quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Capítulo 72 - Felicidade, que saudade de você.


Quando você está trancada em um quarto, longe do seu celular, com o coração partido e o estômago forrado, dificilmente você sabe o que está se passando à sua volta. Mas, no meu caso, uma coisa eu consegui descobrir: Luan não pisou mais em casa. É, literalmente. Durante o dia todo, eu só tive tempo para chorar e me lamentar, questionando o porquê daquilo comigo. Então, somente à noite, resolvi ver o que estava acontecendo dentro da minha casa. Marina lavava roupas, calada e pensativa. 


— Marina?
— Oi, Tatá. Que bom que desceu, menina!
— O que você ainda tá fazendo aqui?
— Ah, é que Seu Luan ligou avisando que ia dormir lá na Dona Marizete com os meninos e pediu pra eu não deixar você dormir sozinha. Ele sabe que você morre de medo. Tô adiantando aqui o serviço! – sorriu, serena e desconfiada, ao mesmo tempo. 
— Ah, entendi. Obrigada por ficar, Ma. Mas, eu não quero que você durma fora de casa por minha causa. Se ajeita que eu vou te levar. 
— Tatá, não é nada, de verdade. Por que você ficou o dia todo trancada? Menina, você tá sem comer nada desde manhã! 
— Não quero contar pra ninguém, mas você convive vinte e quatro horas comigo, vai ser impossível esconder. 
— Ai, meu Deus! 
— Eu... e o Luan... nós, Ma, estamos nos separando.
— Mas Tatá, como assim? – seus olhos se arregalaram e por mais que doesse profundamente em mim, eu tinha que afirmar aquilo. Não podia esconder o sol com a peneira. 
— As coisas acontecem quando menos esperamos. 
— Não, Tatá! Pelo amor de Deus! Vocês são o casal mais apaixonado que eu conheço! Vocês se amam tanto, Jesus... 
— Amor nem sempre é o suficiente numa relação, Ma. Principalmente em um cansamento. Somos novos, sei que vamos conseguir sentir a mesma coisa por outras pessoas. 
— Olhe, menina, eu não posso me meter. Sou uma mera doméstica e...
— Marina, não fale assim! Você é uma amiga pra mim e sabe disso. 
— Minha menina, vocês estão sendo precipitados demais. Um casamento de seis meses? 
— Nem parece tempo de duas pessoas que se amam, não é?! Mas infelizmente temos que esquecer o que vão pensar... 
— Não é pelo os outros, e sim por vocês. Tatá, vocês merecem mais do que isso. 
— Tá sendo muito doloroso, Ma. Eu sinto muito por tudo isso, mas não há mais nada que se possa fazer.
— Ai, menina, vem comer, pelo amor de Deus! Não é pegando uma fraqueza que você vai resolver as coisas. – me abraçou e me fez comer, igual Dona Érika. Não contei o motivo do nosso rompimento e mesmo assim, ela me encheu de conselhos. Muito bons, pena que eu não estava com a mente saudável para absorvê-los. Luan havia pedido para ela arrumar suas malas, que ele passaria rapidamente apenas para deixar João Guilherme e buscá-las. E adivinhem? Eu a ajudei a arruma-las. Chorei de novo imaginando que daqui uns dias eu não sentiria mais o cheiro daquelas peças, não as veria e pior, também não poderia desfrutar mais do dono delas. Marina me consolou e eu a tranquilizei, afirmando estar bem, só muitíssimo sensível. 

Na manhã seguinte, Luan fez o que disse. Deixou o cunhado e pegou as malas. Marina que o recepcionou, eu estava dormindo. João Guilherme, assim que despertei, fez questão de se mostrar insatisfeito e confuso com a atitude do meu ex marido. Me fiz de desentendida e ele não insistiu. 

Exatamente 10 dias se passaram e, como eu esperava, Luan fugiu de mim como o Diabo foge da cruz. Não falou em grupos que estamos em comum e sumiu até mesmo do Instagram. Não ligava, não mandava mensagens... Pra usar o extremo da sinceridade, eu sabia aonde ele estava pelos os fãs-clubes. E nesses dias, eu literalmente passei por maus bocados. Marina me consolava como podia, mas eu precisava de mais, então, desabafei com Marquinhos. Contei tudo, tudo, tudo. A confusão toda desde o início. E como eu imaginava, ele ficou do meu lado. 

Eu fiquei literalmente acabada nesses 10 dias. No Instagram só postava coisas antigas para disfarçar, no SnapChat nem apareci... só conversava parcialmente com as pessoas que vinham me procurar. Tipo minhas amigas, minha mãe... e lógico: Alexandre. Ele nunca trazia boas notícias e eu nem contei nada sobre Luan. Parecia que eu estava no meu pior pesadelo e jamais iria acordar. A cada dia que se passava, tudo piorava... 

João Guilherme havia ido jogar bola com amigos da escola e Marina estava de folga. Eu, de hobby, conversava com Marquinhos por FaceTime. Chovia muito e com a outra mão, eu segurava uma xícara de chocolate quente. Esparramada no sofá com um cobertor nas pernas, era assim que eu sentia vontade de ficar até a tempestade acabar. Não a tempestade literalmente, mas a tempestade que a minha vida estava. Passava um filme na tevê e eu olhava de relance, prestando pouquíssima atenção. Até comentava algo dele com Marquinhos, mas nossos outros assuntos estavam mais interessantes. 

— Essa mulher é muito burra. 
— Trouxa. 
— Ai, nem posso falar nada, sou assim também.
— Você tá longe de ser assim, né, Tatá?! Você e o Luan são um pouco trouxas pelo o outro mas é culpa do amor. 
— Ai, saco, Marcos! Não fala dele!
— Sinto te informar que vocês ainda dormem na mesma cama e ainda vão enfrentar um divórcio, que é uma papelada demorada pra caralho. 
— Eu... ai, Marquinhos, eu não queria. Você sabe. Inclusive tô morrendo de saudades dele. 
— Eu entendo, não precisa ter vergonha. Por que você não luta por vocês dois?
— Porque eu tô cansada. 
— Cansada de quê, garota?
— Nossa história têm 5 anos. 
— Mas nesses 5 anos quem deve estar cansado é o Luan, ele que sempre lutou por você. 
— Ah, você tá do lado dele?
— Não é certo ele desconfiar de você. Mas infelizmente, Tatá, ele sempre fez de tudo pra não sair de perto de você. Ele te ama pra caramba e deve tá sofrendo muito com tudo isso. 
— Ai... – suspiro pesado. 
— Você sabe que ele tá sofrendo do mesmo jeito que você. Ou até mais.
— Mais é impossível. 
— Eu tenho vontade de matar vocês dois. Porra, vei, vocês se amam, quanto fogo no rabo. 
— Para, Marquinhos. Eu to muito sensível, não briga comigo. 
— Cadê o João? Você não disse que tava chovendo?
— Começou quando anoiteceu, ele já tinha jogado a partida. Aí pediu pra dormir na casa de um dos amigos... eu deixei. Confio nele e não quero prender. 
— Ele é um menino ótimo, tem que confiar mesmo. – na mesma hora, o trinco da porta se mexeu e eu me assustei. Marquinhos percebeu e do outro lado da tela, arregalou os olhos. 
— Acho que sei quem é, Marquinhos... vou desligar, depois falo com você. 
— Tanara, juízo. 
— Tchau. – desliguei e na mesma hora, minha suspeita foi confirmada. 

Era ele.
Meu ex-marido. 

Luan estava sem mala, sem nada. Me olhou de canto e depois seguiu para a escada, como se eu fosse um inseto. Ele escolheu um péssimo dia, acreditem. Perante aquele absurdo, não me controlei. 

 — Ei, a madame lembrou que tem casa? – chamei sua atenção, indo atrás dele escada à fora. – Pelo menos me cumprimente quando passar por mim, use a educação que sua mãe te deu. 

Ele continuou calado, subindo e subindo. Sua mão esquerda estava ancorada em seu cabelo e a direita na boca, roendo as unhas. Agora ele faria isso? Iria resolver assim? Agir assim? Como uma criança birrenta? Somos adultos, cacete. 

— Não seja infantil, Luan Rafael! Quanta babaquice! É isso que você vai fazer até o divórcio sair? Ou até eu sair de casa? Então não se preocupa, porque se é assim, eu vou agilizar os dois processos. – falei com adrenalina no corpo e na voz. Não queria e nem quero o divórcio. E nunca iria iniciar com as papeladas. E também não queria sair de casa. Não tinha coragem e não estava pronta. Enfim, da boca pra fora, com o psicológico afetado, irritada, falamos asneiras. Minha raiva só ia aumentando, pois ele continuou sem me responder e me ignorando. Idiota! Ah! Sim! Eu só pensava nesse xingamento tosco para lhe ofender. – Você quer fazer o favor de me responder? 

— Tanara, – do nada sua voz surgiu forte, rude e fria no nosso quarto – o meu avô acabou de falecer. Você pode deixar de ser insensível uma vez na vida? – falou com exaustão, tristeza.
— Ah, meu Deus, Luan! – eu não sabia o que dizer. Até gaguejei. – Eu sinto muito. Aquilo era sério? 
— Eu também sinto. Sinto muito. Mas depois conversamos sobre a nossa relação, tá legal? Agora eu preciso ir para Campo grande.
— Hum, claro. Pode ser. Eu posso ir com você? – pedi sem jeito, chegando um pouco mais perto.
— Faz o que você quiser.

Insensível.

— Eu vou sim. – disse, indo pegar minha mala. Eu também não poderia ser tão insensível. – E o Joca está na casa de um amigo. O que eu faço?
— Leva ele. – ele suspirou. – E a Laura, ahn, é o meu dia de ficar com ela e a Isabel tem um compromisso. Ia deixar ela aqui, mas...
— A gente leva ela e eu cuido dela lá, na hora do velório.
— Mas ela é muito nova para ir nessas coisas, Tanara.
— Eu fico com ela em outro lugar, não gosto muito dessas coisas de velório. 
— Você não vai no velório?
— Eu não gosto muito dessas coisas, eu tenho medo... 
— Ah, claro. – ele disse com ironia. – Lógico que sua frescura te impedir disso. Desculpa, eu esqueci.
— Para de me ofender. – disse com autoridade. – Cadê suas malas?
— A van está aí em frente com elas. Só quero pegar uma bolsa e já vou entrar nela. 
— O Rober está aí?
— Sim.
— Fala pra ele desces. Aliás, todos. Vocês devem estar cansados. Tem chocolate quente, também posso fazer um café... 
— Não sei, Tatá. Meu pai quer ir logo...
— Já liberaram o corpo?
— Eu não sei. 
— Tenho quase certeza que não, essas coisas demoram. Toma um banho que eu vou chamar eles. 
— Ou, ou...
— O quê?
— Hum, você não está vestida. 
— E tô nua?
— É, praticamente. Veste uma roupa, por favor? – revirei os olhos, enquanto ele passava a mão no cabelo, sem jeito. Mas só foi eu dar as costas, para um sorrisinho escapar do meu rosto. Ele ainda se importava. Ufa, nem tudo estava perdido! Luan entrou no nosso banheiro e eu troquei de roupa. Estava tão abatido, tadinho... 

Chamei os meninos e os fiz companhia na cozinha. Eles lamentavam o óbito, lamentavam a morte, questionavam e suspirava pesado, triste pela a perda dos patrões. Chovia forte e eu também os notei preocupados. Será que não era perigoso viajar assim? 

— Graças a Deus só pegamos essa chuva quando chegamos em São Paulo. Tá muito forte. 
— Tô pronto! – Luan apareceu.
— Senta pra comer, Luan Rafael. 
— Eu não tô com fome. 
— Mas vai comer. 
— É, boi, cê não comeu nada. – Rober me deu razão e o marrento sentou na mesa resmungando. 
— Acorda o João Guilherme! Ainda temos que pegar a Laura. 
— João não tá aqui. 
— E tá aonde?
— Na casa de um amigo. Ele foi jogar futebol, começou a chover e bom... pediu pra dormir lá. Eu deixei.
— Você vai ficar soltando o menino assim? 
— Ele já tem 14 anos, Luan Rafael! 
— E daí? É um menino! Além de você fazer isso, você faz sem me consultar. Aonde ele tá? Eu vou buscar.
— Calma, cara! 
— Acho que você tá nervoso demais pra querer decidir algo. Eu sei o que faço! Dá pra você comer calado? 
— Ih... a patroa botou moral. – Élton zoou, tentando melhorar o clima.
— Tanara, Tanara... – ele me olhou sério e eu sorri, disfarçando. 
— Seu Amarildo já vem pra cá?
— Vamos buscar eles. Laura, João, mãe, pai, Bruna. 
— O tempo não tá muito ruim pra viajar, Luan?
— Meu avô faleceu, Tanara. – respondeu grosso.
— Calma, boi! Ela tá certa! É perigoso pegar voo com esse clima.
— Deixa ele, Rober. Ele não tá bem. Bom, vou arrumar as minhas coisas e a do João. Qualquer coisa, me chamem. 

Subi, tomei banho, arrumei minhas coisas e as do meu irmão e liguei pra minha cunhada. Dei os pêsames e ela agradeceu, falando que o pai estava arrasado. Pediu pra eu cuidar do irmão que também estava sentindo muito e eu, por um momento, senti que deveria esquecer tudo que estava acontecendo entre a gente. Luan estava precisando de mim e eu não falharia. Liguei pro João, expliquei tudo e ele não discordou. Ele era um amor. 

Luan's POV.

Depois que levei o Joca na escola fui direto para casa da minha mãe. Também busquei ele na escola, para almoçar lá. E acabei o fazendo dormir lá. O deixei e busquei minhas malas na manhã seguinte. Desde então, não soube como estavam as coisas dentro da minha própria casa.

Então, durante toda a tempestade, fui atingido por um raio. Meu avô paterno veio a falecer. Fiquei desestabilizado, sem chão. Minha mãe me ligou, explicou tudo e eu fiquei bem triste.

Tive que voar para casa e de lá, voaria para Campo Grande. Quando cheguei em casa, Tanara veio com suas implicâncias, mas logo que contei, ela veio e me deu certo apoio. Todos eles: Laura, Joca e ela. Joca ficou uns vinte minutos conversando comigo dentro da van, me distraindo. Laura entrou e me encheu de beijos e abraços. Éramos uma família. E ela tinha estragado isso.

Voamos eu, Tanara, Laura, Joca, minha mãe e meu pai, Bruna e Breno para Campo Grande, depois de esperar a chuva cessar. Todos consolavam meu pai, o mais afetado. Bruna permanecia calada, deitada no ombro do namorado. Meu pai foi abraçado com minha mãe, e eu sentia que toda aquele sua postura séria, sua capa forte, queria desmoronar. Ele estava resistindo por ser o patriarca daquele avião e eu o olhava atentamente, esperando que ele desabasse de uma vez. Guardar é pior. Já eu e Tanara, mantivemos uma considerável distância. Nada normal para um casal recém-casado e terminantemente cúmplices e apaixonados. A verdade estava sendo exposto. Única coisa "recém" que estava valendo no momento para esse casal era o termo recém-separados.

Isso me deixava triste. Acho que tudo me deixava triste depois da decepção que tive. Mas, o que quero dizer é que além da minha família, eu só tinha ela para me apoiar. Aliás, também tinha meus filhos. É... meus. E eles foram essenciais até chegarmos em Campo Grande. As histórias tão jovens e inocentes deles me distraiam e por alguns minutos, eu esquecia de tantos problemas. 


Não sei o que deu na cabeça de Tanara, mas ela resolveu ir comigo para o enterro. Assim que colocamos o pé para fora do avião, ela segurou minha mãe e não soltou mais. 

Quando chegamos no velório, o corpo do meu avô ainda não tinha chegado. O clima de tristeza era profundo, estava todos em silêncio e alguns murmuravam. Minha família estava toda presente, alguns amigos e conhecidos. Nós quatros recebemos milhões de abraços e "sentimentos". Apesar de não conviver diariamente com ele como meu pai conviveu, tínhamos a relação de avô e netos, sogro e nora. Distante, mas ainda sim existente. Não era tão boa... uma lembrança acesa era o episódio do CD... Mas ainda era pai, avô, família... e se existe esse laço, existe o afeto e o perdão. Eu estava sofrendo, mas não tanto pela morte. Sabe quando uma pessoa é sempre tão forte, é seu exemplo, é inabalável para você? Então, Seu Amarildo se encaixa perfeitamente nessa descrição. E agora, ele mais parece um menino. Não posso negar que grande parte desse sofrimento era culpa de quem? Quem atormenta meus pensamentos desde 2013? Ela mesma, Tanara. 10 dias refletindo não foi o suficiente para eu aceitar, minha indignação só crescia. E a desgraçada agora tá aqui, me olhando meiga, caridosa, fofa, solidária... como se prestasse. A Tanara não presta, gente. Pelo amor de Deus. Aprende isso, Luan! Ela não presta. Será que você nunca vai entender isso? 

Meu corpo estava tenso, ereto. Eu sentia uma tristeza e não conseguia dividir com ninguém. Mas, uma coisa, tive que compartilhar com a não-prestante Tanara.

— Eu estou com muita fome.

Ela, mais que depressa, saiu com as crianças para uma lanchonete e comprou algumas coisas para comermos. Bruna e Breno os acompanharam e trouxeram pros meus pais também. 

O corpo chegou e tudo pareceu mais intenso. Laura e João mexiam no celular, como se não entendessem (ou não ligassem muito) pro que estavam acontecendo. Tatá parecia uma mãe. Segurava bolsa da Laura, uma faixinha de cabelo, carregador portátil do João, biscoito, água... em um certo momento eu até ri quando vi os dois azucrinando ela. 

— Tatá, tô com sede. – Laura se aproximou de nós dois, que estávamos sentados um do lado do outro (friamente). 
— Você não tá com sono, Lau? 
— Eu não, papai. João tá me ensinando a jogar o joguinho de dirigir. 
— Hum, Laurinha, toma. – Tatá entregou e ela bebeu, despreocupada, olhando pro João como se ele fosse fugir. 

Que merda! 
Como eu ia separar eles dois? 

— Ah, tá... – assenti.
— Obrigada, Tatá. – devolveu a garrafinha. 
— Já já vamos pra casa, tudo bem? Vocês precisam dormir.
— Tá bom... – saiu, correndo. 

— Ser criança é bom, né?! – comentei. Tanara não era de ficar calada, mas diante todos os fatos, ela não deu um piu perto de mim. Acho que era medo de grosseria. Hum, talvez ela estivesse certa! 
— Eles dois se apegaram muito. 
— É, complicado. 
— Complicado? 
— Você vai levar ele da gente, Tanara. Tanto eu como ela vamos sofrer, mas com ela é mais delicado, ela não vai entender. 
— Você que quis assim.
— Acho que foi você. 
— Eu não quero discutir no velório do seu avô. 
— Na verdade não sei nem o que estamos fazendo aqui, perto um do outro. 
— Você é insensível até nas horas mais improváveis. – Tanara levantou, chateada. 

Meu avô, como se estivesse presente e não tivesse gostado da nossa atitude, derrubou a tampa do caixão. Sim. Ela caiu com tudo, de repente. Tanara gritou e caiu sen-ta-di-nha no meu colo. Na verdade, todos tomaram o maior susto do mundo, mas com ela foi mais engraçado. Isso me fez rir. 

— Meu Deus. – ela disse ofegante e eu pude ver seu coração pulando do peito. Pus e mão para checar e sim, estava acelerado. Ela reprovou minha ação com o olhar, mas não disse nada.
— Vai morrer também do coração? 
— Você não ia achar ruim, né?! Ia até gostar. Se livrar logo de mim! E olha que felicidade, já estamos no clima, me enterra junto e pronto.
— Deixa de ser dramática! Bebe água, você está pálida e tremendo. – peguei na sua mão e ela fez o que eu disse. — Você é muito fraca. 
— Isso não foi normal. 
— Será que ele tá aqui, Tanara? – fiz voz de suspense e ela me olhou medrosa. — Nossa... – arregalei os olhos e ela me deu um tapa. 
— Para com isso, idiota! 
— Relaxa, vai! Você realmente vai passar mal. – peguei sua cabeça e deitei no meu ombro. Ela pôs os braços em volta do meu pescoço e nos permitimos a nos ajudar, sem ressentimentos (pelo menos por enquanto). A respiração de cada um tinha um significado e os dois, tentavam decifrar. Que sintonia maldita essa que existia entre nós dois. 


Oie! Turobom? E aí? 👀 O que acharam? Adivinhem, meus amores! 💅🏻 Depois do 71, chegamos a 400.000 visualizações! 😱😍 Que massa, né?! Volto em breve com o 73 e um caminhão de emoções. 🚚 SEGUUUUUURA CORAÇÃO! 💔

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Capítulo 71 - O teu segredo roubou o meu sorriso.


— Tá pronta?
— Tô. Vamos?
— Antes eu quero conversar com você. É melhor que não seja na nossa casa.
— O que foi?
— Você sabe.
— Não sei, amor.
— Não percebeu que eu estava frio com você?
— Percebi, mas era o DVD, não era?
— Tanara, quando eu, cuidadoso como sempre fui, ia te tratar mal por causa de um DVD? Um DVD que você participou, aliás.
— Muita coisa, sei lá. Você podia descontar em qualquer um.
— Não foi isso.
— O que foi, então? Eu fiz alguma coisa?
— Você fez várias coisas. – riu, irônico. Cadê o Luan de ontem?
— Se for minha ausência, você sabe que eu estou tentando melhorar. São muitos compromissos e eu não gosto de recusar. Mas claro que eu amo minha família, não dá pra comparar.
— Você ama sua família?
— Claro que eu amo, amor! Tá louco?
— Então sua família se resume no João Guilherme.
— Não tô entendendo!
— Porque a mim, Tanara, eu já sei que você não ama. – sorriu cínico. O quê?
— Como assim, Luan? 
— Por que você não me contou que estava em Fortaleza?
— Você está dizendo que eu não te amo por isso? – ri, desacreditada e de certo modo, mais aliviada. — Mas, meu amor! Eu sabia que você ia brigar, por isso não falei. – justifiquei-me. 
— Você nunca me fala nada, Tanara. Pensei que ia mudar, que ia melhorar... 
— Luan. – meus risos incrédulos não cessavam. — Esse drama todo é por isso?
— Esse drama todo é por tudo. – seu jeito estava muito estranho. Digamos indecifrável... de uma forma péssima. 
— Você não vai estragar o nosso dia por isso, né? Pelo amor de Deus.  
— Não é só por isso, eu já disse. Por que não me contou que ia? Por que não me contou o motivo de ir? Por que não me contou a verdade? Por que você só mente? Por que não disse que a empresa está falida? Por que não disse que só se casou por dinheiro? Não, essa parte eu até entendo, mas... Por que você fez isso comigo? – meus olhos saltaram e meu coração subiu até a garganta. 

Oi? 

— Do que você tá falando? 
— Não se faz de cínica, Tanara. Minha paciência está abaixo de zero! – seu tom aumentou significativamente e eu engoli seco, totalmente confusa. 
— Eu realmente não tô entendendo. – sentei na cama, olhando-o. 
— Ah, tadinha! Não tá entendendo? – cruzou os braços, bufando; sarcástico, com uma expressão impaciente e de ódio. 

Minhas pernas faltaram. 

— Então vou te explicar direitinho pra ver se você entende! Depois que você negou meu pedido de casamento... – fechou os olhos, respirando fundo. — Eu sou muito trouxa, meu Deus. – balbuciou, falando para si. — Enfim! Depois que você me deu um belo "não", você descobriu que a empresa da sua família estava praticamente falida. E precisava salvá-la, porque, nossa... – disse pausadamente e com um sorriso irônico. — Sua família é tudo. Você não está nem aí para nada se sua família estiver bem. Afinal, ela é a dona de todos os princípios, dona de todos os conceitos do que é certo ou errado... ela quem decide o que você deve fazer, quem você deve amar. Agora tudo é tão óbvio, está tudo tão claro. Essa atitude é digna de Tanara Albuquerque Accioly. 
— Luan...
— CALA A BOCA, TANARA! Eu vou terminar a história. Você não tá gostando? Não tá tendo magia? Eu tô vendo muita magia! É interessante, com bons fatos, um ótimo entretenimento. 
— Não acredito que você tá fazendo isso. – agora, eu não sabia o que estava sustentando o meu corpo. Nem mesmo o que eu estava respirando, porque não havia oxigênio. 
— Como você ia salvá-la? Envolvia muito dinheiro! Ser blogueirinha não dá tanto dinheiro... Mas, ser mulher de um cantor idiota e apaixonado TALVEZ DESSE!
— VOCÊ ESTÁ SENDO UM ESCROTO! – levantei num pulo.
— ASSUME QUE SEU TIO TE OBRIGOU A CASAR COMIGO! ASSUME, TANARA! PELO MENOS UMA VEZ NA VIDA, SEJA SINCERA, SEJA MADURA. Vem cá, me fala, eu fiquei curioso. Como você dormia sabendo que do teu lado tinha um cara LOUCO POR VOCÊ? COMO VOCÊ DORMIA SABENDO QUE NÃO SENTIA O MESMO POR ELE? COMO VOCÊ DORMIA SABENDO QUE ILUDIU ELE O TEMPO TODO? Como você dormia sabendo que ia continuar iludindo? 
— NÃO, NÃO, NÃO!!! PARA, LUAN! 
— Era por isso que seu tio ficava te ligando o tempo todo, não era? Ele deve ter ficado bravo com a sobrinha querida, né? Ela não conseguiu arrancar nada do trouxa... Mas, não estou duvidando da sua capacidade. Você não arrancou porque não pediu, porque não quis. Porque você sabia, que se você pedisse o mundo pra ele, ele ia fazer de tudo pra te dar. – seu olhar era profundo e decepcionado. Pronto. Eu estava destruída. Meu coração agora batia acelerado e nas mesmas circunstâncias estava o ar que que eu inspirava e expirava. — Você não tinha esse direito, Tanara. – falou baixo, o que é muito pior pra mim: triste. — Eu não merecia isso. 
— Não foi assim que aconteceu. – meus olhos encheram-se de lágrimas e o choro ficou entalado na garganta. Minha boca tremia. O silêncio formado era vilão; psicopata e
assustador. Nossos olhares intensos e inacabáveis esmoreciam o que talvez houvesse sobrado de mim. 

Para de me olhar assim.

Por
Favor. 

— Eu não quero ouvir mais nada, Tanara. Eu só quero acabar com isso de uma vez! Vamos sair daqui e fingir que nada aconteceu até a papelada do divórcio ficar pronta. – deu-me as costas. 
— Novamente você não vai me ouvir?
— Você não vai comentar com ninguém que estamos nos separando, do mesmo jeito que eu não vou contar. 
— Vai cometer o mesmo erro, Luan? Não vai deixar eu me explicar? – chorava como uma menina. De novo por ele, mais uma vez pela nossa história. 
— Não procure minha mãe para se fazer de vítima. Nem a Bruna, nem o Rober. Eles não vão mudar minha concepção, não vão me fazer mudar de opinião, muito menos de ideia. Não há outras conclusões para essa história e mesmo que haja hipóteses, não voltarei atrás. – prosseguia falando, decidido e frio. 
— ESTOU FALANDO COM VOCÊ! – gritei, entre meu pranto. 
— NÃO, TANARA! – socou alguma coisa que estava na sua frente e eu não fui capaz de avistar. — NÃO VOU TE OUVIR, NÃO VOU DEIXAR VOCÊ SE EXPLICAR. Sabe por quê? Porque eu não estou cometendo o mesmo erro. Não têm justificas, não têm desculpas. Você não tem pra onde correr, Tanara. Suas mentiras já não cabem mais. É tudo tão repetitivo que deu, entendeu? Extrapolou! Não vou mais ser enganado por você! Feito de trouxa! E pode chorar, porque seu choro também não me convence mais. – cuspia as palavras sem cuidados ou preocupações. Aliás, com uma única preocupação: me machucar. Era intencional e ele obteve sucesso. — Vamos embora! – pegou seus pertences e saiu na frente. Me restou segui-lo, sem conseguir acabar com as minhas lágrimas. 

Eu não sabia como ele tinha descoberto e muito menos como eu iria provar minha inocência. O clima dentro do carro estava mil vezes pior e eu tentava disfarçar meu choro. Ele estava concentrado na direção, com o olhar travado para a pista. Não olhou para outro lugar uma vez sequer. Mais parecia uma pedra, que iria me demolir a qualquer momento. 

— Bom dia, Tatá! – Laura correu para os meus braços assim que nos viu. 
— Oi, meu amor. Bom dia! – sim, antes de entrar eu tentei me recompor e estava me contendo. 
— Luan, vai me deixar hoje? – João também apareceu, com a mochila nas costas. 
— Bom dia, papai. – Laura acenou pro pai enquanto me agarrava. 
— Por que você não está arrumada, Dona Laura?
— Ela está de férias, Seu Luan. Esqueceu em que mês estamos? – Marina surgiu. 
— Ah, sim, verdade. E você, Joca? Tá arrumado por quê?
— Porque eu fiquei de recuperação, ué. Tatá não contou?
— Não, ela não contou. – Luan ficou sério, como se fosse seu pai. — Não acredito nisso, cara. 
— Ah, foi mal.
— Foi mal? Foi mal coisa nenhuma! Agora você vai estudar pra não reprovar. 
— Pai, tira o celular dele. 
— Cala a boca, Laura! 
— Acho que vou fazer isso mesmo. 
— Olha aí, Tatá! Você já sabia e nem tirou meu celular.
— Depois a gente resolve isso, eu estou morrendo de dor de cabeça. 
— Vem, João Guilherme, antes que você chegue atrasado. 
— Tatá, a gente pode assistir desenhos?
— Laurinha, vamos com o papai! Ela está com dor de cabeça, você não ouviu? 
— Mas papai...
— Mas nada, Laura. Vem. – foi extremamente rude e a menina me soltou de imediato. Eu não sei como estava conseguindo encarar eles. 
— Tchau, Tatá! Melhoras! – João Guilherme beijou minha testa e foi em direção ao cunhado. 
— Tchau, meu amor. Boa aula! – sorri de lado e Laura saiu acenando e soltando beijos para mim.  Coisa mais fofa. 

— Quer algum remédio, Tatá? – Marina indagou antes que eu subisse. 
— Quero dormir, Marina. Pede pra ninguém me incomodar pelo o resto do dia, por favor?
— Peço sim. – respondeu com um semblante preocupado. Ela não imaginava o que estava por vir. 


SE É PARA O BEM DA NAÇÃO, EU VOLTO. 😱

Poderia fazer um textão aqui explicando tudo que aconteceu, mas diante meu cansaço, não irei; meus olhos fechando não permitem. Bom, mas se serve, saibam que eu me justificava diariamente no grupo e respondia todas as meninas que vinham falar comigo, tanto no Instagram como no WhatsApp. No Facebook não respondi porque 🌸 estou sem Messenger 🌸. Só lhes garanto que foram muitas, muitas, MAS MUITAS COISAS, mesmo! Estar com internet, estar online em alguma rede social, é diferente de estar inspirada/disposta a escrever. Quem escreve sabe que não é fácil, principalmente quando estamos numa parte ÁPICE, esperada há meses. Acho que foi isso que aconteceu. Planejei, organizei e esperei tanto, que quando chegou, veio o bloqueio. E pra ajudar o bloqueio, mil coisas apareceram. 👌🏻 Vocês devem saber. Até porque, viam como eu sempre fui esforçada aqui, o nosso cantinho. Quem puder me compreender, eu ficarei grata. Quem não puder e não quiser, sentirei muito. Quem quiser continuar me acompanhando, será sempre muito bem-vinda. Quem não quiser ou não conseguir, bom, foi bom tê-la por todo esse tempo. Tchau e benção! 👋🏻 Não, meus amores. Não irei demorar mais 2 meses para postar o 72. Não, meus amores. Não demorarei duas semanas ou até mesmo dias. Serei rápida. Até porque, se estou postando agora, é porque desbloqueei. E obviamente, preciso ser ainda mais ligeira do que normalmente seria para poder recompensa-las. Desculpem o tamanho, acho que não era sensato por mais alguma coisa. Doeu aí em vocês? Porque doeu aqui em mim. Ai, meu casal, não façam isso! 💔 Oh, prepararem-se porque eu vou é arrochar a partir de agora, viu?! 💪🏻💥 Boa noite, gente! Durmam com Deus e jamais esqueçam o tamanho do carinho e da consideração que a Tia Tatá tem por vocês. 😘