Capítulo 17

 - Como você fez isso, Felipe? - gaguejei, evitando olhar para Luan. Merda!

 - Fazendo, ué. Fui na igreja e marquei. 

 - Fico muito feliz por vocês, com licença. - Luan sorriu triste e saiu. Meu coração se partiu e minha vontade era sair correndo e tentar lhe explicar. 

 - Você não tá feliz, amor? 

 - Isso era uma coisa que íamos fazer juntos, Felipe! Juntos! Você não podia. 

 - Mas meu amor...

 - Você é precipitado.

 - E você é lenta demais. Já tava demorando e finalmente quando decide, a gente briga. Ia demorar mais quanto tempo? Um mês? 

 - E se demorasse, Felipe? Que saco, cara. Eu queria fazer isso, eu queria escolher o dia.

 - Pra marcar pra 2020? Já fiz e pronto, acabou. Vamos casar em março.

 - Você não tem esse direito!

 - Amor, acabamos de fazer as pazes... Não vamos brigar de novo, tudo bem? - pegou no meu rosto e sorriu, como se tivesse sido certo nisso. - Está tudo bem, vai dá tempo e nós vamos ter uma cerimônia linda. - falou doce e eu desviava o meu olhar, com os pensamentos no estado de Luan. - Hein? Não fique chateada comigo! Só fiz isso, o resto você faz do seu jeitinho. - ia selar meus lábios, mas eu virei. Ele riu, entendendo, e então só me abraçou. 

Passei o resto do churrasco calada, só observando Luan. Ele bebia, encarava o nada e sempre que possível, me olhava com uma expressão decepcionada. Que droga! Estávamos tão bem... 

Na hora de irmos embora, Felipe foi cumprimentar o amigo que mal olhou na minha cara, frio. Fiquei magoada com aquilo, mas entendi. Com Felipe ele agiu como sempre e meu noivo, não percebeu nenhum clima estranho entre nós. 

Os dias foram passando e eu ia ficando cada vez mais triste e preocupada. Luan não me procurou mais, não me mandou um "oi" sequer e aquilo estava me deixando mal. Eu também não fui atrás. Eu não fiz nada! Diferente dele, que invadiu minha privacidade; mexeu no meu celular, se passou por mim e ainda me escondeu isso. Complicado, não? Mas a verdade é que eu estava morrendo de saudade, e de medo. Medo dele nunca mais me procurar. Medo de ter acabado o que mal recomeçou. E nesse tempo em que ficamos distantes, eu fui atrás do buffet com a minha mãe. Ela mudou de opinião, disse que se eu havia vindo pra São Paulo para isso, tinha que cumprir o meu propósito. Ainda mais depois de saber que Felipe havia marcado a data da igreja e do cartório. 

Falando em casamento, o de Sorocaba chegou. Eu e Felipe seríamos padrinhos. Eu decidi passar o dia no salão, me arrumando. Queria estar deslumbrante. Afinal, na festa só teria famosos e as mulheres com certeza estariam lindas. E nesses famosos se incluía meu Loli, o que apertava meu coração e me dava uma grande ansiedade. 

 - Não acredito, Felipe! É isso mesmo que eu estou ouvindo? 

 - Meu amor, não se preocupe. Já está tudo certo! Eu já até conversei com o Sorocaba. 

 - Você vai faltar o casamento do seu amigo, é isso? Quem vai vir me buscar, Felipe? Aí meu Deus, eu não vou mais!

 - Deixa de drama, amor. Eu já expliquei e ele entendeu perfeitamente. Não vou poder ir a igreja, mas irei a festa. Micaella também entendeu, está tudo bem. 

 - Eu não vou sozinha, Felipe! Eu não conheço ninguém. - omiti o fato de conhecer alguns dos amigos de Luan e Sorocaba, da época do nosso namoro.

 - Ai, meu bem, você está muito dramática. Relaxa, tudo bem? Até parece que você que vai casar. - riu. Eu andava muito irritada e nervosa, desde o afastamento do Luan. Eu deveria disfarçar mais, merda. 

 - Felipe. - respirei fundo. - Eu estou me arrumando à toa, é isso?

 - Marquinhos vai buscar você, sua mimada. Eu já combinei com ele também! Lá vai estar ele, a Bubu...

 - A Bubu. - fiz uma voz nojenta.

 - O que é isso? Ciúmes? - riu. - Já falei que não precisa disso, ela é minha amiga.

 - Volte ao que interessa, Felipe.

 - Então, vai estar Dona Marizete que você adora, Seu Amarildo e o Luan. Vocês estavam conversando naquele churrasco, não estavam? Devem ter feito amizade.

 - Marquinhos vem me buscar, então?! Tudo bem. Mas nós íamos ser padrinhos! E agora?

 - Eu pensei em tudo. Luan vai ficar no meu lugar, vai ser padrinho com você. 

 - O quê? - arregalei os olhos. 

Luan's POV. 

Felipe como sempre, atrapalhou meu churrasco com a notícia de que o dia que eles casariam já estava certo, marcado. Já estava com raiva de ter sido abandonado e ela ter perdoado ele tão fácil, mas isso só piorou. Descontei minha raiva na bebida e de vez em quando a olhava triste, não me importava se ela perceberia meu estado. Na hora de irem embora, vieram me cumprimentar e eu fui o mais frio possível com ela. Ele, pra variar, com certeza não percebeu nada. Burro. 

Voltei pra casa do mesmo jeito, mal. Antes de sair, minha mãe perguntou por que eu estava daquele jeito, mas eu desconversei. 

Minha raiva e minha chateação resultou no nosso afastamento, infelizmente. 

E agora eu estou na igreja, esperando o casamento do meu amigo começar. Sim, Sorocaba finalmente se casaria. E de presente eu teria que ver o casalzinho como padrinhos.

Ainda faltava tempo e eles sequer haviam chegado. Melhor assim! Não havia trago Laura, Isabel falou que ela estava gripadinha e era melhor ficar em casa. Não sei se foi uma desculpa para nos afastar, mas eu tive que acreditar. Estava impaciente, odiava esperar. Mas mais impaciente do que eu, só meu amigo. Ele estava nervoso e isso me divertia um pouco. Conversei com algumas pessoas e agora mexia no celular, rolando as fotos do meu Instagram. Fotos minha vazavam a todo momento, minhas fãs eram umas ninjas. Apesar de já ter postado foto com o meu terno, antes de sair. 

Eu era um trouxa por completo e por isso, digitei o user dela. Milhões de seguidores e uma nova foto. Porra. Ela já estava pronta e estava... linda. 

tataccioly Aquele carão básico só pra mostrar o look escolhido para prestigiar o casamento desses dois que amo! #CasamentoMicaella&Sorocaba 

Então ela já estava a caminho? Sem nervosismo, Luan Rafael. Sem essa idiotice. Sorocaba me chamou na sacristia e eu não entendi muito bem o porquê, até ele começar a se explicar. Felipe não poderia comparecer à cerimônia na igreja e conversou com Sorocaba, dando a ideia de Tanara ser madrinha comigo. Não era tão ruim, pelo menos eu não teria que ver os dois de braços dados no altar. E sim, seria o meu braço que ela seguraria.

 - Então tudo bem pra você? Certeza? - perguntou receoso. 

 - Sim, cara. Relaxa!

 - Eu tô nervoso.

 - E não era só ansiedade pra saber se eu aceitaria, certo?! - ri. - Micaella não vai te abandonar no altar, respira.

 - Isso é muito novo pra mim. 

 - Quem mandou você casar velho? Foi adiando, adiando... Aí ó, fica todo nervoso. 

 - Eu estava curtindo, esperando a mulher e a hora certa. Igual a você, não? 

 - Não! Apesar de poder, já que sou bem mais novo que você, ô coroa. Mas, minha vida de curtição acabou. Junto com a espera da mulher ideal.

 - Olha, isso é uma novidade surpreendente. É sério?

 - Seríssimo. 

 - E quem é essa mulher? - perguntou rindo, com certeza não acreditando. Ia responder, mas fomos atrapalhados pela entrada da própria. Minha futura oficial mulher, Tanara. 

 - E aí boizeras. - Marquinhos falou, nos cumprimentando. 

 - Oi. - ela me olhou sem graça, linda. Ela estava arrebatadora naquele vestido. Foi abraçar Sorocaba, lhe falando algumas coisas relacionadas ao casamento. Eu só observava-a, impressionado com sua beleza. Sorocaba lhe avisou sobre a mudança e ela afirmou já saber. Depois ele saiu,  deixando só nós três, nervoso. Eu e Tanara ficamos olhando pro nada, totalmente sem graça.

 - Dá pro dois pararem com isso? Já chega, né?! - Marquinhos falou autoritário. 

 - Chega com o quê, Marquinhos? - me fiz de desentendido.

 - Essa briguinha por nada de vocês. Vou deixar os dois sozinhos, mas não demorem. Dona Marizete tava de olho na gente entrando aqui... 

 - Valeu, cara. - agradeci e ele saiu. - Uma pena seu noivinho não ter vindo. 

 - Não tô boa pra suas ironias, Luan. Se for pra isso, eu já vou. - fez menção para andar e eu segurei seu braço.

 - Espera. - desci minha mão para sua a mão. - Você tá linda.

 - Obrigada. - sorriu, sem jeito. - Você é um idiota, mas tá lindo também.

 - Por que eu sou idiota, Tanara?

 - Porque você me deu esse gelo, sem motivo.

 - Sem motivo? Tem certeza?

 - Foi ele, Luan. Não eu. 

 - Eu sei, eu pensei. Mas eu também fiquei com raiva, chateado. Eu tenho esse direito, não tenho?

 - Tem. Porque também deve ter seu tempo. Mas não tem o direito de mexer no meu celular, não acha? - alfinetou e eu ri fraco. 

 - Desculpa, foi sem querer. - disse cínico e ela riu, me acertando um leve tapa no ombro. 

 - Eu senti saudades.

 - Eu também. Sempre odiei brigar com você. Mas olha, também estava corrido. Não foi tão de propósito. 

 - Eu sei, eu entendo... Mas, e agora? Está tudo bem? 

 - Está tudo bem. - sorri e me aproximei. Ela estava um pouco mais alta e eu fiz uma expressão de lhe zoar por isso, causando sua risada sem ao menos eu precisar falar algo. Nos entendíamos pelo o olhar. Segurei seu rosto e lhe dei um rápido selinho. 

 - Melhor irmos. Sua mãe realmente olhou desconfiada, Loli.

 - Acho que ela vai morrer quando ver a gente no altar, assim, de braços dados. - entrelacei nossos braços e ela riu. 

 - Seu besta. Eu vou primeiro, é melhor.

 - Tudo bem. Mas antes, vem cá minha bonequinha... 

 - Bonequinha?

 - Sim. Com essa maquiagem, toda boneca. Prometo não borrar nada, tá? Vou te dar mais só esse selinho. - ela assentiu sorrindo e eu selei nossos lábios suavemente. 

 - Você me confunde com tantos apelidos. Pikitinha, boneca, pequena, baixinha, anã, encalhada, empata foda, menina, desastrada, atrapalhada, maluca...

 - São todos nossos. Só nossos. Mas eu tenho os meus preferidos. 

 - E eu não vou perguntar nem perguntar qual é. Meio óbvio. Deixa eu ir, vai.

 - Vai, Pikitinha. Vai logo antes que sua tia Zete apareça com uma parede para nos separar. - brinquei e ela beijou meu rosto, rindo e saindo em seguida. 

Voltei minutos depois dela e logo a cerimônia começou. Nós dois, no altar, como padrinhos, gerou olhares confusos de muitos e eu confesso estar adorando. Heis o tempo que eu me preocupava com o que iam pensar, foi assim que eu acabei com a minha felicidade. Tatá se emocionou e eu lhe zoei, rindo e ganhando uma "bolsada" na frente de todo mundo, no meio das palavras do padre. Nos olhamos tentando ser sérios e isso aumentou ainda mais a dificuldade de contermos a risada. Todos estavam entretidos e por isso, recebemos poucos olhares reprovadores. Mal sabiam que faltava bem pouco para nós dois estarmos ali, no lugar de Micaella e Sorocaba. E esse nosso jeito nem tão certo, deixaria o nosso casamento ainda mais lindo. 

 - Da pra vocês dois decidirem uma pose logo? Retardados. - Marquinhos reclamava com o celular apontado pra gente. 

 - Cala a boca, cara. Num tá vendo que nóis quer sair chique? - falei e Tatá riu. 

 - Só a Tatá tá linda e chique. Você tá feio, cara. Aceita.

 - Fica aí com sua inveja. E eu sei que ela está linda, mas mesmo assim! 

 - Vai, Loli. Vai logo! - riu. - Espera, deixa eu subir nisso aqui. - aproximou um trem e subiu, ficando mais alta que eu. 

 - Pra quê isso, muié? Desce daí. - falei, enquanto ela fazia poses em cima daquilo. Ela tiraria mesmo foto ali? 

 - Não, vou tirar aqui. - sorriu, se divertindo com aquilo.

 - Não acredito, Tatá. - Marquinhos riu. 

 - Aceita sua altura. - resmunguei.

 - Vem pra cá, Luan Rafael. Vamos tirar aqui! Eu mais alta que você.

 - Nem tá tão alta assim. Só por causa desse treco, desse salto...

 - Você está acostumado com fotos que eu saio baixa... Mas agora, parece que o jogo virou, não é mesmo? - cerrou os olhos em mim.

 - Cala a boca, Tanara. Menina pra inventar moda! - me aproximei, pondo a mão no decote das suas costas. - É assim que cê quer?

 - É, Loli. Mas vem cá, se aproxima mais. - me puxou mais pra si.

 - Pronto, crianças? - Marquinhos perguntou e eu fiz uma expressão diferente, só pra foto.

 - Cuidado pra não sair esse negócio, Marquinhos. Pelo amor de Deus! - Tatá alertou para o banquinho, volume, sei lá o nome daquilo que ela estava em cima. 

 - Relaxa, Tatá. Da sua cintura pra cima, não é? - ele perguntou e ela assentiu, enquanto eu tinha mudado de expressão várias vezes e nada daquela foto sair.

 - Não vai sair esse trem, mas vão perceber que cê tá mais alta, né espertona? - alfinetei e levei uma bolsada.

 - Cala a boca. - ordenou. - Vai, Marquinhos. Agora pode! - fez uma das suas milhares expressões de foto e eu fiz a minha, saindo finalmente a foto. 

 - Perdi uma hora de festa só pra tirar essa foto de vocês! - ele reclamava, devolvendo o celular dela.

 - Obrigada, viu lindo? - ela agradeceu, descendo do trem. Ele saiu negando enquanto eu ria. 

 - Ficou tão linda, Loli. - disse sorrindo e mexendo em alguma coisa no celular.

 - Deixa eu ver, muié. - pedi. 

 - Calma, tô editando rapidinho.

 - Mas eu só quero ver, Tatá. Elâmor! 

 - Ai, seu chato. Porque se eu não editar agora, eu esqueço. Mas já terminei, olha. - virou o celular pra mim, me mostrando a tal foto. Ela foi complicada de sair, mas havia ficado realmente muito linda. 

 - Óia cara, que gato que eu tô.

 - Convencido! - sorriu. 

 - Cê passa pra mim depois? 

 - Passo sim. Mais uma pro nosso acervo... 

 - Agora larga esse celular, minha baixinha. Vamos dançar? - pus as mãos na sua cintura. 

 - Loli, tá todo mundo aí... - disse receosa. 

 - E daí, Tatá? Não vamos fazer nada demais! É só uma dança de amigos, lembra?

 - Tudo bem, baixinho! Eu vou. - aceitou, me causando um sorriso. Guardou o celular na bolsa e me deu a mão. Comecei a puxa-lá para o salão, onde todos curtiam a festa. Dançavam, bebiam. Não tinha nada demais fazermos o mesmo, certo? 

Fui parado por um dos convidados e eu cumprimentei, tirei foto, enquanto ela observava. O que me lembrou a época que nós namorávamos. A pessoa se despediu e eu peguei na sua mão de novo, prestes a sair dali, quando uma pessoa se pôs na minha frente, tirando meu sorriso. Felipe. Merda!

 - Acho que você já roubou demais minha noiva, hein?! - riu. - Cheguei, pode me devolver? - brincou e eu não soltei a mão de Tanara. Ele encarou nossas mãos dadas e sorriu, como se mandasse nós separa-las. O xinguei mentalmente de tudo e soltei a mão dela, sorrindo sem graça. 

 - Oi, amor. - ele pegou a mão que eu acabara de soltar e puxou-a, lhe abraçando. 

 - Oi, Fê. - ela sorriu tão sem graça quanto eu. 

 - Vocês foram padrinhos? Deu tudo certo?

 - Deu sim, cara. Deu sim! Íamos dançar agora. Ela estava sozinha e eu estava fazendo companhia, nenhum problema, né?! 

 - Nenhum, parceiro. Quê isso! Obrigado por cuidar dela, mas, agora ela é minha, né?! - sorriu brincalhão e eu sorri falso, sem achar a mínima graça. Ela só sorria nervosa e assim ele acenou e a puxou em seguida. Novamente a roubou de mim, filha da puta. 

Nem disfarcei minha tristeza com aquilo. Estava todo animado em passar a festa ao seu lado e ele vem jogar um balde de água fria. A ideia dele ser o noivo e eu só o amante, me atingiu fortemente e eu fui buscar uma bebida. Era a única coisa que eu poderia fazer. Perdi toda a animação de dançar, de curtir de fato. Fiquei ali, na rodinha de todos os meus amigos, bebendo e a procurando com o olhar. Eu nem prestava atenção no assunto deles, que os causava altas gargalhadas e por isso eu tinha que forçar um sorriso de vez em quando. De tanto procurá-la, eu me arrependi quando achei-a. Foi um bom tempo depois e ela dançava com ele, com um sorriso de orelha a orelha; e às vezes até gargalhando. Me afastei dos meus amigos e prestei mais atenção naquela cena. Eles pareciam se divertir, estar felizes. Ele a rodava no ritmo da música e pareciam pronunciar brincadeiras, já que caíam na risada. Eu já tinha bebido muito e aquela cena não me fez nada bem. Fiquei olhando para ver se era real, se ela estava mesmo fazendo aquilo comigo e... ela estava. Os sorrisos dela, mais pareciam os que somente eu era capaz de arrancar. Minutos depois observando aquela cena, me senti num pesadelo. Para piorar ainda mais, eles começaram a se beijar. Meu coração apertou e de repente eu só queria saber o motivo daquilo. Eles dois pareciam tão felizes e a semelhança com a gente no nosso namoro era gigante. Mas não podia, era inaceitável. Ela era assim comigo! Só comigo! Eles não são felizes assim, ele é corno. Ela fica comigo. 

Aquilo começou a me machucar de uma forma sobrenatural e eu tomei toda a bebida do meu copo de uma só vez. Desceu rasgando, mas não era nada perto do que eu estava sentindo. Marquinhos se aproximou, com certeza por perceber eu os encarando.

 - O que foi, Luan? - ele perguntou, carregando preocupação na voz. 

 - Olha o que ela tá fazendo. - assumi meu incômodo. - Por que ela tá fazendo isso comigo, Marquinhos? 

 - Para, cara. Eles são noivos, deixa eles. 

 - Ela não pode fazer isso comigo! - esbravejei. Nunca senti aquilo, um ciúme sobrenatural me dominando. E raiva. Muita raiva. 

 - Você esperava o quê? 

 - Ela é assim comigo, Marquinhos. Ela nunca foi assim com ele... Ela tava comigo, ela estava tão bem comigo. Por que ela tá fazendo isso na minha frente? 

- Cara, o que vocês têm é só uma aventura! Ele é o noivo dela, deixa ela. 

- Não é só uma aventura! Entende isso! Eu vou lá, não vou deixar ela me fazer de palhaço assim. - ia sair, mas ele segurou meu braço. 

- Você não vai, Luan. - falou autoritário. - Não faz isso com você! Sei que eu incentivei, mas acho que você está saindo do controle, ela não vai largar ele.

- Ela vai deixar ele, Marquinhos. Ela me ama, você não entende. 

- Luan... Você quer mesmo estragar tudo? 

- É só um tempo... Mas ela não precisa fazer isso comigo. Ele deve tá forçando ela, é isso. Claro que é isso! - sorri, nervoso. 

- Cara, acorda. Pelo amor de Deus! - respirou fundo. - Ela tá sorrindo, Luan. Ela tá feliz. 

- Ela é feliz comigo. Você não vê! Ela me faz feliz... Ela... - suspirei, desesperado. Eu estava com uma raiva tamanha, um ciúme nunca sentido. Estava perturbado. 

- Você tem que acabar com isso enquanto dá! - aconselhou, me segurando como se eu fosse partir pra cima deles. Mas era isso que eu queria fazer! 

- Marquinhos, você não tá vendo? - falei baixo. Tristeza estava dominando minha voz. 

- Quem tá sobrando é você! Olha o seu estado por causa dela, Luan... Ninguém pode te ver assim.

- Eu só vou conversar com ela, eu juro! Eu vou perguntar por que. - falei tentando ser convincente para ele parar de empatar minha saída. 

- Não vai, Luan... Ela tá dançando com o noivo dela! Eles vão casar! Para com isso. Você não passa de um amante que diverte ela. E ninguém pode saber disso, pro bem de vocês dois! - falou mais sério e eu encarei os dois de novo, já com meu olhar caído. - Eu achei que pra você também era só diversão. 

- Eu quero ir embora. - pedi. Não aguentaria olhar aquilo nem mais um minuto. Sorocaba se aproximou com a mesma expressão de preocupação de Marquinhos e o mesmo apenas apontou para Tanara. Eles estavam com quê, pena de mim? 

- Leva ele pra casa, acho que já deu. Ele ficar aqui é pedir pra dar errado! - Sorocaba falou como se eu não estivesse ali. 

- Não, cara... - neguei. 

- É melhor, Luan. Eu te levo, já que você veio com seus pais.

- Não se preocupa, eu dou uma desculpa pra eles. - Sorocaba deu um tapa amigavelmente nas minhas costas e saiu, com olhares de alerta para Marquinhos. Era só o que me faltava! 

Eu não pestanejei, precisava sair dali. Saí disfarçadamente com o Marquinhos e fomos calados até o carro. Eu estava absorvendo tudo aquilo. 

- Olha, boi. A Tatá é minha amiga, eu amo ela, mas... É melhor você parar. Não tô dizendo que ela é culpada, nem nada... Só que eu só pude perceber agora! Isso tá tomando proporções que eu não imaginei quando dei a ideia. - falou, assim que deu a partida. - Você tá brincando com fogo, vai se queimar. 

- Fala de uma vez, não precisa de rodeio. - bufei. 

- Eles são noivos, eles marcaram a data... Você já se viram tantas vezes... você está apaixonado, Luan. Ela não vai largar ele. Você tem que entender isso. Quem vai sair mal no final é você. - falou calmo, com cautela. 

- Eu não estou apaixonado. - balbuciei. 

- Você sempre foi louco por ela...

- Ela sempre foi minha. 

- Mas eu pensei que com isso vocês se divertissem, ela se decidisse, sei lá! Só que não dá pra brincar com o coração. 

- Ela é minha, Marquinhos! - respirei fundo, atordoado. Não sabia o que pensar. 

- Ela era sua, Luan! Era! Já se passaram dois anos, cara. Supera isso! Para de se iludir. Se ela fosse sua, ela estaria sorrindo e dançando com o seu melhor amigo? Beijando ele na frente de todos? 

- Ele não é meu amigo. Nunca foi. Ele roubou ela de mim. Ele vai pagar, você vai ver. 

- Tudo bem, eu não vou mais me meter. Você é adulto, sabe o que faz. Só... cuidado. Eu quero o bem de vocês dois. - falou por fim e eu me calei. O silêncio tomou do conta do carro até chegarmos no condomínio. E mais uma vez, ele me tratou como um menino. 

- Eu fico aí com você, Luan. Não tem problema. - disse com cuidado. 

- Para, cara. Não sou criança! Estou bem. - o cortei.

- Não vou mais insistir. - se rendeu. 

- Você pode dar um recado meu a ela? - indaguei. 

- Cara, outro encontro? Você vai só vai se machucar. - me repreendeu precipitadamente.

- Não, nada de encontro. Fala pra ela... pra nunca mais, olhar na minha cara. O que ela fez não se faz, tá doendo. - encarei o chão, envergonhado por estar tão vulnerável. 

- Não desconta na bebida, Luan. Você já está bêbado, amanhã vai ter uma ressaca filha da puta. 

- Vai dar o recado ou não? 

- Vou, Luan.

- Boa festa! - saí, batendo a porta do carro. Não estava nem aí para ressaca alguma, minha única alternativa era afogar todas as minhas mágoas.

Muitos comentários e mais um hoje! Prestem atenção na condição, hein? Deu ruim! E agora, Brasil? Acho que isso tudo é consequência da falta de uma pessoa! #CadêAPri? Beijinho, beijinho... e tchau, tchau!