela queria viver lá, mas a faculdade impedia. Agora, já formada, não tinha empecilhos e eu teria muita dor de cabeça. Por isso, já pensando em resolver meus problemas, pensei em comprar uma casa lá. Sim! Então, fiz uma breve pesquisa e num momento idiota, consultei meu pai. Acabei esquecendo que ele não sabia do meu caso com Tatá e falei o nome da imobiliária que eu tinha gostado, que eu me interessei. Nós dois sempre investíamos em imóveis, por isso ele conhecia bastante o mercado. Me avisou que aquela imobiliária estava falindo, quase falida; um balde de água fria em mim. Só lamentei e já pensei em começar a pesquisar outras. Ele perguntou qual o motivo do meu interesse e adivinha? Fugi dele. Não tinha desculpa esfarrapada que coubesse! E agora, na tela do notebook do Alexandre, tinha exatamente essa imobiliária. Por quê? Será que ele trabalhava lá? Nunca me interessei à fundo na família da Tatá, nem durante período que namorávamos... E também, ela nunca falava nada. 

 - Cara, cê tá atrás de casa? Desculpa a pergunta, não quero ser intrometido. - ele apenas riu, como se eu tivesse contando uma piada. 
 - Eu atrás de casa, Luan?  
 - Uai, vai saber! - dei de ombros. - Cansou da farra e arranjou uma muié, quer casar... 
 - Não, graças a Deus, não! Ainda tenho juízo. Sou novo demais pra me prender em alguém! E também não penso em morar sozinho. 
 - Então cê num tá atrás de casa? Esse site aí, num é uma imobiliária lá de Fortaleza? 
 - É a nossa imobiliária, Luan. Eu trabalho pro meu pai, sou arquiteto. 
 - Essa imobiliária é a do seu pai? 
 - Da Dona Fátima... Mas quem cuida é meu pai. Aliás, é dele, minha, da Tatá... 
 - Nossa, a Tatá nunca comentou nada comigo.
 - A Tatá não está nem aí pra empresa. - riu. - Ela não gosta dos nossos negócios, administrar dinheiro... Quando foi começar a trabalhar, meu pai pediu que ela fosse pra lá e ela não quis de jeito nenhum. Mas, diferente dela e da tia, é muito importante pra minha vó. Foi meu vô que construiu, começou, montou... Sabe como é, né?! 
 - Sei! Eu não sabia mesmo que era de vocês. - lembrei automaticamente do que meu pai disse. - Mas, eu já tinha ouvido falar dessa imobiliária... 
 - Já?
 - Já. Eu e meu pai investimos em imóveis. 
 - Ainda atrás de mais dinheiro, Luan? Isso é impossível, cara! - brincou, me arrancando uma risadinha fraca. 
 - Posso te fazer uma pergunta? 
 - Claro.
 - Meu pai me falou que... a empresa de vocês está falindo, é verdade? Não quero ser inconveniente, mas acho que não precisamos de cerimônia e eu confesso que estou curioso. - disse sem graça. Ele suspirou parecendo chateado.
 - É complicado. Meu pai deu umas vaciladas, Luan! Grandes! Envolve muita coisa, muito dinheiro... Sim, está praticamente falida e ele não quer dar o braço a torcer.
 - Nossa, cara! E aí? 
 - E aí que eu não saio da frente da tela do notebook atrás de resolver tudo, pagar as dívidas, reerguer a empresa... Tá foda! 
 - E ele?
 - O mesmo, Luan. Tentando correr atrás do prejuízo. 
 - Mas por que vocês não pedem ajuda pro Hugo? De certa forma, pertence a esposa dele... Ele tem condições, não tem? 
 - Tem, né?! Mas meu pai é orgulhoso, não quer de jeito nenhum. Sem contar que, se ele sabe, a tia sabe... 
 - O que tem ela saber? Ela é a dona também, tem direito. 
 - Ela vai cair em cima do meu pai, por isso ele tá com medo. É muito importante pra minha vó e você sabe, ela é o grude da tia e da Tatá...
 - Se a Érika ou a Tatá sabem...
 - Dona Fátima também sabe e fode tudo. Vai ser uma decepção muito grande e você sabe que ela tem certos problemas de saúde... Eu e meu pai preferimos poupar ela, pelo menos por enquanto. Temos esperanças, mas ele está desesperado. A situação é grave! Então, por favor, não comenta nada com ninguém? 
 - Relaxa cara... Não vou falar nada! 
 - Principalmente com a minha prima, ouviu? - me olhou desconfiado. - Já sabe, se ela sabe, Fátima sabe... - eu soltei uma risada, involuntária. 
 - Por que eu comentaria com a sua prima, cara? Ela é só minha ex.
 - Vocês pensam que me enganam! 
 - Enganam em quê? - continuava rindo e, consequentemente, me entregando. 
 - Tatá vai acabar o noivado... E eu sei que com essa amizade sua com o Felipe, vocês estavam próximos! Próximos era o visível, né?! Porque pra mim tem coisa aí. Respeito muito minha prima, você sabe que ela é a irmã que eu tenho, mas... Não boto minha mão no fogo por vocês dois!
 - Ela não terminar o noivado? Por que, uai? - me fiz de desentendido. 
 - Ela disse pra tia que não vai mais ter casamento. E você acaba de me confirmar que tá rolando alguma coisa e, já sabia disso, que ela vai terminar. 
 - Eu não confirmei nada! Você que tá tentando jogar verde... Eu e sua prima, nós... - fui interrompido pela euforia de Laura e Alice, descendo as escadas. Elas correram e pularam em mim, me abraçando forte. Eu ri, enquanto continuava sob os olhares desconfiados de Alexandre. 

Saí dali e deixei as meninas em casa. Larissa agradeceu e Isabel, como sempre, eu evitei. Voltei para o apartamento sozinho e para variar, meus pensamentos foram tomados por ela. Clichê, mas fato. 

                           {...}

Acordei tarde e Marina estava arrumando tudo. Eu almocei e depois fui conversar com ela. Contei sobre Laura, Tatá... E ela me dava alguns conselhos. Contei que agora estava confiante em relação ao término do maldito noivado, e ela torceu para que eu estivesse certo. Muitas pessoas podiam não querer, mas ainda existiam poucas que desejavam nossa felicidade. 

À tarde eu tive uma surpresa! Um convite, de quem eu menos esperava: Felipe. Pensei que nossa amizade tivesse acabado e agora ele vem com essa. Qual era a dele? Movido pela curiosidade, eu aceitei. 

Infelizmente aceitei.

Não sabia o que me esperava e quando vi, nem acreditei. Não era um jantar só com ele! Na mesa havia mais duas pessoas, duas mulheres. Natacha e Tanara. Puta que pariu! Esse desgraçado simplesmente armou um encontro de casais. Dá pra acreditar? É, sim, porque ele é um cínico! Sempre me empurrou para Natacha, mas, eu sempre deixei claro que não queria nada além de sexo. Ultimamente nem sexo eu estava querendo! Estava absolutamente com Tatá. Fiel. 

Nesse jantar eu fui provocado pelo os dois lados, ao mesmo tempo. Natacha e Felipe. Natacha se jogava pra mim e eu percebia o olhar enciumado de Tatá. Já Felipe, tentava ser um 'noivo' carinhoso com ela. O que pra mim era pior. Eu não suportava ver sequer um toque e meu sangue já fervia. 

Durante o papo que somente Felipe e Natacha mantinham, eu fui percebendo o que realmente estava acontecendo. Tatá tentou, ontem, terminar com ele e o filha da puta disse que não podia. Ela tentou hoje e ele aceitou. Mas ela não sabia que eu e Natacha também estaríamos. Que ódio! 

 - Por que você tá tão caladinha? - Felipe alisou seu rosto e meus olhos acompanharam milimetricamente os seus dedos. 
 - Estou normal. - ela sorriu amarelo e tirou sua mão. Isso! Não deixa! - Quero ir embora. - parecia tão chateada quanto eu. 
 - Acabamos de comer, amor. Vamos demorar mais um pouquinho... - eu só observava. 
 - Eu quero ir embora, já falei. - disse ríspida. 
 - Bom, eu vou ao banheiro. Com licença! - Natacha levantou, com um sorriso irônico. 
 - Custa você esperar mais um pouco? - encarou ela. 
 - Custa, Felipe! Vai pedir logo a conta ou não?! 
 - Não estamos sozinhos, tem que ver se o Luan e a Natacha querem ir. - cara chato.
 - Você quer ir, Luan? - o olhar cúmplice dela foi imperceptível. 
 - Estou cansado, prefiro também. - concordei e ele torceu a boca. 
 - Tudo bem! Já que vocês preferem... Vou só esperar a Natacha. - Tatá revirou os olhos e me fuzilou com o olhar. Ela acredita mesmo que eu estava tendo algo com ela? Ou isso era só ciúmes? 

Minutos depois Natacha voltou e Felipe cumpriu o que disse, pediu a conta. Tatá suspirou aliviada, mas voltou à expressão insatisfeita quando Natacha fez uma proposta: nós irmos para o apartamento dela. Aonde ela queria chegar? Felipe aceitou na mesma hora e Tatá negou com a cabeça, fazendo Natacha começar a falar milhares de argumentos. Tatá dava desculpas e ela rebatia; estávamos numa saia justa e não teve outro jeito, fomos praticamente obrigados a ir. 

 - Eu vim de táxi, gente. - Natacha sorriu, tentando ser meiga. Tatá fez uma careta meio disfarçada, mas eu percebi. Talvez meu olhar não saísse dela e eu juro, não era de propósito. Incontrolável, inevitável. 
 - Luan veio sozinho, você vai com ele. - Felipe sugeriu, com um sorriso de segundas intenções. - Pode ser, Luan? - Tatá me encarou séria e Natacha se aproximou de mim, com um sorriso vulgar. O que eu ia dizer? 
 - Pode, uai. - passei a mão no cabelo.
 - Vamos. - Tatá disse séria e virou as costas pra mim. Ela não percebia que eu também não estava gostando, poxa? 

Os dois foram para o carro de Felipe e Natacha me acompanhou até o meu. Não esperou nem eu ligar o carro para poder abrir a boca.

 - Gostou de passar a noite me renegando? - foi sarcástica. 
 - Não reneguei você, falei a verdade. 
 - Verdade? Tem certeza? Então nunca tivemos nada?
 - Não. Só nos divertíamos.
 - Isso é nada pra você? 
 - Nosso sexo pra você significava alguma coisa a mais? 
 - Você sabe que sim! 
 - Não, não sei. Não sei também o porquê desse jantar. Não entendi, você pode me explicar? 
 - Felipe sugeriu um jantar de casais, só isso. Ele acha que o nosso lance poderia virar algo mais sério, mas você não facilita...
 - Eu não facilito, porque eu não quero. Já falei pra ele parar com isso!
 - Você gosta disso? De me humilhar? Pisar em mim e ainda espalhar pros seus amigos que me usava? 
 - Natacha, nem vem que você não é  vítima. Transas sem compromisso nunca foi problema pra você... Felipe sempre soube da gente e que eu saiba, isso não é novidade pra você. 
 - Ele, né?! A noivinha dele, não. Menina nojenta, não melhorou a cara um minuto sequer. 
 - Ela não é assim. 
 - Hum, e você sabe? Ah... Tinha esquecido que ela já foi sua namoradinha. 
 - Não tô gostando do seu tom comigo. 
 - Só achei estranho seu comportamento perto dela. 
 - Agi normal. Ela foi minha namorada, passado. Agora ela tá com o Felipe. 
 - Tem certeza? Você estava meio estranho. 
 - Sim. Estou normal.
 - Hum... - levou a mão para a minha coxa. - O Luan normal que eu conheço passaria a noite comigo, hoje vai ser assim? - foi passando a unha da minha coxa até a lateral próxima do meu amigo, se é que me entendem. 
 - Não vai ser, Natacha. - tirei sua mão imediatamente. - Estou cansado! 
 - Você nunca esteve cansado pra mim. - aproximou seu rosto. - Como você mesmo disse, vamos nos divertir mais um pouco... - sussurrou no meu ouvido e depois desceu a boca para meu pescoço, deixando vários beijos. Paciência, Luan! 
 - Natacha, eu estou dirigindo. - não podia ao menos tirar as mãos do volante para tentar afasta-la. 
 - E daí, meu gostoso? - mordeu minha barba e quase me deu um selinho, mas eu desviei. 
 - Natacha! Para! - a repreendi.
 - Você está um grosso hoje! - se afastou, cruzando os braços, emburrada. Eu suspirei e continuei concentrado na direção. 

Para a minha sorte, ela não tentou mais nada. Chegamos no seu apartamento e Tatá continuava com a cara fechada, não fazia questão de esconder o quanto estava desgostosa daquela situação. Eu estava do mesmo jeito e não imaginava o que Natacha pensou ao propor aquilo! Nos sentamos na sua sala e ela foi buscar bebida. Só quem aceitou foi Felipe, fazendo Tatá bufar mais uma vez. Eu nunca a vi assim, tão irritada... Não podia só ser pela situação, ela estava incomodada com algo a mais. Natacha sentou do meu lado no sofá e novamente, levou as mãos para a minha calça. Qual era o problema dela? Os olhos de Tatá quase pularam ao ver ela me acariciando e se falam que tudo de ruim tem um lado bom, eu afirmo que eu já achei ele. O lado bom dessa vez era vê-la morrendo de ciúmes. Ficaria feliz com aquilo se eu também não estivesse morrendo de ciúmes e cansado das suas tantas investidas. Natacha sempre foi assim, com atitude, meio vulgar... 

 - Aqui tá meio chato, né?! - Natacha pronunciou, com o tom como se tivesse a solução para aquele tédio. O que ela estava aprontando? 
 - Está! Por isso acho que já podemos ir embora. - Tatá sorriu falsa. 
 - Calma, menina. Vocês acabaram de chegar! E eu não vou convidar ninguém pro meu apartamento pra ser chato... Vamos resolver isso! - não sou o único a acha-la menina. Entretanto, acho que ela não estava gostando de escutar na voz de Natacha. 
 - Vamos resolver? Como? - Felipe sorriu animado. Esse cara é idiota? Que merda. Respira fundo, Luan. Matar é crime, lembre-se. 
 - Somos adultos, não é?! - perguntou carregando malícia.
 - Sim, somos. - a respondi, entediado. 
 - Podemos fazer uma brincadeirinha de adultos. - continuou.
 - Vai direto ao ponto, Natacha. - falei impaciente. 
 - Estamos em quatro e assim, casais, não é?! - olhou-me pervertida. 
 - Não. - não éramos um casal. 
 - Luan, você entendeu! Creio que ninguém aqui é ciumento. Você é, Tanara? 
 - Eu? Ciumenta? 
 - É, você tem ciúmes do Felipe? 
 - Não. - deu de ombros. Claro que não, ela não gosta dele, gosta de mim! 
 - Por que isso, Natacha? - Felipe riu, também sem entender qual era sua ideia. 
 - Você é ciumento, Felipe? - perguntou novamente.
 - Também não. Por quê? 
 - Ótimo! Eu e o Luan não somos um casal, como ele faz questão de dizer, então... Também não temos problema com isso.
 - Seja mais clara, Natacha! - pedi. 
 - Ai, gente. Vocês são lentos demais! Tanara, troca de lugar comigo. - levantou.
 - Mas, por quê? - Tatá questionou.
 - Anda, troca! - insistiu e assim ela fez, levantou também. Eu e Felipe acompanhamos os passos das duas, totalmente desentendidos. Tatá sentou do meu lado e Natacha do lado de Felipe. Pra quê aquilo?
 - A ideia é que a gente se divirta provando coisas novas. - piscou, pondo a mão no peitoral de Felipe. Eu e  Tatá nos entreolhamos, começando a entender... Ela não faria isso, faria? 
 - Espero que você não fique com raiva de mim, Tanara! Faz parte da brincadeira. - antes que Felipe falasse alguma coisa, ela o impediu com um beijo na boca. Eu e Tatá, juntamente, arregalamos os olhos, sem reação. Felipe também parecia surpreso, mas retribuiu. 
 - O que é isso, Natacha? - perguntei surpreso, enquanto Tatá continuava boquiaberta, com certeza sem palavras. Ela encerrou o beijo e Felipe olhou para Tatá já tentando explicar que era inocente. 
 - A brincadeira, Luan! - riu. 
 - Natacha, você é louca? - Felipe levantou, mas parecia ter gostado. 
 - Não. - dei de ombros. - Não topam? Eu fico com você e a Tanara fica com o Luan. - disse simples. - Sério que vocês têm problema com isso? Pensei que fossem adultos confiantes, maduros, gostassem de se divertir... - provocou. 
 - Por mim... Tudo bem! - Felipe concordou, sentando. O quê? Ele ia fazer isso com a própria noiva?
 - Tudo bem, Felipe? - ergui as sobrancelhas. 
 - Tudo... E pra você, Tatá? - perguntou descarado. Babaca! Olhei para Tatá e fui capaz de decifrar seu olhar decepcionado. 
 - Tudo. - respondeu baixo, me deixando com mais raiva desse filha da puta. Como ele pode desrespeita-la assim? 
 - Então, andem vocês dois... - Natacha incentivou. - É a vez de vocês! - sorriu maliciosa. 
 - Eu não vou fazer isso. - protestei. 
 - Por que não, Lu? Seu amigo já concordou, Tanara também... Não é, Felipe? Alguns beijos não matam ninguém. 
 - É, cara. Tá de boa! - respondeu estranho, me fazendo rir desacreditado. Tatá estava completamente sem graça e eu também estava ficando. Lhe lancei um olhar receoso e ela simplesmente desviou. 
 - Tá esperando o quê, Luan? Não precisa de vergonha. - Natacha pressionava. Os dois nos olhavam atentos, esperando, ansiosos. Engoli seco, constrangido. Queria saber se Tatá concordava com isso, em me beijar ali, na frente desse imbecil. Eu estava achando um absurdo, mas, ao vê-lá tão quietinha, sem graça, fui impulsionado pela raiva e nos aproximei. Iria beija-lá, sim, apesar de tudo! Só para eles se arrependerem dessa brincadeira idiota, para disfarçar sua decepção, sua tristeza e constrangimento. Beija-la ali, na frente deles, mostraria o meu amor. Em breve, assumido. A acolheria, mostraria o que é um homem de verdade. Lhe protegeria, deixaria claro que se fosse eu, jamais a faria passar por isso. E todos esses pensamentos foram me impulsando, foram aproximando nossos rostos... quando percebi, nossos lábios já estavam colados. Queria relaxa-la, passar a sensação de estar tudo bem... só por ela ter a mim; convencê-la que aquilo não era nada porque ele não a merecia, porque ele é um babaca, porque ele não merecia ela, porque ele ia ser somente seu passado, porque eu a amava de verdade. Eu a respeitava. Sempre a respeitei e sempre a respeitaria. Porque nosso sentimento era sério e respeito era a base dele, de tudo. Natacha e Felipe não eram capazes de sentir isso, algo sincero, forte e intenso. 

Peguei em seus cabelos e aprofundei o beijo, tentando fazer tudo com o máximo de carinho. Aos poucos, somente pelas nossas línguas ligadas, senti ela se entregando e se livrando da tensão. Esquecemos que não estávamos sozinhos e já aproveitávamos aquele momento, nosso beijo, o melhor. Mesmo envolvidos, gostando, entregues, fomos capazes de ouvir Felipe coçar a garganta, como se quisesse nos atrapalhar. Fui encerrando aos poucos e quando abri os olhos e virei-me, tive a imagem perfeita para a minha raiva: Felipe e Natacha com a maior cara de merda.

 - Viu?! Não foi tão difícil. Acho até que foi melhor que o da gente.
 - É, foi sim. - Felipe disse com a cara séria. - Bem melhor! - eu passei a mão nos cabelos, tentando segurar minha risada. Perceberam o nosso amor? Que bom. Tatá continuava sem graça, mas com a expressão melhorada. 
 - Mas, não vamos nos importar com isso. - Natacha levantou e pegou na mão de Felipe, o puxando. - Sem ciúmes, Felipe! Você concordou, agora não reclame. Deixa eles aí, aproveitando, enquanto nós vamos fazer o mesmo no meu quarto. - novamente ela mais foi rápida que qualquer pronúncia dele e o arrastou para o quarto. 

 - Eu só fiz isso pra ele quebrar a cara. - sussurrei. - Idiota! - levantei. Ela permanecia calada. 
 - Você viu o que aconteceu aqui, Tanara? Ele não te respeita. - bufei. 
 - Eu sei. - balbuciou. - Eu ia terminar com ele, nesse jantar, não sabia que você e a Natacha também estariam. 
 - Sim, eu percebi. Ele é um babaca.
 - Ele só foge de mim. Não me deixa terminar! 
 - Seu casamento é em março. - falávamos baixo. Eles estavam distraídos com outra coisa, mas ainda sim corríamos o risco de escutarem. - Tá tudo pronto, não é?! - perguntei triste. - Se passaram meses e você não resolveu nada. - suspirei pesado. 
 - Eu amo você, para com isso! 
 - Me ama, mas vai casar. Janeiro está acabando, seu casamento tá chegando... Vai casar com alguém que ficou com outra na sua frente! Uma falta de respeito. Ele não te ama! 
 - Não vai ter casamento. 
 - Você me usou por tanto tempo e eu fui deixando passar, só pra me iludir. - minha ficha estava caindo e estava doendo. - Tanara, se você casar, eu nunca mais olho na sua cara. Escutou? Eu te esqueço, de uma vez por todas! Eu tô falando sério! Nunca mais olho na sua cara. - encarei-a. 
 - Eu não vou casar, já falei! Eu te amo, quero ficar com você.
 - Seus "eu te amo" saem sem firmeza, Tanara. Sem sinceridade! Por quê?
 - Não acredita no meu amor? 
 - Suas atitudes tornam ele duvidoso.
 - Eu te amo de verdade, não preciso mentir pra você.
 - Então prova. - cruzei os braços.
 - Mais do que eu já provei?
 - Prova que me ama. Chama eles aqui, agora, e fala da gente! Acaba com ele! - continuei firme. Aquilo era muito sério! Ela não me enganaria mais uma vez. - Prova o seu amor por mim agora, Tanara! - ela parecia estar travada. - Você disse que foi nesse jantar disposta a por um fim em tudo! Eles já viram a gente se beijando, já entenderam tudo! Eles não são burros, Tanara! - começava a sentir o desespero tomar conta de mim, por causa do seu silêncio. - Seja uma empata foda, você está acostumada. Chama ele aqui e termina tudo. Ele não vai fazer nada com você, eu tô aqui. - prossegui e ela continuava intacta. Não falava nada, apenas encarava o chão. - Anda, Tanara! Agora! 
 - Eu não posso. - vi uma lágrima escorrendo pelo o seu rosto e suas simples palavras foram capazes de me desmoronar.
 - Por que não? - engoli seco, sentindo meu coração se despedaçar. Ela não podia fazer isso comigo... 
 - Eu não consigo. - respondeu baixo, já chorando. Meus ombros caíram e toda minha marra, minha firmeza, foram embora. Eu não podia mais insistir, era muita humilhação. Já fiz de tudo pela gente, eu não podia obriga-lá, não podia gostar por nós dois. Se ela não conseguia, ela devia ter algum motivo. Talvez gostasse dele. Amasse. Não sei. Só sei que eu fiquei olhando-a, começando a enxergar tudo que sempre esteve na minha frente. Eu fui usado, eu me deixei ser usado. Eu fui um trouxa, que ela usou e abusou. Ela não gosta de ninguém, gostava de usar os dois otários que tinha sempre à disposição! Por que me iludiu tanto? Será vingança pelo o passado? Mas não tinha me perdoado? Eu não entendia, mas me restava aceitar. 

 - É, você provou mesmo seu amor por mim. Muito obrigado, Tanara! Fica com ele, sejam felizes. Esquece de tudo que já vivemos nesses meses, no passado... Tudo! Acabou! Cansei de ser trouxa! Se você não me ama, não posso fazer nada; não vou ficar sendo seu brinquedinho! Eu cansei e tô pondo um fim nessa merda. Espero que... até nunca mais! - falei, vendo-a chorar e sentindo um turbilhão de sentimentos, de sensações. Eu nunca estive tão mal e só consegui reagir assim. Era definitivo. Saí batendo a porta, querendo apenas ficar sozinho. Desconsolado, desenganado, desiludido, destruído. 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Capítulo 31

Tanara's POV. 

O meu aniversário chegou e infelizmente, a maioria das pessoas especiais estavam longe. Minha família em Fortaleza, minhas amigas no Rio de Janeiro, Ana fora do Brasil, meu amor viajando... Mas não todos! Minha família de São Paulo estava ali comigo e tinha dado um jeito de me animar. Me acordaram com bolo e balões, cantando músicas de aniversário e me fazendo rir muito. Abracei, agradeci e tomei café da manhã com eles entre risadas. Meu 'irmão' estava ali também, com Larissa e Alice. Depois, foram me entregando os presentes, o que eu adorava. O dia se passou assim, só alegria! Enquanto no celular, eu recebia milhares de mensagens e demonstrações de carinho, que me deixava mais boba ainda. De tardezinha, Gabriel e Larissa tiveram que ir embora com Alice e minha mãe me convidou para ir no shopping. Eu aceitei prontamente, estava sem nada para fazer. Fomos eu, ela e Dudinha. Saímos de casa 17h00 e não tínhamos pressa para voltar. Podíamos bater perna à vontade! 

 - Alô. 
 - Como está sendo o dia da aniversariante mais linda? - era ele, meu amor. 
 - Oi, Loli. - me derreti. 
 - Oi, meu amor. - ele riu fraco. 
 - Hum, a mais linda? Você deve falar isso para todas! - brinquei, o fazendo rir mais uma vez. 
 - Você é a única, garanto. 
 - Tô no shopping, amor. Com a minha mãe e a Eduarda. 
 - E não vai ter festinha? 
 - Não. - ri. 
 - Mas já recebeu muitos presentes?
 - Olha, sabe que já? Amei todos. 
 - Mas vai amar mais o meu. - se gabou. 
 - Ah, vou?
 - Vai! Porque eu sou maravilhoso até nisso.
 - Nada convencido, né?! 
 - Depois não diga que eu não avisei. Tatá, o Marquinhos falou com você? 
 - Não! - suspirei chateada. 
 - Sério? 
 - Sim. - assenti. - Até a Bruna já falou, Loli. Pra você ver! Ele deve ter ficado com raiva de verdade... 
 - Eu acho que não! Ele vai falar com você, ainda está cedo.
 - Amor, não precisa tentar me iludir. Se ele não falou até agora, não vai falar mais. E eu entendo ele! 
 - Ocê tá tirando conclusões precipitadas. 
 - Não tô! - me defendi.
 - Vou ter que desligar! Mais tarde a gente se fala, pode ser?
 - Pode, amor.
 - Beijo na boca, aproveita aí! - desligou, me deixando com um sorriso idiota nos lábios. Me aproximei da minha mãe e ela perguntou quem era, eu apenas inventei uma desculpa qualquer. 


                           {...} 


 - Nem vimos a hora passar! - comentei com a minha mãe, enquanto descíamos do carro. 
 - Você se divertiu?
 - Claro que sim! - sorri. 
 - Então eu estou satisfeita! - sorriu também, me fazendo notar a mãe maravilhosa que eu tinha. 
 - Eu tô com fome! - Eduarda resmungou. 
 - Duda, você comeu mais que nós duas juntas desde a hora que chegou e já tá com fome? - perguntei assustada com o apetite daquela menina e ela simplesmente deu os ombros, como se fosse normal. Não era normal, era? 

Minha mãe me passou a chave e mandou eu ir abrindo enquanto ela procurava algo que eu não entendi, mas abri, e então, estava tudo escuro. Eduarda falava atrás de mim. 

- Espera que eu vou procurar a luz. - disse rindo e batendo no interruptor, sendo surpreendida logo em seguida.  
Várias pessoas gritaram em coro: SURPRESA! Nesse momento caiu a minha ficha, era uma festa surpresa. Meus olhos brilharam e eu fiquei mais do que contente. Tinha minhas amigas, amigas da faculdade, meu primo, Micaella, Marquinhos, pessoas mais próximas e a família do meu Loli: Bruna, Marizete e Amarildo. Fiquei muito feliz com os parabéns, presentes e todos ali por mim. Abracei todos, estava encantada com todo aquele carinho. Marquinhos se aproximou meio sem graça, mas logo explicou que não falou comigo antes com esse propósito: eu ficar chateada e ser tudo uma grande surpresa. Bruna do mesmo jeito, me abraçou sem jeito e me entregou o presente. Diferente da filha, seus pais foram mais calorosos. Seu Amarildo me abraçou, beijou minha testa e disse palavras bonitas. Tia Zete então, foi um amor. Eu estava muito emocionada e grata com tudo aquilo, só sabia agradecer e agradecer. 

Quase uma hora depois, quando eu estava distraída conversando com Marquinhos, fui surpreendida mais uma vez. 

L u a n. 

Estava de costas, quando senti seu toque na minha cintura. Apertou suavemente e disse um oi beirando um sussurro. Abri um sorriso automaticamente, me virando e quase pulando sobre seu pescoço, num abraço delicioso. Era tão bom ter ele ali, abraçá-lo no meu aniversário. 

O ápice da minha felicidade foi naquele   momento e senti meu mundo todo em minhas mãos. Marquinhos entendeu e saiu de fininho, nos deixando sozinhos.

- 23 anos da minha menina, está crescendo hein? Ou não! - deu uma risada gostosa bem no meu ouvido que me fez ficar ainda mais encantada. 
- Você disse que estava viajando, seu cretino! - tentei um bico no meio do meu enorme sorriso. 
- Fazia parte, minha Pikitinha! - riu. 
- Me fez de boba, Luan Rafael! Eu acreditei, poxa. Te odeio! - cerrei meus olhos em cima dos seus. 
- Tenho um presente pra você, posso levar embora já que me odeia? - disse divertido. 
- Não! - ergui as sobrancelhas com um ar superior e ele me estendeu uma sacola linda e clássica, preta com um laço amarelo.

Abri e havia dentro um saquinho de veludo, de jóia mesmo; eu olhei e ele pegou da minha mão e abriu o saquinho, tirando uma pulseira linda, mas tão chique que me deixou um pouco assustada.  
- Luan, seu louco! - olhei boquiaberta, um pouco sem reação, enquanto ele tirava o fecho e colocava no meu braço.  

Ela era um pouco grossa, de ouro branco, e claramente diamantes e rubis incrustados, em círculos compostos de quadradinhos, desenhada perfeitamente com uma pedra sobre cada um deles. Uma delicadeza imensa, e com certeza, valia uma fortuna! Podia arriscar conhecendo um pouco de jóias, que possivelmente seria quase um preço de um carro. 

Fiquei encantada, porque aquilo não demostrava só o valor, mas o quanto ele gostava de mim. Abri um sorriso enorme pra ele, pulando em seu pescoço de novo. 
- Como eu imaginava, ficou linda em você. - sussurrou no meu ouvido, com uma voz rouca, me causando arrepios. 
- Você é louco! - fechei e reprimi meus olhos, querendo sentir só a sensação de ter seu corpo colado no meu naquele momento tão mágico. E lindo, nosso. - Obrigado meu amor! É tão linda! - olhei meu pulso, eu nunca estive tão deslumbrada. 

Ele riu na minha orelha e então me dei conta de que todos nos olhavam. Luan Santana numa festa chamava a atenção, com toda a certeza. 
Me afastei um pouco, e ele também, já que ficou super sem graça quando percebeu. Notei todos olhando meu braço de boca aberta, e aquilo me deixou mais sem graça ainda. Porém,  pra minha salvação, eu tinha amigas maravilhosas. Sim, é claro que elas me salvariam daquele momento constrangedor! Carolina e Cristina vieram até nós dois, com a mesma cara de todos, mas engoliram o comentário e cumprimentaram ele, já o conhecendo. Depois que elas saíram me lançando olhares intrigados, eu peguei na mão dele e o chamei pra dançar, ainda sentindo as pessoas cochichando, comentando (claramente sobre a gente), pelas nossas costas.
- Vamos tirar uma foto antes! - ele pediu sorrindo lindamente e logicamente eu assenti. Estava transbordando de alegria, como é bom tê-lo pertinho de mim! 
- Vamos! - concordei animada. 

Ele pegou o celular e eu peguei, com toda a intimidade que tínhamos. 

 - Mas como você é metida, sua anã! - implicou e eu simplesmente dei de ombros. 

Estiquei o celular e ele se inclinou para deixar nossos rostos colados. Fez a maior cara de safado e eu tirei uma, duas foto. Devolvi o celular, já o puxando para dançar a música animada que tocava. Muitos estavam dançando, o que há de mal nisso? Não, eu sei, assumo que estávamos sendo atrevidos, mas... E daí? Estávamos tão confortáveis, tão felizes, definitivamente não era hora de nos preocuparmos com a opinião dos outros. Nos entrosamos sob o ritmo da música e foi bem legal, leve... Nos divertimos muito, mesmo sendo observados o tempo todo. Era meio chato, mas tentei não ligar. E, só cai em mim, quando vi o olhar de Luan sobre meu ombro, junto de uma expressão insatisfeita, popularmente: cara feia. Antes de conseguir virar pra ver do que se tratava, o que ele havia olhado para ficar tão incomodado, senti um toque na minha cintura e virei assustada, dando de cara com o Felipe.  

Não, não, não! Por que, meu Deus? 

- Oi meu amor. - falou me olhando. - Seu noivo já chegou, agora Luan já pode ir pro lugar dele, não é?! - disse estendendo a mão pro amigo, tentando um ar de brincadeira (que não deu certo). Luan apertou com a cara mais feia do mundo. Às vezes ele não sabia disfarçar! 

Como eu não vi ele chegar? Como ele entrou? Ele não estava viajando? 
Me afastei um pouco de Luan, devido à situação, e Felipe me abraçou. 

- Parabéns meu amor! - logo que me soltou, estendeu um presente. Eu ainda sentia a presença de Luan. 
- Obrigada, Fê! - disse sem graça, tentando disfarçar o que tinha acontecido ali e abrindo e encontrando uma caixa de perfume... que eu não gostava. 
- Achei que você fosse gostar! Eu vou adorar sentir ele em você. - disse pegando no meu cabelo . 
- Obrigada. - me afastei um pouco, ainda sem graça pelo o clima.

Luan's POV. 

Estava encantado com ela dançando. Realizado, até esqueci que eu não era seu namorado. Sentia os olhares das pessoas sobre a gente, nossos pais preocupados. Mas eu não liguei nem por um segundo, praticamente assumi ali o quanto amava-a. Mas quando vi Felipe vindo na nossa direção, foi como se tudo fosse por água a baixo. Comecei a sentir um medo enorme dela fazer a mesma coisa que fez no casamento do Sorocaba. Ele foi mega irônico e respirei fundo para não matá-lo ali mesmo. Enchi meu peito de ego quando, ali ainda, vi que ela não gostou do presente dele. Mas quando ele tocou em seus cabelos, meu sangue ferveu; tudo que eu queria era mandar ele tirar as mãos dela. Meu coração batia forte, e eu saí dali, para não acabar não me controlando. Comecei a me sentir sufocado, precisava de ar, respirar. Minha cabeça começou a viajar em segundos. Ele falava com ela, e eu via, e me sentia cada vez mais sufocado e nervoso, desesperado, por ela fazer aquilo de novo comigo. O medo ia crescendo, e começou a me faltar ar; então, assustado, eu subi pro segundo andar, entrando no quarto dela e procurando a janela. Minhas pernas ficaram bambas, e eu só queria que eles não se beijassem na minha frente. Estava tão envolvido que não suportaria mais aquilo. Perdi totalmente o controle de mim. Minhas mãos formigavam de nervoso, então abri tudo que eu podia e sentei na cama dela. Senti uma lágrima descer pelo meu rosto e não estava entendendo aquilo, estava passando mal de verdade?

Depois que me toquei que estava no quarto dela e o medo aumentou só de pensar que eles poderiam entrar ali se beijando. Eu conseguia imaginar a cena, tinha algo errado comigo, um desespero enorme. Mal conseguia calcular o tempo, mas quando imaginei que fazia uns 8 minutos, a porta se abriu. Meus olhos arregalaram na direção dela e achei Tanara entrando correndo, mas tudo girava lentamente. Comecei a chorar, sem saber o que estava sentindo, e logo senti sua mãos geladas em mim. Ou eu estava gelado. O choque foi tanto que eu olhava pra ela e puxei meu braço da sua mão. 
- O que está acontecendo com você? - ela me olhava assustada e sua voz estava ficando próxima e nítida, devagar, enquanto ela me chamava pelo nome. 
- Tatá! - abracei ela bem forte. 
- Você está tremendo, Luan! - ela disse sussurrando.
- Tatá, você não vai fazer de novo, não é?! 
- Fazer o quê? - ela perguntou, se sentando ao meu lado e puxando meus cabelos para trás. 
- Não deixa ele te beijar. - puxei ela num abraço de novo. 
- Luan, você está me assustando, acho que preciso te levar num médico. 
- Você me prometeu que ia terminar com ele assim que ele chegasse... 
- Estou vendo ele agora. Você não quer que eu termine em plena minha festa, né?! Amanhã, eu juro pra você, que eu termino! Eu te amo, deixa de bobagem. Ele não é nada pra mim! - ela passava as mãos pelo meu rosto, e aos pouco, a sua presença me acalmava.
- Está passando. 
- Está mais calmo? - perguntou beijando meu rosto. - O quê aconteceu? Você ainda está tremendo. 
- Não sei. - puxei minha mão, com medo dela perceber que eu estava pirando. 
- Termina com ele, por favor?
- É meu aniversário! Mais um do seu lado, amor, não estraga. Não deixa ele estragar! 
- Se você não terminar com ele, eu vou ter que terminar com você. Eu não quero terminar com você, eu te amo. Muito.
- Vou terminar amanhã, meu amor! Confia em mim! - ela me abraçou bem forte e fui sentindo conforto, segurança. 

Ficamos ali mais uns dois minutos, e da maneira que aquilo veio, foi embora, mas me deixou muito assustado. Queria sair correndo e pensar naquela reação, mas eu não podia ir e deixar Tatá ali, com aquele filha da puta. 

- Eu te amo, entende? - ela perguntou, me olhando nos olhos. 
- Eu sei, eu sei que sim! - meu aproximei de seus lábios e selei eles. - Eu não sei o que aconteceu. 
- Passou, não é? 
- Passou. - disse tentando me ajeitar. Estava até suado. 
- Se arruma e vamos descer, vão cantar parabéns... - ela sorriu acariciando meu rosto. 
- Eu vou, vamos. - me levantei. 
- Quer que eu te espere? 
- Lá fora, me espera na porta.  
Ela me deu um beijo e saiu, fechando a porta; então entrei em seu banheiro e lavei meu rosto. 

- Meu Deus, o que aconteceu comigo? - falei sozinho. 

Precisa ficar alguns segundos sozinho, e foi bom, respirar. Lavei o rosto, arrumei o cabelo e encontrei Tatá na porta. 
- Pronto? 
- Sim. - sorri fraco e peguei ela num abraço. - Vamos descer, pequena!

Fomos descendo as escadas de mãos dadas, mas parei logo no começo. Me deu um alerta na hora, e eu já me toquei que estava errado, não podia expor nós dois. 

- Tatá, fica aqui... Eu desço primeiro! Até amanhã, nós temos que fingir que nada está acontecendo. 
- Tudo bem. - ela sorriu de canto e me abraçou de novo. - Você está mesmo bem? 
- Sim, estou. Desculpa se te assustei. 
- Eu te amo. - ela me deu o último beijo e desceu.

Encontrei logo de cara Felipe conversando animado com meu pai. Pelo menos ele estava distraído e não percebeu o nosso sumiço. Me aproximei da minha mãe e em minutos, observei Tatá descer. Fomos para perto do bolo e cantamos os parabéns. Ela estava toda feliz e apesar de tudo, eu amava vê-la assim. Sentia seus olhares felizes voltados pra mim. Ela não fez o que fez no casamento do Sorocaba, felizmente. Depois daquele ritual, notaram "um cantor" ali e claro, queriam usufruir, aproveitar a situação. Esse cantor no caso era eu e eu aceitei numa boa, seria bom para me distrair. Não pediram músicas específicas e eu mesmo que fiquei responsável pelo repertório. Não demorei para começar. 

Só queria mais um pouco desse sentimento louco
De acordar de madrugada pra fazer de novo
E se isso for pecado, quem vai nos julgar?
Quem nunca amou nunca vai entender
Essa loucura que eu sinto por você
Só sei que é bom demais, é bom demais

Mas quando te vejo com ele
A minha mão gela
Minha boca vai secando eu vou ficando mudo
Ô meu Deus me ajuda, o que é que eu vou fazer? 
Eu sei que tá com ele pra manter as aparências
Mas nas suas horas de carência você vem me ver

E a gente faz amor
Me diz que sou o seu amor
E vai embora antes do dia amanhecer
Eu sei que é errado e quem vai entender
Você é casada e eu não quero perder
Eu sei tá com ele mas amo você
Você e ele não tem nada a ver
Sou mais eu e você

Terminei e todos aplaudiram, menos Tatá e minha família que tinham olhares arregalados. Eu sorri, normal. Não estava mais nem aí e ia, sim, soltar minhas indiretas. Nem que fosse através de melodias. 

Tira essa paixão da cabeça

Tira essa tristeza do olhar

Já não faz sentido essa busca

Já não vale a pena chorar

Tempo perdido, amor bandido que ele te fez

Final da história, você sem rumo mais uma vez
E como o rio busca o mar você vem me procurar

E encontra em meu peito esse amor que ele não quis te dar

Então viaja no meu corpo, sem medo de ser feliz

E eu te dou meu amor, faço amor como nunca fiz
Perco a cabeça, me queimo em seu fogo

Eu sem juízo, faço o seu jogo

Sou seu brinquedo, o seu presente que caiu do céu

Faço de tudo pra te agradar
Dorme em meus braços te faço sonhar

Mas nem amanheceu você já me esqueceu

Mais uma vez você vai, leva um pedaço de mim

Mais uma vez vou ficar te esperando aqui

Estavam todos animados, gostando e eu só conseguia sorrir vendo Tatá sorrir e sussurrar um "louco", balançando a cabeça negativamente. Estava sendo ousado e estava me sentindo bem. Então continuei!

Você vive me procurando nele

E hoje está com ele

Sua cabeça está em outro lugar

Até o seu sorriso é de mentira

Olha que ironia, você tá querendo me comparar

Quer ensinar pra ele o que aprendeu comigo

O gosto pela roupa, a cor do vestido
Duvido que ele foi além do que a gente foi

Eu fico imaginando vocês dois, mas eu duvido

Duvido que ele te amou mais do que eu te amei
Ele também usa preto

Tem os meus defeitos

Gosta de cabelo cacheado

Sei que ele quer ser eu

Ele é quase eu

Mas não é ele quem você quer ter do lado
Ele também usa preto

Tem os meus defeitos

Gosta de cabelo cacheado

Ele nunca vai ser eu

Não deixa ele saber

Que ainda ama o seu passado

Felipe me encarou, como se soubesse que era um recado pra ele. E falando em recado...

Sente o meu perfume aqui

Sei que esse cheiro te lembra de tanta coisa

Os amores que virão depois

Não conseguirão superar nós dois

Você roda roda e para em mim

Sou o seu princípio meio e fim
Como tatuagem que se faz

Cobrir você pode, apagar jamais
E passe o tempo que passar

O nosso amor renascerá

Como flor na primavera
E aqui vai meu recado, pro seu novo namorado

Está vivendo uma mentira
Quando ela ama você, é a mim que está amando

Quando ela beija você, é a mim que está beijando

Ela não pensa em você, é em mim que está pensando

Ela nunca me esqueceu, o amor dela sou eu

Percebia celulares gravando aquele show pocket e não me importava. Aquela música parecia ter sido feita sob medida para aquela situação, e por mim. Mas não foi. Foi só uma coincidência, que recheou a brincadeira que eu estava fazendo com o meu grande amigo. Ele parecia bastante incomodado e eu tinha vontade de rir, me sentia bem mais leve. Ela não estava tão próxima dele, o que me aliviava ainda mais. Pediam mais e eu, só atendia os pedidos. 

Retoque o batom

Volta pra sala sem ninguém perceber
Disfarça o sorriso que eu deixei em você

Não foi por acaso acontecer
Guarde o que é bom

E não se culpe pelo o que aconteceu

Se teve amor então tudo valeu

Ele que me desculpe mas sou eu
Mas sou eu

Mas sou eu quem te faz feliz...
Sua alma diz, como duvidar

Se a razão te carregar pra ele

Mas seu coração sempre te faz voltar pra mim

A festa continuou e eu estava firme em só ir embora depois que ele fosse. É assim fiz. Mas não saiu como eu planejava, fomos nós três: eu, ele e Marquinhos. Quando cheguei em casa, ainda atrevido, olhei a foto que tínhamos tirado e completamente apaixonado por ele, não pensei duas vezes antes de posta-la. 

luansantana Feliz aniversário, Pikitinha! ❤️ @tataccioly 
Tanara's POV.

Felipe chegou e Luan novamente, se transformou. Mas eu consegui acalma-lo e a festa continuou normalmente. Ele até cantou algumas músicas, que tinham letras no mínimo muito parecidas com a nossa situação. Eu estava desacreditada com aquela sua atitude e ele estava empolgado, parecia se divertir com o olhar sério e desentendido de Felipe. Ironicamente, eles foram embora juntos e depois, quando fiquei a sós com as minhas amigas, elas me bombardearam de perguntas. Eu expliquei tudo, conversamos a noite toda. E durante nossos assuntos, a promessa que eu tinha feito a Luan rodava na minha mente. Não tinha mais jeito, não tinha mais por onde correr, eu tinha que acabar com aquilo imediatamente! Tentei cumprir. Liguei para Felipe e tentei marcar um jantar, mesmo com as minhas amigas hospedadas na minha casa. Ele negou, disse que estava ocupado. Ok, tudo bem! Eu não comentei nada com Luan. Passei o dia fora com as meninas e quando voltei, fui avisada que ele tinha vindo aqui, na casa da minha mãe. Por quê? Alexandre disse que o recepcionou e explicou: ele foi buscar Laura que tinha ido brincar com Alice e Eduarda, levadas por Larissa. Então ela estava com o pai? 

No dia seguinte, eu insisti no jantar com Felipe e dessa vez, ele aceitou. Novamente escondi de Luan, não queria criar expectativas nele. Queria procurá-lo quando fosse pra falar: acabou, meu amor. E isso não demoraria! Fiquei nervosa em todo o tempo que antecedia o tal jantar e minhas amigas tentavam me acalmar. Não adiantou muito, mas eu agradeci o apoio delas. Agora Carolina também sabia de tudo, mas não tinha mais importância, já estava chegando ao fim. Na hora marcada, me arrumei e fui buscada em casa. Ele me elogiou e eu agradeci timidamente. Tentava puxar papo falando da viagem e eu só assentia, com um sorriso mais que amarelo. Não deixei que ele me desse um beijo sequer ou até mesmo pegasse em minha mão, fizesse um carinho. Eu tinha que ser forte, firme. 

Chegamos no restaurante e eu entrei calada, enquanto ele parecia entusiasmado. Nem imaginava o motivo daquilo... Foi me guinando para uma mesa, até então deduzi ser nossa, certo?! Não. Tinha uma mulher! Eu conhecia aquela mulher. Era Natacha, a amiguinha de Luan. Que coincidência chata. Então não era nossa mesa, só que ele parou ali e a cumprimentou. Eu não podia ser mal educada e fiz o mesmo. Não íamos sentar com ela, íamos? Íamos! Ele sentou e consequentemente, tive que sentar também. 

 - Felipe, eu pensei que nós jantaríamos a sós. - disse com um sorriso sem graça. 
 - Relaxa, amor. Vamos deixar o romantismo para outra hora! - ele sorriu animado, como se tivesse algo de especial para acontecer.  Natacha mantinha o mesmo sorriso de Felipe e eu não estava entendendo mais nada. 

 - Não gostou, né Tanara?! - ela perguntou, com um olhar superior.
 - Não entendi sua pergunta. - sorri falsa.
 - Não gostou de me ver aqui! Preferia só vocês dois...
 - É claro que ela preferia. Ela é romântica, Natacha. Olha como eu sou sortudo! Linda, inteligente, carinhosa e romântica. 
 - Como você é apaixonado, Felipe. - riram e eu continuava sem entender nada. 
 - Já podemos pedir? - perguntei. Queria comer e ir embora logo. 
 - Não. Estamos esperando um amigo da Natacha! 
 - Um amiguinho meu. - piscou. Que tipinho vulgar! - Ele já está chegando, não se preocupe. - olhei desentendida para Felipe e ele sorriu pra mim, pra variar. Que raiva! 
 - Um jantar de casais, meu amor. Prometo que você vai gostar! - pegou minha mão e beijou-a. Os dois engataram uma conversa e eu fiquei só escutando, com um sorriso amarelo estampado no rosto à todo momento. 
  - Ele vai demorar muito? Eu estou com fome! - reclamei, impaciente. 
 - Olha, ele chegou! - ela sorriu de orelha a orelha olhando numa direção. Eu e Felipe também olhamos e puta que pariu, meu coração deu um solavanco, o amiguinho dela era o Luan? Nossos olhares se cruzaram e ele pareceu tão assustado quanto eu. Mas foi se aproximando, devagarinho... 
 - Luan! - Felipe levantou, para cumprimentá-lo. Eles trocaram um abraço típico de homens e com certeza, cheio de falsidade. 
 - E aí, cara. - Luan respondeu sem graça. Eu não conseguia dizer nada. - Oi, Tatá. - disse com um sorriso pequeno e eu me levantei. Nos abraçamos e ele deixou um beijo no meu rosto. 
 - E aí, Nat. - ele disse seco e o sorriso dela se desfez quando ele sentou sem nem se aproximar dela. Bem feito! Por dentro eu estava de rindo daquela cena, mas ainda sim sem entender. 
 - Você disse que era um jantar mas não disse que teria mulheres. - Luan disse desconfiado. Ele não sabia? Qual o propósito disso? 
 - Eu também não sabia! - encarei Felipe, que pareceu um pouco sem graça, mas logo retomou o sorrisinho que estava me irritando. 
 - Um encontro de casais, amor. - disse cínico. Mas, Natacha e Luan não eram um casal. Eram? Ótimo momento para você ter ciúmes, Tanara. 
 - Casais? Uai. - Luan riu sem jeito. 
 - Você é tão lerdo, Luan. - Natacha riu com malícia e aproximou as cadeiras dos dois. Vaca! Eu não acredito! Eles fizeram isso pra aproximar ela do Luan. Meu sangue já fervia só por vê-la com aquele sorriso vulgar, jogada pra ele. Isso não daria certo! 
 - Entendeu agora, amor? - Felipe pôs uma mecha do meu cabelo para trás da minha orelha e vi Luan ficar sério, como eu. - Luan e Natacha falam que são amigos, mas é uma amizade colorida, sabe? Eles se pegam. 
 - Eu não sabia. - sorri cínica para Luan e ele me olhava como se negasse tudo aquilo. Cachorro. Lembrei do dia em que eu e Felipe fomos jantar na casa dos seus pais e essa ruiva ridícula estava lá, com ele. Eles pararam de ficar depois daí, certo? Certo, ele estava ficando comigo e nunca se quer citou o nome dela. 
 - Agora você sabe! Não seja tão ingênua. - beijou meu rosto, pronto para descer pro pescoço, só que eu o empurrei. 
 - Mas ela é a mais novinha, Felipe. É normal que seja. - aquela vadia falou, conseguindo me irritar ainda mais. Vadia é forte, não é?! Acreditam em ódio à primeira vista? Eu agora acredito. 
 - Você tem quantos anos, Natacha? 
 - Sou da idade dos meninos. Quatro anos mais velha que você! - respondeu com um sorrisinho, que foi devolvido.
 - É, sou a mais nova. Mas, não necessariamente preciso ser ingênua. Apesar de que eu acho isso bem bonito, uma qualidade. - retruquei, com um sorrisinho irônico.  
 - Somos só amigos, Felipe. Você se equivocou, cara. - Luan falou, visivelmente incomodado, insatisfeito. 
 - Vai negar o que a gente tem agora, Lu? - Natacha alisou seu rosto, da forma mais mal intencionada do mundo. Tinha, sua vadia! Meus olhos arregalados encarando aquela cena não conseguiam voltar ao normal, eu não conseguia disfarçar minha raiva e simplesmente bufei. Felipe me olhava atento, como se analisasse minhas reações. O que ele queria, afinal? 
 - Não aja assim com ela, parceiro. Assume de uma vez, está tornando a situação constrangedora. - Felipe se referiu à Luan, que o fuzilou. Que ódio. 
 - Assumir o quê, cara? - riu, tirando as mãos dela dali. - Eu e a Natacha somos amigos. Só amigos! - disse firme, me olhando. 
 - Beleza, vou fingir que acredito. - Felipe me abraçou. - Achei que vocês estavam tornando a brincadeira mais séria. Olha como eu e a Tatá somos felizes, num relacionamento sério. - beijou meu ombro, arrancando um sorrisinho cínico de Natacha e a expressão séria de Luan. Tá, aquele jantar definitivamente não vai dar certo. Além de não poder terminar com ele, eu teria que suportar isso. Respira fundo, Tanara. A noite vai ser longa. 


Especial de domingo! Então, meninas, eu já falei isso, mas vou repetir: eu tô muito feliz de ter chegado aqui. Estava planejado mas sempre tem aquele medo de não dar certo. Deu! Me agradou e eu espero do fundo do meu coração que também tenha agradado vocês. Mas, a partir desse capítulo, uma nova fase da fanfic se inicia. Conseguimos juntas "pular" essa fase e esse é meu motivo de felicidade. Muitas surpresas estão por vir! Preparadas? Tomara, hein!!! Boa noite, beijo e fiquem com Deus! ✨

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Capítulo 30 - Parte 2.

Tanara's POV. 

Não consegui resistir à Luan e caí na lábia do canalha. Cedi e fui passar a noite no seu apartamento. Nos satisfizemos mais uma vez e eu adormeci nua, em seu peito também nu. 

 - Hum, como é bom acordar com você. - sussurrei, após despertar e inalar o melhor cheiro: o seu. Falei sozinha, já que ele dormia profunda e lindamente. Olhei as horas e entortei a boca, um pouco descontente. Eu tinha que ir embora, não podíamos abusar tanto da sorte! Levantei e fui ao banheiro. Fiz minhas necessidades matinais e tomei banho, sem molhar o cabelo. Vesti a mesma roupa e quando saí, ele ainda dormia. Fiquei então no espelho, ajeitando minha aparência e tentando criar uma boa desculpa para Dona Érika. 

 - Já acordou? - ouvi sua voz sonolenta e virei imediatamente com um sorriso pequeno. 
 - Bom dia, meu amor. - disse doce e ele sorriu também. 
 - Bom dia! - respondeu preguiçoso. - Já está arrumada? Já vai? - falou imóvel. 
 - É, né?! - torci a boca, mostrando minha insatisfação. Mas era preciso. 
 - O que você vai dizer a ela? - seu semblante agora estava um pouco mais sério. 
 - Ah, eu não sei. Mas ela sabe que eu mantive contato com as minhas amigas da época que eu fazia faculdade aqui. 
 - Tem a Bruna também, né?! - sugeriu.
 - Não queria meter a Bruna nisso de novo, amor. - fui sincera. 
 - Tatá, ela já está totalmente metida na nossa história. Não tem saída, ela agora é a nossa única ajuda! 
 - Mas eu não quero. A gente discute muito e ela não tem nada a ver com isso. Eu sei que ela já atrapalhou, mas ela não é obrigada, sabe?
 - Eu sei, te compreendo. O Marquinhos se afastou... 
 - Também é um direito dele! - sorri amarelo. - Ele só quer nosso bem! Relaxa, amor. Não vamos mais precisar de ninguém... Isso já tá acabando. - tentava me convencer que eu teria mesmo essa coragem. 
 - Assim eu espero, Tanara. - cerrou os olhos em mim e eu mostrei a língua. 
 - Vem cá, vamos tirar uma foto. - peguei meu celular e me aproximei dele. Deixei um delicado beijo na sua face e depois o locomovi para seus lábios finos. Ele ainda totalmente deitado, retribuiu apenas com uma mão na minha nuca. Pus meu celular na câmera e me posicionei atrás dele. Essa frase soou gay, mas, felizmente, eu não tenho um pau. Apesar dele ser desmunhecado e talvez gostar de pessoas com o mesmo órgão genital atrás dele, ele no momento só tem a opção vagina. É surpreendente, mas até agora, ele gosta mesmo de mulher. Acreditem! Abre parêntese. Leia esta frase boquiaberta(o). Agora continue a leitura com a expressão corada, um pequeno sorriso e os olhos brilhando, devido ao nosso momento fofo. Fecha parêntese. Estiquei meu braço enquanto minha mão segurava meu celular. Mesmo com isso, nossos rostos continuaram um pouco próximos da lente e Luan apenas subiu o olhar, enquanto eu sorria sem mostrar os dentes. Tirei uma, duas, três; com a mesma pose, não me perguntem o porquê. Saí da pose e fui ver as fotos. Diferente de ontem, com apenas três tentativas, consegui uma foto até postável. Sorri encantada e ele riu de mim. 

 - Deixa eu ver, fresca.
 - Você para de me chamar de fresca, Luan Rafael! Olha como ficou fofa. - meus olhos brilharam e eu virei a tela para ele, mostrando a foto. 



 - Ficou boa. Passa pra mim depois! 
 - Passo sim. Você vai pegar a Laura hoje, amor? - saí da cama. 
 - Não. Eu viajo antes do almoço! Mas meu pai vai. 
 - Ela vai passar o dia lá?
 - Sim, estava reclamando de saudade dos avós. 
 - A Isabel não se impõe?
 - Até que não, Tatá. Apesar dela não gostar muito deles, nunca proibiu. 
 - Pelo menos, né?! - fiz careta e ele riu com as sobrancelhas erguidas, me deixando desentendida. 
 - O que foi? - questiono. 
 - Você aí, com ciúmes da Isabel! 
 - Eu? Jura? - sorri irônica. 
 - Tá bom, Tanara. - continuou rindo, com um ar de superior, parecendo continuar a acreditar naquilo. 
 - Você é muito convencido! Deve adorar essa obsessão dela. - revirei os olhos, tentando manter o sorriso irônico. 
 - Assumiu! - comemorou. - Tatázinha, cê ciumenta? - começou a me provocar. 

Exatamente, como vocês devem estar imaginando agora, ele não parou mais de me irritar com aquilo. Eu fingia não ligar e mesmo assim, fui embora sob suas zoações. Mereço! 

O caminho todo eu torci para que todos ainda estivessem dormindo... em vão.

 - Eu posso saber aonde a senhorita estava? - minha mãe me recepcionou. Braços cruzados, um olhar curioso e uma expressão que entregava seu sexto sentido de mãe e já me dizia: você está ferrada, Tanara.  
 - Bom dia, mamãe! - forcei um sorriso, disfarçando meu medo. 
 - Mamãe, Tanara? - sorriu irônica. 
 - Acordou de mau humor, querida? Por quê? O dia está tão lindo! - disse cínica, já me direcionando até a escada. 
 - Pode voltar aqui! - bufei, parando. - Você dormiu aonde? 
 - Sério que a senhora vai me tratar como uma adolescente rebelde? Eu já sou adulta. 
 - Criança, adolescente, jovem, adulta, coroa, idosa... De todo jeito continua sendo minha filha e continua morando debaixo do meu teto.
 - Só porque é mãe não precisa me tratar como uma menina.
 - Meninas mais novas seriam mais responsáveis! Mas não é por isso, sempre confiei em você e você sempre me contou tudo. O que está havendo, Tatá? Você anda muito estranha! - merda. Por que elas tinham que ser assim, tão espertas? 
 - Não está acontecendo nada, mãe. Dormi na casa de uma amiga, só isso. - eu sabia por que ela resolveu me interrogar. Ela estava suspeitando, o circo estava se fechando. 
 - Que amiga? Você sempre preferiu dormir em casa, mesmo estando tarde pra voltar! - facilita, Deus. 
 - Uma amiga da faculdade. Aproveitando que eu estou passando essa temporada em São Paulo, estou revendo todas! - tentei ser a mais convincente possível. 
 - Hum, sei... - me olhou desconfiada. 
 - O que é? Aonde eu estaria, então? - ri, nervosa. 
 - Se seu noivo estivesse aqui, na casa dele. Aliás, ele sabe que você anda dando essas saídas?
 - A senhora me conhece o suficiente pra saber que homem nenhum me controla. 
 - É, o Luan tentava. 
 - Por que tá falando dele agora?
 - Não sei, Tatá. Não sei... - já era, ela já sabe. - Só quero que você abra os olhos! 
 - Vou subir, mãe. - fiz menção de andar e ela me parou mais uma vez: 
 - Está ansiosa pro casamento? Falta pouco, você mal fala disso. Noiva estranha! 
 - Na verdade, Dona Érika, eu não vou mais casar. - sorri e sem dar oportunidade para ela falar algo, subi correndo. 

Eu acho que, me entreguei. Mas foda-se também! Se ela falou aquilo era porque já desconfiava. Era bom que eu deixasse claro o que faria, para quando ele voltar de viagem e eu acabar com tudo, não ser um choque. Pelo menos não pra ela. Se alguém lesse meus pensamentos me titularia de corajosa, decidida, forte... Mas não. Sou e estou totalmente o contrário, mesmo narrando isso. Passei a manhã com a minha irmã, que estava de férias. Minha mãe não ficou em casa conosco e acho que, só por isso, não tentou retomar o assunto. Eu agradeci. Agora, depois do almoço, eu estava deitada no sofá, comendo a sobremesa, enquanto Duda assistia alguma coisa na tevê e eu estava totalmente concentrada naquele doce maravilhoso. Eu era viciada em doces, como diz minha avó: sou magra de ruim. Ouvi o toque do meu celular. Sim, ele sempre estava próximo. Uma extensão do meu corpo, hum? O visor denunciava quem era e eu respirei b e m fundo antes de atender.

 - O que é, Bruna?
 - Como você é mal educada, garota! Cadê os modos? Grossa.
 - Você não merece nem minha educação, queridinha.
 - Mal agradecida! - retrucou. 
 - Fala logo, mimada.
 - Eu tento ajudar você e o Pi, mas cara, não dá. Vocês são loucos, idiotas, ou o quê? 
 - Do quê você tá falando?
 - Do que a Priscila postou!
 - O que ela postou?
 - Vai lá, Tanara. - resmungou. 
 - Você anda acompanhando as postagens da Priscila, é isso mesmo? - estranhei.
 - Vai olhar e depois vem falar comigo. - desligou na minha cara. Marmita atrevida. Sem saber do que ela estava falando e já consumida pela curiosidade, abri o Instagram e digitei o user mais temido e mais querido, ao mesmo tempo, por mim. Entendi a atitude de Bruna rapidamente. 

lunara Se, o nosso querido instagram, já tivesse a atualização da legenda de uma foto ser outra foto, essa legenda não seria essa legenda. Seria uma foto minha, rindo, rindo bastante, rindo mais. Não fofas, eu não estava assistindo zorra total. Ei, você, aí, lendo isso, sim, você! Menina trouxa fã de Luan Santana, atenção! ⚠️ #somostodastrouxas ⚠️ VOCÊ É O MOTIVO DA MINHA RISADA ☺️ Sim, você. Desacreditada, que negava até o fim qualquer reaproximação lunara, que me chamava de loucona, que falava que eu estava apenas fantasiando e só as trouxas acreditavam. Como se sente sabendo, agora, que a única trouxa é você? Bicha, seje menas. ✋🏼Como podem ver, o querido cantor, resolveu, na noite passada, atualizar o seu snapchat com essa foto linda, da mãe, Marizete, mexendo no celular. Ele apagou minutos depois mas... deu tempo de muitas verem e tirarem prints. Não entendi por que apagar a foto da mãe, mas né, deixa ele. Agora eu concordo com quem diz que eu tô louca, estou fantasiando, lunara acabou há três anos. Te amo, @luansantana. CONTINUA ASSIM, CARALHO. Nada mais a declarar. Adeus. ⭐️ #xumbaviciada #mãesualouca #medáatenção #largaessecelular #acheiaMarizete #parecidacomalguém #nessafoto #sóumaobservação #nadademais


Não sabia se ria ou se chorava. Eu avisei a ele a confusão que aquela foto poderia dar! Ele me chama tanto de lerda e a lerdeza da história foi dele. Mesmo rápido, essas meninas eram agentes e conseguiam tudo em relação a ele, na maior agilidade. 

Retornei a ligação da Bruna e antes que eu explicasse que foi ontem, num restaurante, ela foi mais rápida e pediu que nos víssemos pessoalmente. Afirmou ter algo para tratar comigo e eu nem tive escolhas, aceitei. Perguntei se Duda queria ir comigo e ela negou, disse que preferia ficar brincando e assistindo em casa. Preguiçosa! Perto da hora que combinei com Bruna eu fui me arrumar. Escolhi um vestido listrado, um casaco estampado, um tênis branco e uma bolsa preta. Bruna me buscou e ao entrar no carro, tive uma surpresa. Laura a acompanhava. Eu lhe cumprimentei com um sorriso de canto e ela fez o mesmo. Será que ela melhorou? Eu espero que sim. 

 - O que você quer tanto conversar comigo, Bruna? - fui direto ao ponto, assim que Laura foi brincar perto dali. Estávamos numa lanchonete calma, perto do seu condomínio. - Não podia ser por ligação?
 - Não! - ela respirou fundo, mexendo com o canudo no suco que havia pedido. - Mas primeiro me explica como vocês deram aquela vacilo. Aonde foi aquela foto? Vocês andam saindo assim, Tanara? Vocês são loucos?
 - Ah, foi num restaurante ontem. Fomos jantar juntos! - dei de ombros. 
 - Nossa! E você fala isso assim? Calma? Tranquila? Mais cara de pau do que eu imaginava. Cara de pau, não. Burra, isso, sim! 
 - Eu fiquei com medo quando ele me propôs, mas ele me acalmou. Disse que não aconteceria nada!
 - E você vai na onda do meu irmão? 
 - Eu confio nele. E dessa vez confiei e foi tudo tranquilo! - sorri. 
 - Mas tomem cuidado! Pelo menos até você terminar de vez com Felipe e ficar com ele. 
 - Não vai demorar! Estou apenas esperando o Felipe voltar. 
 - Você está falando sério, Tanara?
 - É claro que estou.
 - Tenho medo. - bebeu um gole do suco. 
 - Medo? Por quê? - indaguei. 
 - Eu amo meu irmão, Tatá. E eu percebi o quanto ele gosta de você. Tenho medo que ele se machuque de novo! 
 - Eu amo seu irmão, eu não vou machucar ele.
 - Será? 
 - Está duvidando de mim, Bruna?
 - Não. Eu sei que você gosta dele do mesmo jeito. É recíproco! Mas sinceramente? Não sinto firmeza quando você diz que vai acabar com esse noivado. 
 - O que me impede, então?
 - Seu medo. Está na cara, você não me engana. 
 - Não vai ser fácil, mas tenho que enfrentar. A vida é assim! Eu quero muito ficar com o Luan.
 - Que bom... Eu quero ele feliz e infelizmente, parece que isso só é possível quando ele está com você. - fez cara de nojo e eu me permiti rir. 
 - Você deve me amar, não é?! Fique sabendo que também não me agrada te ter como cunhada. - sorri cínica e ela fez o mesmo. Bebi meu suco, negando e ela fazia cara de desprezo. - Bruna.
 - Hum?
 - Posso te fazer uma pergunta?
 - Como se você precisasse pedir. Se eu disser não, você vai deixar de fazer a pergunta?
 - Não. - respondi sincera e ela deu de ombros. - Por que você resolveu ajudar a gente? 
 - Eu já expliquei. 
 - Não, você disse que estava arrependida. Podia muito bem guardar o segredo, ficar quietinha e só. Mas está ajudando, está interagindo... Eu e o Luan estamos estranhando. A vida amorosa do seu irmão nunca foi seu passa tempo favorito, estou certa? 
 - Está. - suspirou derrotada. - Apesar de você não merecer, vou ser sincera com você. 
 - Qual seu interesse nisso tudo, sua tratante? 
 - Cala a boca, Tanara. - riu. - Você sabe que depois do que eu fiz, o Pi nunca mais olhou pra mim... Ele até saiu de casa e isso foi muito forte para nossa família. Minha mãe, meu pai, eu... Sentimos muito! Minha ficha foi caindo, a consciência pesando... Mas como você acabou de falar, isso não seria o suficiente pra minha ajuda. Só que nesses dois anos, o Pi se tornou uma pessoa mais fechada, ficou voltado pra Laura. Arrisco a dizer que o negócio dele era só sexo, em cada show, com mulheres que ele nunca viu e quando acabavam, dava o fora. Mesmo morando sozinho, ele vivia lá em casa. E continuava frio comigo. Fomos começar a trocar cumprimentos depois de muito tempo...
 - Nossa. Sério?
 - Sim, pra você ver como ele ficou chateado com o término de vocês. Imagina como doía em mim? Eu ficava arrasada! Só que eu notei como ele ficou estranho naquele churrasco que o Felipe te apresentou. A partir daí a mudança dele foi perceptível e depois que eu achei o seu texto nas coisas dele, não pude pensar outra coisa: ele estava apaixonado. Fiquei curiosa pra caramba! Quem era essa sortuda que abriu o coração do Pi de novo? Aí eu cheguei em você.
 - Por isso você foi me procurar, tirar satisfação? 
 - De primeira, foi. Curiosidade e espanto. Mas depois que eu deduzi que era você, veio toda a preocupação. - riu, fracamente. - Você é louca, Tatá! 
 - Louca nada! - sorri. - Quando você gostar de alguém de verdade, você vai me entender. 
 - É por isso que eu estou ajudando vocês. Apesar de implicar, acho lindo o esforço do Luan! Suas loucuras! Sempre dão um jeito de ficarem juntos e estão dispostos a enfrentar o mundo...
 - Bruna, você... - arregalei meus olhos e quase cuspi meu suco. 
 - Eu tô apaixonada! Estou gostando de alguém de verdade e esse alguém, diferente do meu irmão, não tem coragem, não faz nenhum esforço pela gente!  
 - Meu Deus do céu! - disse boquiaberta. Meu queixo estava na mesa, alguém sobe ele de volta? 
 - Não fala pra ninguém, por favor! Nem pro Luan! Sério, Tanara, eu não contei nem pras minhas amigas. Você tá sendo a primeira pessoa a saber. 
 - Isso é verdade? Você está apaixonada? Parou de ser marmita? Não vai dar mais pra qualquer um? Só por dar? Agora você dá com sentimento? 
 - Tanara, sua idiota! Fala baixo! - riu, com medo que as pessoas ao redor ouvisse. 
 - Desculpa! - falei ainda em choque. - Me conta direito! - ordenei. 
 - Tia Bru, eu quero um sorvete! Posso? - Laura se aproximou. Merda. Agora eu ia ficar curiosa pra sempre?
 - Pode! - Bruna assentiu, enquanto eu ainda estava desacreditada e me remoendo de curiosidade. Quem era esse? 

Depois dali, nós fomos dar uma volta à pedidos de Laura. Passando por um lugar, vi flores amarelas e automaticamente lembrei da minha história com Luan, deixando escapar um sorriso. Peguei uma e cheirei, encostando no meu rosto. Flores amarelas eram especiais pra gente e mesmo com tão pouco tempo que nos vimos, meu coração apertou. Como eu era uma viciada, tive a ideia de tirar algumas fotos. Pedi que a Bruna tirasse uma minha com a flor e logo em seguida, ainda paradas ali, postei. 

tataccioly É preciso amor pra poder pulsar, é preciso paz pra poder sorrir... 


Bruna me chamou para ir embora e olhei ao redor, vendo que aquele cenário era perfeito para algumas fotos minhas. Mostrar o look de hoje, por que não? Pedi que ela tirasse mais e ela atendeu meu pedido. Fez reclamando, mas fez. Laura tinha pegado a flor que eu tirei a foto e estava olhando-a encantada. Bruna tirou todas as fotos no meu SnapChat e ela me mostrava cada uma, perguntando se podia colocar na história ou não. Dava alguns palpites e assim escolhemos as boas. 


 - Você gostou da flor, Laura? - me aproximei e ela sorriu de lado.
 - É bonita! 
 - Nunca tinha visto uma amarela?
 - Eu preferia as rosas. 
 - E agora?
 - Acho que prefiro as amarelas. - ela riu meiga e eu vi doçura nela. Uma imagem diferente da que eu vi no Beach Park. Inédito. - Toma. - esticou a minha flor, devolvendo. 
 - É sua! Fica pra você! 
 - Sério? - seus olhos brilharam.
 - Sério! Flores amarelas são muito especiais pra mim, ficarei feliz se elas forem pra você também. 
 - Brigada, Tatá. - sorriu fofa. 
 - Já perceberam que as roupas de vocês parecem? - Bruna notou e nós duas olhamos para a nossa roupa com pressa, ao mesmo tempo. - Que lerdas, hein?! Acho que isso merece uma foto. - sugeriu. Olhei-a, entendendo o que ela estava querendo. Depois do ocorrido em Fortaleza, o clima entre nós duas havia ficado estranho. Mesmo sendo só uma criança, Laura me irritou e eu tinha, sim, ficado verdadeiramente chateada. 
 - Você quer tirar uma foto, Laura? - perguntei e ela só balançou a cabeça positivamente, tímida. Nós fizemos uma pose e Bruna tirou a foto. Depois, para a alegria de Bruna, finalmente fomos embora. 

 - Bruna. - chamei a atenção dela, que dirigia. - Eu quero postar minha foto com a Laura, o que você acha? 
 - Sério?
 - Ficou tão bonitinha. 
 - Não acha que ficaria muito na cara?
 - A Priscila anda postando foto nossa, essa doida anda conseguindo essas informações. É bem pior, né?! E ontem, ele postou aquela no snap... Ou seja, já houve coisas piores! Ahhhhh, e eu também já postei uma com ela. Naquela viagem em que ficamos todos numa casa de praia. 
 - É, posta. Até porque você tá dizendo que isso tudo vai acabar logo e vocês vão assumir... 
 - Eu já falei, só tô esperando o Felipe chegar. Vou postar! 

Editei um pouco e postei. 

tataccioly Tão pequenininha e já cheia de estilo. Aprendeu com quem, @lausantanareal? 



             15 de janeiro de 2018. 

Luan's POV. 

O aniversário do meu amor chegou e eu estava tentando engana-la. Quando deu 00h00, eu liguei, desejei parabéns e todas aquelas coisas de aniversário. Tentei ser o mais amoroso possível, porque sei como é dramática e como esses detalhes valem pra ela. Ela agradeceu toda emocionada e eu queria enchê-la de beijos, mas... para todos os casos, eu estava viajando. Inventei isso para lhe fazer uma surpresa! Na verdade eu estava em casa, só esperando a hora da festa. Seu presente tinha sido escolhido por mim mesmo, era muito especial, a sua cara e eu tenho certeza que ela vai amar. Felipe ainda não tinha voltado e nesse tempo eu estava mais agoniado do que nunca. Não via a hora desse desgraçado voltar e toda essa situação acabar de uma vez por todas. Só que hoje, eu vi um lado bom nisso. Era um dia muito especial, e era melhor ele distante dela, deixando o caminho livre. Marquinhos me procurou para avisar que as meninas estavam organizando uma festa surpresa e com Felipe longe, eu poderia curtir o aniversário da minha menina, tranquilo, aproveitando ela. Estava ansioso e louco para abraçá-la e ver sua reação com o presente. Só que eu estava sentindo algo estranho em relação a essa festa... Bobagem minha, espero. 


E essa festa, hein?! Falaram que promete! Hahahaha Tá corrido, meninas! Mas eu vou fazer de tudo pra voltar o mais rápido possível, tipo meixxxxmo! Beijos...