Capítulo 20

Tanara's POV.

Confesso que foi difícil esconder as marcas deixadas por Luan, em mim. Cheguei em casa e todos estavam dormindo, ou seja, foi sorte. E depois eu só vivia com maquiagem no local. Cabelos sempre soltos e por pura sorte, Felipe estava muito ocupado no emprego e todo dia se desculpava por não estar me dando atenção. Ou seja, mal nos víamos e não tinha perigo dele tentar alguma coisa e ver os chupões. Nesses dias eu conversava com Luan por mensagens durante o dia e viramos noites conversando por ligação. Ele estava mais calmo, mais doce e o assunto "Felipe" era proibido entre nós.   Estava viajando e me contava tudo que acontecia. A correria nunca mudou e nessas horas me batia a saudade de quando eu o acompanhava, de quando namorávamos. 

Infelizmente os preparativos do meu casamento estavam rolando e por mais que eu soubesse que estava errada em não fazer nada, eu não tinha coragem. Marquinhos se afastou de mim e isso estava me deixando chateada. Mas eu sabia que ele só queria o meu bem! Ou melhor, nosso bem, já que se afastou de Loli também. Agora só tínhamos Cristina e Marina e isso me deixava apreensiva. Por que eu estava fazendo aquilo, meu Deus? 

Hoje, Felipe insistiu que eu fosse no shopping com ele, ajudado-lo a comprar algumas coisas; eu até neguei, mas depois de tanta insistência, minhas desculpas não foram suficiente. As marcas no meu pescoço não haviam saído completamente, mas estava bem fracas, o que me fez optar por um rabo de cavalo. Estava calor, não estava a fim de ir com cabelo solto. Claro que mesmo come elas quase impossíveis de se notar, eu passei maquiagem. Prevenir sempre era melhor! Me arrumei e ele me pegou em casa. 

Não estava disposta e juro que não era por doce. Eu estava com dores abdominais fortes, cólicas horríveis. Mas sempre que eu as sinto, logo em seguida minha menstruação desce; o que não foi o caso. Estou sentindo elas com frequência e nada de descer. Mas eu não estranhava; nunca foi totalmente regulada, certa. 

 - Que foi, amor? Tá sentindo alguma coisa? - ele perguntou, pondo a mão na minha coxa. 

 - Não. - sorri de lado. - Vai abastecer? - perguntei, vendo-o parar em um posto de gasolina. 

 - Vou sim. - sorriu e abaixou o vidro, falando com o frentista. - Vou na conveniência vou créditos no meu celular, você quer que eu ponha no seu? 

 - Não precisa. Obrigada. - agradeci.

 - Ia deixar pra colocar no shopping, mas preciso fazer uma ligação urgente. 

 - Vai lá. - sorri amarelo e ele saiu. 

Um cheiro horroroso invadiu meu olfato, era a gasolina. Estava forte e me incomodou de uma forma incomum. Me deixou enjoada e até com uma certa vontade de vomitar. Frentista me chamou para entregar a chave e eu peguei, agradecendo, já que Felipe já tinha pagado. O cheiro passou um pouco e eu olhei as horas no meu celular, não resistindo e desbloqueando em seguida. Abri no SnapChat e tirei uma foto, fazia tempo que eu não postava nada. 

Felipe voltou e eu entreguei a chave, fazendo-o dar partida logo em seguida.  Fomos para o shopping e ele pegava na minha mão, enquanto eu andava entediada olhando tudo sobre o meu óculos escuro. Entramos nas lojas que ele queria e compramos suas coisas. Meu lado consumista estava desativado e tudo que eu queria era voltar pra casa. Felipe me abraçava, beijava meu rosto, alegre e me perguntando por que eu estava daquele jeito. Eu fui sincera, disse que estava com cólica e ele não ligou muito. Felipe ignorava "minhas cólicas" por achar que não era nada demais e que eu sou fresca pra tudo. Já me irritei muito com esse seu jeito e agora aprendi a ignorar, foi o que fiz dessa vez. Felipe pediu para tiramos uma foto quando passamos por um espelho grande e eu atendi seu pedido.

 - Na câmera? - perguntou.

 - É, né?! - sorri óbvia. 

 - Põe no SnapChat, amor.

 - Por que isso agora? 

 - Eu não tenho Instagram e por isso você nunca posta foto comigo. Daqui a pouco vão achar que você é solteira, por isso quero aparecer nessa sua rede social, que, pra variar, milhares de pessoas te seguem. Agem como se você fosse famosa. - riu debochado.

 - Felipe, eu sou blogueira. - sorri desacreditada.

 - E o que é ser blogueira mesmo? Falta do que fazer! Aliás, esse povo que te segue deve ser como você. - me irritou, sendo que eu estava num péssimo dia para irritações. Pus no SnapChat e tirei a maldita foto, postando e guardando.

 - Depois cê me manda?

 - Mando, Felipe. Vamos, eu tô com fome! - sai na frente e ele apressou os presos, segurando minha mão. Entramos em um restaurante e ele novamente quis uma foto, mas agora no celular dele. Tiramos na frontal e ele pareceu ter enviado em algum grupo, o que eu não me importei. Comi emburrada, enquanto ele falava e eu só assentia. Saímos do restaurante antes da 17:00 e finalmente iríamos embora. Só que no meio do caminho, eu tive uma surpresa. Estávamos andando ainda no shopping, quando eu senti uma mão no meu ombro, me cutucando. 

 - Tatá? - me chamou, e eu reconheci aquela voz. Eu. Não. Estou. Acreditando. Virei, juntamente de Felipe e confirmei minha suspeita. 

 - Minha maravilhosa! Socorro! Eu não acredito. - Priscila falou, boquiaberta. Era ela mesmo.

 - Pri, meu amor. - me soltei de Felipe, indo abraçá-la. Foi um abraço forte e nossa felicidade era perceptível. - Como você tá?

 - Eu tô ótima, estava viajando. E você?

 - Eu tô bem também! - sorri.

 - Fazia tempo que eu não te via, nossa, sua loca! - falou com aquele jeitinho, me fazendo rir. - E eu sei que você está muito bem. É só eu viajar e abandonar um pouco o fc, que você volta pra São Paulo, posta foto com a Laura e ainda é madrinha com o Luan no casamento do Sorocaba. Perdi muita coisa, nossa! Me fala, vocês finalmente resolveram voltar? É claro que sim! E olha, fique sabendo que o lunara vai estar de volta hoje à noite... Só estava apurando os fatos, as fotos... Sabe como é, né?! Acredita que eu estava morrendo de saudade de sambar naquele Instagram? Ser rainha é cansativo, mas olha, deixa saudades. Nessa viagem eu estava pensando em vocês, já pressentia isso! Louca pra gritar um: brilha ou não brilha?! - falou sem parar, me fazendo sorrir nervosa, já que Felipe estava atrás de mim e ela sequer percebeu ele ali. 

 - Pri... - tentei me pronunciar.

 - Como vocês chegaram a essa decisão? Quando vão assumir de novo? Luan é muito lento, cara. Já era pra ter assumido! Sempre assim, demora séculos. Você está tão linda, Tatá! A Laura gostou de você? Olha, eu vou retomar as postagens e quero você curtindo tudo! Fala pro Luan que eu também quero curtida dele! Ah, quem é esse com você? - sorriu pro Felipe, acenando. Olhei-o apreensiva e ele me lançou um olhar sério. - Ô queridinho, deixa de ser antipático! Desperdicei meu sorriso com você, nossa. Mas também não tem problema! Porque eu vou ter milhares de outros sorrisos, meu casal voltou. Tá ouvindo, bonitão? Ele já deve saber, né Tatá? Claro, todo mundo sabe, menos eu. Eu deveria ficar chateada por você não ter me contado nada...

 - Ô mocinha, de que casal você tá falando? Eu sou Felipe, noivo dela. - Felipe se intrometeu, me deixando nervosa. 

Luan's POV.

Bruna achou um texto e depois de lê-lo, afirmou que não era minha letra, mas estava no meu quarto. Eu não escrevi nada, então só podia ser... Tatá.  Eu prestei em cada palavra dele e nossa, ficou lindo. Mas qual o motivo de escrevê-lo? Ela queria me deixar mais louco ainda? 

Bruna insistiu e eu desconversei, a percebendo desacreditada. Ela não acreditou, mas ela não tinha nada a ver com a minha vida. Foi dormir pensativa e eu torcia para ela desencanar daquela história logo e não comentar nada com Xumba. 

Passaram-se os dias e eu estava vivendo minha rotina corrida mais uma vez. Eu amava aquilo, era o que me fazia feliz. Cantar, meu dom. Mas apesar de amar tudo aquilo, quando ficava sozinho meus pensamentos eram tomados pela dona deles. Eu falava com ela todo dia e nós virávamos madrugadas conversando. Ouvir sua voz me deixava feliz, poder gargalhar das bobeiras que ela falava me deixava feliz. Naqueles nossos momentos eu esquecia que ela não era minha e só depois, desiludido, refletia sobre minha real situação: vivo na saudade de alguém que não é meu. 

Acabo de acordar em mais uma cidade, em mais um hotel, em mais um quarto luxuoso e em mais uma cama que não é minha. Olhei as horas e não me admirei. Sempre assim, sempre acordando tarde nessa maratona de shows. Desbloqueei meu celular e fui olhar todas as mensagens, sentindo arrependimento ao chegar no grupo dos meus amigos. 

Então o casalzinho está fazendo compras? Que bom pra eles, que ótimo pra Tanara. Cínica. Como eu posso ser apaixonado por uma menina tão fingida?! Insistindo na ideia de que na vida passada eu cometi os piores pecados, e bufando, eu fui tomar banho. Nem a respondi, vê-los assim me tirava do sério, o ciúme me perturbava e eu não tinha paciência para nada, para ninguém. Principalmente pra ela. 

Tanara's POV.

 - Como assim seu noivo? - Priscila riu, sem entender.

 - Pri, foi ótimo te ver... Mas nós precisamos ir! - a abracei, cortando os dois. - Tchau. - me soltei, sorrindo e pegando na mão de Felipe. O puxei tão rápido que ele nem teve chances de falar nada. 

 - Do que essa menina estava falando, Tanara? Foi isso que eu entendi?

 - Vai querer discutir aqui, no meio do shopping? No carro nós conversamos, Felipe. No carro! - disse firme e ele concordou, emburrado. Ele mal me esperou entrar no carro e já me bombardeou de perguntas.

 - Eu falei que vou te explicar, Felipe. Dá pra parar?

 - Cara, eu escutei Luan, Laura, voltar, brilhar... Eu estou perdido, Tanara. Não estou entendendo nada! - dirigia nervoso. 

 - Eu já namorei o Luan, Felipe. - falei pausadamente e ele freou imediatamente. 

 - Você o quê? - me encarou. 

 - O Luan, seu amigo, já foi meu namorado. Aquela é a Priscila, uma fã do Luan que se tornou fã da gente. Do casal. - falei baixo e ele começou a rir.

 - Isso é algum tipo de... piada? Se for, não tem graça. 

 - Estou falando sério, Felipe. Faz tempo, eu não sabia que vocês dois eram amigos.

 - Você namorou o Luan? O Luan Santana? Meu amigo Luan? 

 - Sim, Felipe. Faz dois anos. Todo mundo sabe. 

 - Não, eu não sabia. Tanara, porra! Por que você me escondeu isso? Eu tenho cara de otário? Eu não posso acreditar. 

 - Eu não tive como te contar.

 - Precisou da ajudinha daquela maluca? E o Luan? Por que, vei? 

 - Felipe, já faz tempo... Calma.

 - Calma? Você quer que eu fique calmo? Você já namorou o meu melhor amigo, todo mundo me esconde e você ainda quer exigir minha calma? Ótimo, Tanara. Eu não vou falar nada! Está tudo bem. Você namorou o Luan e está tudo bem. 

 - Fê... - falei com cautela e ele só acelerou, segurando na direção com força. O silêncio tomou conta do carro e ele só bufava. Por que ele estava reagindo daquela forma? Não vai me pedir detalhes? 

 - Esse não é o caminho da minha casa, Felipe. - disse assim que percebi.

 - Vamos pra minha. - disse ríspido e eu lhe olhei apreensiva. - Por que está me olhando assim? Está tudo bem. - sorriu nervoso. - Você namorou o Luan, eu já escutei, já entendi. Está tudo certo! - falou, me surpreendendo. Ele só podia estar brincando com a minha cara.

 - Fê... Eu explico pra você! Eu conto. 

 - Não quero ouvir. Me dá um tempo pra absorver isso, tudo bem? Depois você me explica tudo. Mas agora não. Agora, definitivamente, não. - me intimidou. Engoli seco e permaneci calada até chegar na sua casa. Eu não estava entendendo nada! Entramos e ele subiu para o seu quarto, me fazendo guia-lo. Sentei na sua cama, mais desentendida ainda, e receosa. Ele tirou a camisa e sentou do meu lado. Me olhou por um tempo, me deixando sem graça o suficiente para acabar com aquele silêncio frustrante. 

 - Fê... - balbuciei, e antes que eu continuasse, ele me beijou. Eu continuava sem entender porra nenhuma e só correspondi o beijo. Ele intensificou, afastou minha bolsa e pegou no meu cabelo. Foi me deitando na cama e todas aquelas sensações que eu senti quando ele "forçou", retornaram. Eu não podia, eu não conseguia. Não conseguia.

 - Fê, eu não consigo. - afastei sua cabeça, justo quando ele beijava o meu pescoço. Ele levantou irritado e socou a cama. Recuei, apreensiva novamente.  - Me desculpa.

 - Por quê? - me encarou. - Por que você tá me evitando? Por que não me deixa te tocar? Por que escondeu seu namoro com o Luan de mim? Por que, Tatá? Sem enrolação, sem desculpas, sem discussão. Vamos falar sério! 

 - Eu vou te contar tudo, Felipe! Não dá mais pra mim. - confessei. - Eu não aguento mais essa situação, eu vou te contar toda a verdade. - o encarei, decidida a contar tudo de uma vez. Eu seria sincera, como jamais fui com Felipe. Ele saberia de tudo, agora.