Capítulo 25

Domingo, 17 de dezembro de 2017. 

Tanara's POV. 

Ontem, estranhamente, eu dormi cedo. Sim, logo após de desejar um bom show para Luan. Já fazia alguns dias que eu estava na minha casa, sob os carinhos e os conselhos de Dona Fátima. E em todos esses dias, não deixamos de nos falar. Meu peito estava angustiado com tanta saudade dele, mas eu sabia que era preciso. Aqueles dias foram calmos e a cada um, eu refletia e chegava mais perto de tomar minha decisão. Também aumentava o meu afeto pelo meu serzinho, meu filho. Mesmo com tão pouco tempo, eu já gostava da ideia e o amava. Alisava e conversava com minha barriga todas as noites e manhãs, já ansiosa para ver o seu rostinho. A quem ele puxaria? Tomara que ao Luan. Seria lindo! Mas por que eu estou falando ele? Pode ser que seja uma menina; mais uma menininha pra ele cuidar e amar. Ah, meus amores... Eu não podia mais ver essa gravidez como um problema. Deus concedeu esse filho para nós e só ele sabe e pode tudo. São seus planos. E o que ele quiser pra mim, eu quero. 

Não via a hora de contar para Loli. Qual será reação dele? Daria tudo para ver! E quando minha barriga crescer? Ele vai paparicar? Ah, com certeza ele vai ser um pai babão! Ria sozinha, imaginando. Na hora do parto, ele entraria para ver? Não, não. Ele é um desmunhecado frouxo. Qual será a sensação que nós dois sentiremos ao pegarmos o nosso fruto no colo pela primeira vez? Com certeza seria o dia mais feliz das nossas vidas.

E nesses dias, boa parte dos meus pensamentos foram sobre esse assunto. Bruna, parecia tão empolgada quanto eu. Conversávamos todo dia e ela às vezes deixava escapar que queria ver o sobrinho, pega-lo, mima-lo. Me mandava tomar todos os cuidados, mesmo eu estando apenas com seis semanas. Pouquinho né?! Mas foi suficiente para mudar tudo dentro de mim. 

Eu descobri o tempo certinho depois de ir numa ginecologista confiável. Minha avó me acompanhou. Outra que aos poucos está sendo cativada pela ideia de ser bisavó. Todo dia eu anotava o dia que completava de gestação, para não esquecer. Queria saber tudo certinho! E sim, agora estou com seis semanas. Um mês e pouco. Minha barriga não dava nenhum sinal, o que de certa forma era bom. Ninguém desconfiava, ninguém perguntava. Ocorreu também, ultimamente, a diminuição dos sintomas fortes que eu já havia sentido, mesmo com tão pouco tempo. Agradeci. Com certeza esses incômodos viriam com o tempo. Ainda tinha oito meses pela frente. 

Hoje, infelizmente, acordei me sentindo um pouco estranha. Um sensação diferente pelo corpo, mas não necessariamente boa. Um pequena cólica, mas não me preocupou de início. Eu não me sentia mal e isso havia sido o sintoma que me fez suspeitar da minha gravidez. Ou seja, deveria ser normal. Ao me levantar pra ir ao banheiro, constatei então um sangramento fraco. Aquilo foi um susto pra mim, mas me acalmei ao lembrar do que descobri durante minhas pesquisas sobre o assunto: muitas mulher tinham sangramentos na gravidez. Tomei um banho com calma, sem me mexer muito. Só sentia a água descer pelo meu corpo, relaxando todos meus músculos. Assim que saí, colocando uma roupa simples para ficar em casa, eu decidi não mandar mensagem pro Luan. Era domingo, 08h00Tinha show hoje e deveria estar descansando do anterior. Coitado do meu Loli, reclamava-me que estava exausto com a rotina de shows. 

Tomei café com a minha avó, conversando sobre meu bebê. Tinha feito muito bem em contar pra ela.

- Luan vai amar, minha filha! - ela riu dizendo. 

Enquanto eu me levantei, de repente me deu uma dor lombar e a cólica aumentou do nada. Tive que sentar bruscamente e minha vó logo se preocupou. 

- Tontura? 

- Um pouco de dor. Não estou me sentindo muito bem. - torci a boca. 

- Vem, vamos deitar aqui no sofá. 

Ela me ajudou a ir até a sala e eu fiquei um tempo deitada. Fingi que a dor havia diminuído, não queria preocupa-la. Mas ao sentir uma sensação estranha novamente, fui ao banheiro de visitas com um pouco de dificuldade e constatei que havia outro grande sangramento. A quantidade me assustou muito, e chamei minha avó. Contei a ela tudo que estava sentindo e suas palavras apertaram meu coração. 

- Minha filha, eu acho que você tá perdendo... - disse calma. 

Meus olhos se molharam na mesma hora. Eu não queria perder. 

- Eu não quero. - falei já com uma voz preocupada, triste. 

- Fique calma! Se desesperar só vai piorar. Vamos trocar de roupa, precisamos ir para o hospital. - instruía com cautela e eu respirei fundo, para não deixar o medo me dominar. 

Tomei outro banho enquanto ela trocava de roupa e ela me ajudou na hora em que fui me vestir. Eu não conseguia falar nada, só rezava baixinho para meu filho estar bem. Estávamos sozinhas em casa e tive que dirigir, arrumando forças da onde não tinha. Só pensei em chegar logo e salvar meu bebê. 

Luan's POV. 

O celular parecia que ia explodir toda a minha cabeça. Tocava sem parar. Até tentei ignorar na primeira vez, mas ele retornou a tocar e eu levei a mão até ele. Só abri um olho, com muita dificuldade, pra ver quem ligava. Bruna. Meu Deus! Era muito cedo pra ela encher o saco agora, já que a gente mal conversava. O que ela queria? 

- Bruna, são nem 10h00 ainda, eu estou dormindo. Cansado pra caramba. Posso continuar ou não? - disse ríspido. Mas ela sabia que eu reagiria assim! Por que diabos me acordar tão cedo em plena segunda-feira? 

Meu estado físico já não ajudava. Tinha largado a academia, e só podia ser isso as dores e o cansaço frequente. No dia anterior havia aproveitado que estava bem até, e depois de um show, viajei e saí com uns amigos. Só cheguei em casa amanhecendo e não tinha dormido nem três horas. Parecia que minha cabeça ia explodir, de sono mesmo. 

- Pi, eu estou te esperando. - ela disse com um cuidado que me fazia ter vontade de atravessar o telefone. - Precisamos ir pra Fortaleza. 

- Que Fortaleza o quê... - disse rindo desacreditado. Ela me acorda pra brincar com a minha cara? - Larga a Tanara, tá legal? Fica dando de amiga de uma hora pra outra... Deixa esse teatrinho pra depois! 

- Luan, não é hora de brincar. É sério. -

meu alerta vermelho piscou com o tom de voz dela. 

- O que aconteceu? - disse já mais consciente. 

- Só vamos, pode ser?

- Não saio de casa enquanto você não falar. 

- É sério, por favor, vem logo. 

- Conta logo Bruna. - já estava preocupado.

- Só ela pode te dizer. 

- Foi o Felipe? 

- Não tem nada a ver com ele. Só vem logo, já liguei pro Assis. E leva roupa. 

- Você acha que é simples assim? Do nada, sair de São Paulo e ir até Fortaleza? 

- Eu pensei que você amasse ela. Quando você precisou, ela correu até você. 

Ela desligou e eu dei um pulo da cama, preocupado. Meu coração apertou, algo me dizia que tinha acontecido algo muito errado com a Tatá. Bruna tinha razão. Não podia por empecilhos, ela sempre correu para me ajudar! 

Não pensei em muita coisa, só peguei o celular e liguei pra Isabel. Tinha combinado de pegar Laura amanhã, para ficar até o natal. Sim! Passaríamos o natal juntos e no ano novo ela ficaria com a mãe. Mas agora, com essa notícia, não sabia quanto tempo iria passar lá. Eu não ia querer largar da Tatá e não podia ficar mais longe da Laura. Ou seja, juntei o útil ao agradável. Buscaria ela um dia antes do combinado, passearia com ela e veria o que aconteceu com meu amor. Isabel ficou de arrumar a mala dela, e pedi pra colocar biquíni, porque pretendia ir pra praia com as duas. Dei uma boa desculpa! Arrumei a minha correndo, tomei um banho voando e fui buscar minha princesa. 

Ela entrou no carro saltitante. 

- Papai, vamos viajar com a titia! 

- Vamos, meu amor. - beijei ela, arrumando-a na cadeirinha. 

Isabel falava o tempo todo na minha orelha instruções e eu só ignorava. Ela era uma boa mãe, mas eu também sabia cuidar da minha filha. Laura desencadeou de fazer mil perguntas no caminho até a casa dos avós, e eu só respondia algumas, preocupado com o que estava acontecendo. Quando cheguei na casa dos meus pais, Bruna havia chamado um táxi e eu guardei o carro na garagem enquanto meu pai levava minhas malas e as de Laura. Nem ele nem Xumba sabia muito bem o porquê daquela viagem, mas Bruna foi convincente na desculpa que deve ter dado, já que eles só nos mandavam ter cuidado com a Laura. Ficamos esperando o táxi e enquanto ele não chegava, minha mãe puxava assunto comigo. Justo quando minha cabeça estava bem longe... O que havia acontecido com a minha Pikitinha? Ela nem ligou, nem mandou mensagens. A curiosidade estava me matando e minha mãe cobrava minha atenção.  

 - Tá pensando em quê, meu filho? Presta atenção, eu tô falando com você.

 - Nada, Xumba. Nada! - sorri amarelo. Bruna estava entretida no celular com Laura e eu deduzi que elas estavam tirando foto. 

 - Ai, cadê esse táxi que não chega? - Bruna reclamou, mexendo no celular. Laura correu para o meu colo. 

 - Tava tirando foto com a titia, papai. - disse alegre. Ela estava toda empolgada com essa viagem. 

 - Eu vi, Lau. - assenti. - Sua tia é uma viciada! 

 - Luanzinho, você vai ter que cuidar direitinho dela. 

 - Mãe, eu não sou criança! - a repreendi, rindo e negando. - Eu sei cuidar da minha filha.

 - Você não sabe cuidar nem de você, Luan. - Seu Amarildo disse. - Vovô vai ficar com saudade! - pegou Laura no braço. - Não pode demorar muito, tá?! 

 - Papai disse que a gente volta pra passar o natal na chácara. - disse sorrindo, enquanto ele brincava com ela. 

 - Tem que voltar mesmo! Vai trazer presente pra gente? Vovô tá esperando. 

 - Vô babão esse seu, Laura. - Bruna se aproximou. - Olha Pi, como somos lindas. Essa menina só puxou a tia! - se gabou, me mostrando a tela do celular. Ela tinha acabado de postar uma foto delas. 

brusantanareal Partiu viajar com a titia? Coisa linda! @lausantanareal 

 - Ficou linda mesmo, mas eu curto depois.

 - Fica assim não! - me disse cúmplice. - Ela vai ficar bem. - falou quase num sussurro, fazendo meu coração apertar ainda mais. Então ela não estava bem? O que aconteceu com ela, meu Deus? 

O táxi chegou e novamente minha mãe nos dizia todo aquele ritual de cuidados com Laura. Meu pai a apertava falando coisas que a faziam rir até entrar no táxi. Bruna abraçou e beijou os dois e depois foi minha vez. Abracei minha mãe e ela encheu meu rosto de beijos. Ela ainda achava que eu tinha dez anos! Bati nas costas do meu pai, amigavelmente, e concordei com o que ele dizia, afirmando voltar logo. 

- Você vai levar mesmo ela? - Bruna perguntou já dentro do carro e longe da casa dos nossos pais. 

- Vou, preciso passar minha folga com a minha filha. - respondi. 

- Tudo bem... Laura vai gostar, né amor? - elas foram conversando até lá, o que não me deixou questionar Bruna. 

O mesmo aconteceu no caminho até Fortaleza no jatinho. Antes de chegarmos eu já estava resolvendo sobre o carro que usaríamos e como tenho muitos contatos, foi simples e rápido. Descemos no aeroporto particular e logo entramos no carro preto, com todos os vidros fumês, que me aguardava. Cumprimentei o cara e dei o endereço da casa da minha pequena. Trocamos poucas palavras durante o percurso e eu não via a hora de chegarmos. Laura olhava tudo pela janela e perguntava mil coisas que ficaram por conta da Bruna responder. 

Quando finalmente chegamos, Dona Fátima nos atendeu com um sorriso amarelo. Fiquei ainda mais e perguntei por ela. 

- Está no quarto meu filho... Sobe lá! - disse triste. 

- Posso ir com você papai? - Laura me puxou pela mão. 

- Não filha, papai vai conversar rapidinho e já volta. - expliquei. 

- Fiz um bolo, você está com fome? - Dona Fátima distraiu ela e as duas foram pra cozinha com ela, enquanto eu subi apressadamente até o quarto de Tatá. 

Bati na porta com calma e o coração batendo forte. Tatá falou um "pode entrar" fraco, e eu abri com calma, tentando mostrar confiança. Encontrei minha menina deitada na cama, coberta e quietinha, aparentemente dormindo. 

- Ô meu amor... - disse sorrindo. - Você está doentinha? - me sentei beijando seu ombro.

Ela despertou de supetão e acordou, virando e me olhando confusa, mas sorriu e passou os braços pelo meu pescoço, me abraçando forte. 

- Que saudade de você. - sussurrou. 

- Eu também estava morrendo de saudade, Pikitinha. - sussurrei de volta, sentindo seu cheiro dominar meu olfato.

- Eu te amo tanto, não posso ficar sem você. Não via a hora de te ver. - disse baixinho e eu me assustei um pouco com a sua declaração. 

- Eu não via a hora de te abraçar também, meu amor. - ri, enquanto ela me apertava forte. - Vim louco de preocupação com você. Me fala o que está acontecendo, Tatá. - pedi com cautela e ela me soltou, me olhando triste e amedrontada. Respirou fundo e eu alisei seu rosto, sustentando nossos olhares. - Por que esse olhar de medo? Você sabe que pode confiar em mim, eu sempre vou te compreender. - ela fechou os olhos e eu os beijei, delicadamente. - Hum? - pedi, com nossos rostos a milímetros  e nossos olhos ainda fechados. - Me conta, eu vou fazer o possível pra te ajudar, te entender. Ou até mesmo, o impossível. - insisti sussurrando e apenas senti uma lágrima escorrer pelo seu macio rosto. Merda! O que a deixou assim? 

Mas chegará o instante em que me darás a mão, 

não mais por solidão, mas como eu agora: 

por amor. 

- Clarice Lispector