segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Capítulo 7


- Momento certo pra quê, seu louco? Abre essa porta. - pediu, falando baixo.
- Momento certo pra falar o que eu tenho pra te falar!
- Então fala de uma vez e me deixa sair! - tentou desviar de mim, mas eu me meti no meio novamente, sorrindo irônico. 
- Esteja amanhã, às oito horas, no meu apartamento.
- Você tá brincando com a minha cara, não é? - riu, desacreditada. 
- Sabe que não? Estou falando sério, Tanara. - meus olhos penetraram os seus, a fazendo voltar com a expressão de receio. 
- Me espera, Luan. Mas me espera sentado! Em pé você vai cansar. 
- Ah vou? Acredita que em pé eu vou fazer outras coisas? Tipo contar agora do nosso namoro pro Felipe...
- Conte o que quiser. - deu de ombros.
- E, claro, também da nossa noite. - a encarei sério e ela me olhou como se não acreditasse, como se eu não fosse capaz.
- Você não faria isso. - me olhou superior.
- Ah, não? Tem certeza? Então não vai. - virei para destrancar a porta, pronto para chegar aonde todos estão e abrir o jogo.
- Luan. - segurou meu braço. - Espera. - abaixou a bola. Ela sabia que eu era capaz. 
- Esperar o quê? Você já deu sua resposta! 
- Por que você tá fazendo isso comigo? Eu nunca te fiz nada! - me olhou manhosa. Ela não vai me ganhar com esse olhar de inocente, não vai mesmo.
- Só mudou minha vida, Tanara. 
- Eu te fiz feliz!
- Mas também fez infeliz, quando me deixou.
- Você sabe que foi preciso.
- Eu só sei que precisamos conversar, como dois adultos, como duas pessoas que se gostam. Sem Felipe, sem ninguém. Você vai ou não?
- Você não pode me ameaçar assim! 
- Claro que posso! 
- Você não faz fazer isso comigo, eu sei que você não tem coragem. Você me ama. - sorriu, vitoriosa. Malandra!
- Acontece Tanara, que, eu não tenho mais nada pra perder. Ou você vai, ou eu conto tudo. É bem simples! 
- Você vai perder um amigo.
- Perdi a amizade do Felipe desde o aniversário do Sorocaba, quando ele te apresentou como noiva. - disse sincero, tentando passar na minha expressão que ela devia sim, temer. 
- Tudo bem, Luan. Eu vou. 
- Se você não for, Tanara...
- Eu vou, caramba! Já falei que vou. Agora me deixa sair?
- Está linda. - sorri e ela me olhou desacreditada.
- Você é um cara de pau, sabia?
- Eu sou cara de pau? Tem certeza? Você também não vale nada, Tanara.
- Não acredito que isso tá acontecendo com a gente!
- Eu também não. Gostou da nossa noite? - me aproximei dela, percebendo-a ficar mexida. 
- Odiei. Foi um lixo! Pior transa de toda a minha vida! Agora sai da minha frente.
- Você é uma baita mal agradecida. Te dou orgasmos como aqueles e você me agradece assim? Ingratidão é feio, Tanara.
- Vai à merda! - se irritou, me fazendo rir. - Sai da frente, Luan Rafael. 
- Eu não, Pikitinha. Antes eu vou te roubar um... - antes de terminar a frase eu já estava segurando seu rosto com os nossos lábios colados. 
- Cachorro. Pilantra! - me xingou ainda de olhos fechados, enquanto fingia querer sair dali mas estava mole em meus braços. Cheirava seu pescoço, tentando amenizar o vazio que ela me causou. - Por favor, Luan. Por favor! Vão nos ver aqui. - pediu com a voz falha e eu selei nossos lábios rapidamente. 
- Às oito, não esqueça. - falei, saindo em seguida. Ainda percebi seu olhar indignado lançado pra mim. Linda! 

Voltei para onde todos estavam e percebi minha mãe me olhando desconfiada. Calma, Dona Marizete. Não posso contar agora, mas você vai ter sua nora preferida de volta. Felipe estava entretido na conversa com meu pai, nem percebeu minha falta. Mas Natacha percebeu. Paciência! 

- Onde você foi? 
- Vai querer me controlar dentro da minha própria casa? - ri, fingindo estar rendido. 
- Brinca com a minha cara, Luan. Brinca mesmo! Eu tô de olho! Você não me engana! - se aproximou mais de mim. - Não importa se é noiva do seu amigo, você é um cachorro, eu não duvido de nada. - sussurrou no meu ouvido, me fazendo gargalhar. 
- Sua imaginação é ótima Natacha. Então agora eu estava lá dentro, pegando a noiva do meu amigo?
- Ela tem cara de sonsa. Não me engana! 
- Seu problema é sério, Natacha. 
- Você olhou diferente pra ela. Eu percebi!
- Deixa de ser paranóica. E para de agir como se fosse minha dona, não somos nada. Nada, Natacha! - me irritei e saí dali. Ela tinha conseguido estragar o ótimo humor que beijar minha menina me causava. 

Tatá voltou minutos depois e se enturmou rapidamente. Ela me lançava olhares e quando eu os encontrava, ela percebia a intensidade daquela ligação e disfarçava rapidamente. Felipe ficava alisando-a, abraçando-a, o que podia me tirar do sério, mas eu bebia meu uísque quieto, respirando fundo. Não ia deixar meu ciúme estragar tudo! 

Logo a janta foi servida e para variar, eu não fazia noção do que eles estavam conversando. Estava muito concentrado em seca-lá. Ninguém estava percebendo, acho eu. Natacha tinha parado de pegar no meu pé e não demorou para Laura dormir. Felipe e Tanara se despediram e claro, eu não podia deixar de dar um forte abraço nela: 

- Amanhã, às oito. Não esqueça! - sussurrei, a fazendo arrepiar-se. Disfarçou me dando um "tchau" em um sorriso tímido e nervoso. Eu ri. 

Depois que saíram, começou o falatório sobre "a noiva do Felipe"; mas meus pais não tocaram no assunto "minha ex namorada", já que eu pedi disfarçadamente por Natacha estar lá. 

Como Laurinha já estava dormindo, eu preferi levá-la logo para casa. A peguei no colo e me despedi de todos, enquanto me mandavam ter cuidado. Amavam muito a neta, mesmo ela aparecendo de surpresa e causando tanta confusão na minha vida. Natacha se despediu mais seca e eles foram simpáticos. No carro ela não falou nada e foi melhor assim. Não estava a fim de discutir. 

Estacionei em frente ao seu condomínio e ela me olhou desentendida. 

- O que foi? - indaguei.
- Pensei que você fosse deixar primeiro a Laura.
- Por quê? - sorri, juntando as sobrancelhas. 
- Pensei que ficaríamos juntos essa noite, Luan. Você é muito lerdo! - bufou. 
- Acho melhor não, eu tô cansado.
- Tudo bem então. - veio me dar um beijo e eu virei o rosto. Ela me olhou triste e saiu, batendo a porta do carro com força.

Tanara's POV.

Eu estava certa em hesitar ir naquele jantar. Luan me colocou contra a parede, ameaçando contar tudo para Felipe. Ahgr! Que raiva! Ele não podia me ter nas mãos daquele jeito. Não tive outra saída: confirmei que iria. O que nós conversaríamos? Não tinha conversa, definitivamente não tinha. Adorei rever meus ex sogros, mas acabei voltando para casa perturbada e negando Felipe novamente. Ele se irritou. Afirmou que há tempos não rolava nada entre a gente e eu ignorei sua reclamação. Não ia transar sem vontade só para agrada-lo. Não mesmo! Insensível. 

Meus pensamentos novamente foram tomados para Luan e eu ficava cada vez mais desnorteada quando as horas iam passando e horário exigido por Luan se aproximava. O que eu faço, meu Deus? Estava mexendo no meu site, respondendo alguns comentários, quando Eduarda avisou-me que eu tinha uma visita. Ela estava me esperando lá embaixo. Quem era? Não estava esperando ninguém. Felipe? Não, não, ele não pode ser grudento a ser ponto. Aliás, nem me comunicou nada. Me ajeitei intrigada, curiosa; e ao descer as escadas tive uma maravilhosa surpresa. 

- Eu não acredito! - abri um sorriso, correndo para abraçá-lo. Era Marquinhos!
- E aí, popozuda! - me apertou, rindo. - Não te esqueci. 
- Seu louco! Que saudade! - ria de tanta felicidade em vê-lo. 
- Ô muié, cê que sumiu. - riu da minha empolgação. - Vim te ver.
- Ainda bem! Nossa, vamos pro meu quarto. - peguei na sua mão e saí, puxando-o. 
- Tem certeza? Você agora é noiva, ele pode não gostar. - disse receoso e eu o olhei desacreditada.
- Para, né?! Me poupe. Vamos! - ele deu de ombros e nós terminamos de subir. Entramos no meu quarto e ele se sentou na cama, começando a contar o que tinha acontecido com ele nesse tempo que infelizmente nos afastamos. Eu comentei um pouco de mim também, consequentemente falando do meu noivado. Eu considerava Marquinhos um grande amigo e ele apareceu no momento que eu mais precisava. Precisava desabafar e acabou sendo com ele. 

- Vocês dois são loucos, Tatá. Minha nossa senhora! - disse após eu contar tudo. 
- Eu fiquei tão arrependida...
- Em menos de dois meses que se reencontraram, já rolou tudo isso. Por isso eu torço por vocês, vocês dois juntos só resulta em coisas emocionantes. - fingiu um drama e eu ri fraco, lhe acertando um tapa. - É sério Tatá, deixa tudo mais divertido!
- Marquinhos, eu tô mal! É pra me ajudar, e não pra rir da minha situação.
- Quer mesmo minha opinião? Pra mim o Luan nunca te esqueceu e você nunca esqueceu ele. Vocês se gostavam de verdade, não mereciam acabar daquele jeito.
- Foi preciso. - suspirei.
- Ele sofreu muito, você sabe, não é?
- Eu também sofri! 
- Vocês ainda se gostam. - riu. 
- Claro que não! Eu tô com o Felipe. 
- E por que deixou que rolasse com o Luan? Por que tá preocupada assim? Por que seu olhar tá diferente em falar dele?
- Você tá viajando.
- Não tô! Você gosta dele e você sabe disso. 
- Ah, quer saber? Eu tô confusa, Marquinhos. O que a gente teve foi muito forte, rever ele depois de tanto tempo me deixou mexida.
- Deixou mexida porque amor não acaba assim, tão fácil.
- Não exagera, Marquinhos.
- Eu exagerar? Eu acompanhei todo o relacionamento de vocês, sei o que eu tô falando. Acompanhei toda a história, o término...
- Mas passou, poxa! Foi há dois anos.
- Tem coisa que o tempo não cura, Tatá. Aceita isso! 
- Eu não sei o que fazer! Ele não podia me ameaçar assim.
- Você não ouviu o que eu falei? Ele gosta de você, ele tá fazendo isso por vocês.
- Ele tinha que respeitar meu noivado!
- Ele te amava e no dia que você pôs um fim definitivo, ele aceitou, Tatá. Ele desistiu fácil de você! E arcou com as consequências disso. Com você de volta, acha mesmo que ele vai desistir fácil novamente? Vai repetir o erro?
- Eu não posso ir hoje.
- Vai e conversa com ele, Tatá. Para de fugir do cara, isso é frustrante. 
- Eu e o Luan sozinhos não dá muito certo.
- Não resistem e se comem, é isso? Outro fato que prova que se gostam, não sei o que você tá fazendo com o Felipe!
- Marquinhos, para. 
- Tatá, é verdade uai! - riu, sincero. - Você tá arrependida de ter traído o Felipe mas sem perceber continua traindo, só que pelo o pensamento. Gosta do Luan e gosta do Felipe. Tá confusa!
- Se eu não for ele vai contar tudo pro Felipe.
- E o que te dá tanto medo? Luan não vai te estuprar, Tatá.
- Deixa de ser idiota!
- Não tô te entendendo. Tá com medo de demonstrar que também gosta dele? Você tá se crucificando por gostar de outro, estando noiva. É isso?
- Para, eu gosto do Felipe!
- E tá mexida desse jeito? E traiu ele? Quem gosta não trai! O que piora muito quando essa traição é com um grande amor seu.
- Do passado! 
- Assume pra você, Tatá. Assume que ainda sente algo pelo o Luan! Não vou te julgar, vocês tiverem uma história, pô! - disse amigável, compressivo. Eu o olhei nervosa, respirando fundo. - Vai Tatá, assume, vai te fazer bem! - insistiu, me dando coragem.
- Tudo bem. Eu acho que não esqueci o Luan e estou mexida com nosso reencontro, com a nossa noite. Eu acho que ainda gosto dele.
- Ama.
- Gosto, Marquinhos!
- Ama, caramba!
- Mas eu também gosto do meu namorado, senão eu não iria casar com ele. 
- Ok! Você acha que ainda sente algo pelo o seu ex, o qual teve uma história intensa com você. Mas está noiva, obviamente gosta dele. 
- Isso, isso! O que eu faço?
- Eu posso ser bem sincero?
- Fala. - suspirei.
- Fica com os dois. - deu de ombros e eu soltei uma gargalhada desacreditada.
- Você é louco? 
- Tô falando sério, Tatá. Seríssimo. Você tá confusa, dividida. Gosta do Luan, gosta do Felipe... Você não pode casar enganada! 
- Você tá sugerindo que eu traia o Felipe?
- Eu tô sugerindo que você descubra de quem realmente quer estar ao lado. Vai hoje conversar com o Luan e fala minha ideia!
- Luan nunca ia aceitar isso. Luan é orgulhoso, é possessivo... 
- Ele te quer só pra ele, eu sei. Mas ele deve saber que só te ameaçando não vai te fazer terminar com o Felipe! Então, ele vai aceitar. 
- Eu nem sei porque tô te ouvindo. - ri, nervosa. 
- Tatá, trair não é a pior coisa do mundo. Para de ser certinha! 
- Você tá sugerindo que seja uma puta e eu que sou certinha demais?
- Puta você seria se traísse ele sem motivo, com qualquer um. É o Luan, Tatá! Vocês tiveram uma história, vocês se gostaram e agora você tá confusa. 
- Eu não sei trair.
- Toda mulher sabe trair, Tatá! No seu lugar eu aceitaria isso. Não ficaria remoendo essa indecisão, sofrendo por isso... 
- Ai, Marquinhos.
- Vai conversar com o Luan, Tatá. Se resolvam! Caso você siga o meu conselho, eu vou dar todo o apoio pra vocês. Eu quero vocês dois juntos de novo! Você não combina com o Felipe, sabia? Não tem nada a ver. 
- Deixa de ser implicante! - o repreendi. 
- Estou falando sério, popozuda. Você já conhece todos os defeitos do Luan, todas as qualidades... E o Felipe? Namorando há 5 meses à distância, acha que dá pra conhecer ele? Casar é uma coisa séria, Tatá.
- Você tá piorando tudo. Não sei nem mais o que pensar! - confessei, com a mão na testa. 
- Só falo a verdade! Mas tudo bem, vamos mudar de assunto. - riu, começando a falar de outra coisa. Me distraí um pouco naquela conversa, mas ainda pensava muito no nosso assunto anterior. O que eu faço agora? Estou ferrada! 

Luan's POV.

Naquela madrugada eu não consegui ao menos fechar o olhos. Meus pensamentos estavam perturbados, estavam naquela confusão que me meti. Estava decidido a lutar por ela, não desistir tão fácil. Só que era muito complicado! Por mais que eu saiba que ela ainda sente algo por mim, sei também que ela gosta dele. O que me atormentava. Ela com certeza não trocaria, tão de repente, o noivo por um cara que errou tanto com ela no passado. Por mais que nosso sentimento tenha sido forte, intenso, verdadeiro. Se ela estava aceitando minhas ameaças, é porque ela teme que o Felipe descubra tudo e termine com ela. Ela não quer perdê-lo. E agora? O que eu faço? É, foi o que eu pensei em toda a madrugada. Precisava conversar com ela, mas já previa suas palavras. Havia uma hipótese, que de primeiro eu hesitei. Nunca eu aceitaria aquilo. Nunca ela aceitaria aquilo. Mas depois de hesitá-la, eu comecei a analisa-la melhor. Reconquista-la enquanto ficamos nos vendo escondidos, já que ela não vai querer largar o Felipe! Não sou homem para isso, nunca precisei. Tenho todas em qualquer momento e isso piora quando é a Tanara. Eu nunca aceitaria dividi-la. Ela era minha, só minha. Seria sofrimento demais pra mim! Mas calma, Luan. Esqueça seu lado possessivo e pense com inteligência, você precisa tê-la de volta. Pensei, pensei, pensei... E cheguei a uma conclusão: eu me crucificaria por ela. Por amor. Lembro-me que em 2013 a tive muito fácil e a deixei ir na mesma facilidade. Dessa vez seria diferente! Valeria a pena o meu esforço. Eu a conquistaria, a traria pra mim e nunca mais, repito, nunca mais vou deixá-la escapar entre meus dedos. Eu vou sofrer, eu sei que sim. Vou me destruir por dentro sabendo que ela está fazendo com outro tudo que fizemos, mas era preciso. Lutei muito no início da minha carreira e hoje colho os frutos disso, sou um dos maiores cantores do Brasil. Um dos mais famosos, um dos mais ricos. Talvez milionário. Por que eu não teria a mulher que amo? Ou melhor, a menina. É claro que eu teria! Esquecerei meu orgulho, sofrerei, mas vou reconquista-lá. Ela vai ser minha de novo. E como na minha carreira, eu vou colher os frutos: seremos felizes. 

Fui dormir já de manhã e passei o dia da mesma forma, pensando na minha decisão. Dispensei Marina mais cedo e quando foi se aproximando do horário marcado por mim, eu fui tomar banho. Caprichei na minha arrumação, no meu perfume. Eu queria estar perfeito para ela. Bebi um pouco do meu companheiro uísque apenas para me dar coragem e fiquei vigiando os minutos passarem. Pode parecer ridículo, mas eu estava me sentindo estranho. Com um frio na barriga, nervoso. Como um adolescente! Uma merda. Eu precisava ser firme com ela, não podia demonstrar esse receio. Já estava roendo as unhas, cogitando a ideia de ter levado um bolo quando a campainha tocou. Meu coração deu um solavanco e eu levantei. Chequei como eu estava rapidamente e fui abrir a porta, dando de cara com ela mais linda do que nunca. Ela só podia fazer aquilo para me provocar, não era possível! 

- Que bom que você veio. - sorri. 
- É, eu vim. - disse séria. 
- Entra. - dei espaço, ela passou e eu fechei a porta. 
- Com ameaça, como não vir? 
- O objetivo era esse.
- O que você quer, Luan? - cruzou os braços, me encarando. 
- Você. - respondi focado, sem parar de olhá-la nos olhos. Ela mudou a expressão defensiva e começou a transformar o olhar em um olhar sem graça. 


Fanfic nova pra vocês, a da Anna:
(odestinols.blogspot.com)
Vocês vão amar, é uma história linda! 

sábado, 26 de dezembro de 2015

Capítulo 6

Tanara's POV. 

Acordei com um sorriso enorme, com a sensação de ter sonhado um sonho maravilhoso: uma noite com Luan. Olhei pro lado e vi que não tinha sido um sonho, era real. Luan estava ao meu lado, dormindo profundamente. Estiquei minha vista e percebi que ele me abraçava, sua mão me prendia a ele. Apenas um lençol nos cobria. Meu Deus! O que eu havia feito? Punha a mão cabeça, fechando os olhos e recebendo os flash's da nossa noite. Sorri em um devaneio, foi maravilhoso. Fui completada como nunca mais havia sido. Só ele sabia me satisfazer. Não, não, Tanara! Pare! Você traiu seu noivo, sua louca. E com o amigo dele, seu ex. Fiquei com medo de tentar sair e acordar ele, já que estávamos meio abraçados. Eu não saberia o que dizer. Aquilo não era normal, aquilo era vergonhoso. Agi como uma safada, puta. Merda!

 Com muita cautela, fui tirando suas mãos aos poucos. Torcendo para que ele não despertasse, torcendo muito. E tanta torcida acabou dando certo. Consegui me livrar de suas mãos e da nossa proximidade. Olhei os cantos do quarto e vi que nossas roupas não estavam no chão dali. Estou agindo como se eu estivesse bêbada, não é? Mas eu estava atordoada. Aos poucos fui lembrando de tudo e me arrependendo cada vez mais. O certo era eu me arrepender mesmo. Mas merda, eu estava relutantemente suspirando e soltando sorrisos ao lembrar do quanto foi gostoso, do quanto eu estava com saudade do nosso encaixe. Não, você não devia ter feito isso, Tanara. Não tem que está feliz com esse erro, definitivamente não. Saí de lençol em busca das minhas roupas e as achei na cozinha, no mesmo lugar. Lembre-se Tanara: nunca mais fique sozinha em uma cozinha com Luan. Parece que elas nos empurram, nos embriagam. Ou talvez não fosse elas. Ok, não, elas não são as culpadas e você não vai atrás dessa justificativa agora. Tenho a sensação de sabe-la, mas não posso aceitar. Eu era comprometida. Luan era meu passado. Somente! 

Peguei-as e fui para o banheiro central do apartamento, vestindo rapidamente. Não podia voltar para o quarto de Luan, ele podia acordar com o barulho. Peguei minha bolsa, calcei minha sandália, ajeitei meu cabelo e quando ia sair, dei de cara com uma mulher. Ela estava chegando e aparentava ser só um pouco mais nova que minha mãe. 

- Oi? - perguntou assustada.
- Oi. - sorri nervosa.
- Quem é você? Desculpa perguntar, mas, Seu Luan não costuma trazer mulheres pra cá. - se explicou, envergonhada.
- Não, quê isso. Eu sou Tanara...- sorri de lado. 
- Tanara? Ex namorada...!?
- É! Eu dormi aqui porque...
- Não, não precisa se explicar. Quê isso! Mas a senhora não estava morando em Fortaleza?
- Senhora não, né?! Sou nova! - ri. - Eu moro lá... Eu acho que o Luan vai te explicar melhor! Qual o seu nome? 
- Marina. Trabalho aqui com Seu Luan! - estendeu a mão e eu apertei, sorrindo ainda nervosa. Ela parecia ser uma pessoa boa. 
- Eu preciso ir, viu Marina? Gostei de te conhecer... Ah... E se puder, diz pra Laura que eu deixei um beijo.
- Digo sim! - riu. 
- Tchau! - acenei, saindo.
- Tchau, Tanara! - sorriu simpática, talvez rindo da minha cara de desespero. 

Luan's POV.

Acordei já suspirando, antes de abrir os olhos eu já lembrara da minha noite espetacular. Aquela menina ainda vai me deixar louco. Se é que já não estou! Feliz, com a expectativa de vê-la ao meu lado e poder beija-lá, dando-lhe um bom dia, acabei me decepcionando. Ela não estava ali. Ela não pode ter ido embora! Ou pode? Dessa louca eu não duvido de nada. Mas nem isso vai estragar meu bom humor. Você não vai se livrar de mim tão fácil, Dona Tanara. Tomei banho com sorrisos de um idiota, lembrando de cada detalhe. Eu a amava. Definitivamente sentia amor. Mas para estragar meus bons pensamentos, minhas ótimas lembranças, lembrei que aquela noite não havia sido uma noite de amor, de flashback, de matança de saudade; havia sido uma noite de traição. Traímos Felipe. Respectivamente um amigo e um noivo. Ele não merecia isso, eu sei que não. Mas eu também não merecia! Não merecia ficar sem ela, a menina que amo. 

- Bom dia, Marina! - cheguei sorridente na cozinha. Nunca mais vou olhar para cozinha normalmente. 
- Bom dia, Seu Luan. Acordou de bom humor?
- Olha, bom humor é bem pouco perto do que eu estou sentindo.
- E eu não vou nem perguntar o motivo.
- Ah, não? - sentei, rindo daquela raridade. Marina sem querer saber de alguma coisa. 
- Não. Eu vi ele saindo hoje mais cedo.
- Ele? Ele quem? - juntei as sobrancelhas. - Tá me estranhando, Marina? 
- O motivo, menino. Uma linda moça...
- Você viu ela? - sorri largamente.
- Vi sim! Finalmente conheci a famosa Tanara.
- Ela não é linda, Marina? - suspirei, fechando os olhos.
- Ela é linda. Mas é atrapalhada, né?! - entortou a boca.
- É. - ri. - Mas eu nunca mais posso reclamar disso dela. Se não fosse pelo seu jeito atrapalhado, ela não tinha cortado o dedo... - lembrei de como criamos o clima. 
- Oi?
- Nada, Marina. Nada. - desconversei. - Ela falou alguma coisa?
- Ela parecia envergonhada. E nervosa.
- Imagino. - passei a mão no cabelo. 
- Quando você falava dela, eu imaginava outra coisa. 
- Por quê? Mas eu já tinha te mostrado uma foto, não?
- Já. Digo de jeito... Imaginava ela uma pessoa mais metida, madura, séria... Ter a coragem de por um fim na história de vocês daquele jeito. 
- E ela não é assim? - gargalhei. 
- Não. - respondeu espantada. - Ela é simpática, não tirou o sorriso do rosto enquanto falava comigo. Nervoso, mas um sorriso. Meio despojada, mais parecia uma menina fugindo de algo...
- Essa é ela, Marina. Desse jeitinho mesmo! É porque você ainda não conversou com ela, ela é maluca. 
- Mas Seu Luan, nunca imaginaria isso. Não faz seu tipo! 
- Por quê? - sorri.
- Não vejo muito quem o senhor fica, já que o senhor não traz ninguém pra dormir aqui. Mas... aquela Natacha, por exemplo! Não é seu tipo?
- Metida? Gostosa? Séria?
- É. - respondeu sem graça.
- Sabe o que é, Marininha? Antes de conhecer a Tatá eu imaginava mesmo que meu tipo fosse somente esse. Mas, depois dela, vi que meu tipo pra ficar é esse e pra gostar, como eu gosto, só o jeitinho louco dela. 
- Eu estou impressionada!
- Se você chamar ela de baixinha eu vou dizer pra ela, hein? Ela vai ficar bem chateada com você! 
- Não, Seu Luan, quê isso! Mas ela é baixinha mesmo, né?! - sorriu sem graça.
- Uma anã.
- O senhor me surpreendeu. 
- Anã fujona. Só foge, aquela desgraçada linda. 
- Nossa, quanta fofura! - arregalou os olhos. 
- Ela me trata bem pior, acredite.
- Ok, definitivamente eu estou passada. - gargalhei de novo. 
- A Laura conheceu ela. 
- A Laura! Claro! O jeito dela, parece com o da Laurinha. Tem certeza que a Laura é filha do senhor com a Isabel e não com a Tanara? 
- Infelizmente tenho. Sempre quis ter um filho com ela, acredita? Pedia pra ela engravidar.
- Isso com 23 anos?
- Com 23 anos. - assenti.
- O senhor é louco mesmo. Podendo curtir...
- Eu era louco por ela. Achava que um filha prenderia ela a mim. 
- E ela? Não aproveitava? O senhor sabe, o senhor é rico desde os 18 anos...
- A Tatá, Marina? - ri de novo. - Você precisa conhecer ela melhor. Tatá é independente, ela não liga pra isso, nunca me pediu um real. Ela se cuidava escondido de mim e quando estava com suspeita, se enchia de medo. 
- Tão lindo a forma que o senhor fala dela. Tá feliz, né?!
- Muito. - suspirei, com um sorriso de orelha a orelha. - Mas continuando, eu sempre quis e mal sabia que já tinha uma filha. 
- Vai dizer que o senhor também queria casar com ela? Tão novinho assim? Ela tem quantos anos? 
- Ela tem 22, é mais nova que eu quatro anos. A conheci quando ela só tinha 18, bem novinha.
- Da idade da Dona Bruna?
- Isso. Só que ela é de janeiro e a Bruna de maio.
- O senhor lembrando o aniversário de alguém, isso também é novidade. Impressão minha ou quando se trata dessa Tanara, você se transforma?
- Dou lugar para um novo Luan.
- Um Luan apaixonado?
- Exatamente. - sorri.
- Mas Seu Luan, ela não está noiva? 
- Está, Marina. Infelizmente. Mas não pense maldade dela, ela não é assim!Tatá nunca traiu ninguém e tenho certeza que saiu daqui nervosa, como você falou, por consciência pesada, vergonha.
- Felipe tem que saber, menino. Isso é errado.
- Eu vou fazer como você me aconselhou, Marina. Vou deixar ela contar. 
- Mas vocês...
- Eu sei, Marina. Eu sei. Isso serviu pra me mostrar que eu tenho que lutar por ela.
- Seu Luan, pelo amor de Deus...
- Sinto muito pelo o Felipe, mas ela vai ser minha. De novo e definitivamente minha.

Tanara's POV. 

Estava dentro do táxi, indo para minha casa. Com a cabeça encostada no vidro, eu pensava em tudo que aconteceu. Era tão hipócrita da minha parte! Sempre hesitei traição, sempre. Estava tão quieta e tão envolvida nos meus pensamentos que cheguei a me assustar quando meu celular tocou, alertando uma chamada de Felipe. Ai, meu Deus! Tinha que ligar justo agora? 

- Oi, amor! Bom dia. - disse carinhoso. 
- Oi, Fê. Bom dia. 
- Tá em casa? Barulho estranho.  
- Ah, estou no carro. Melhor, táxi! - meio burro da minha parte, né?! Mas eu já elaborei uma desculpa. 
- Não dormiu em casa? 
- Acabei dormindo com a Alice, Fê! Sabe como eu sou apegada nela...
- Sei sim.  - riu, compreensivo. 
- Pois é.
- Mais tarde eu posso ir aí? Estou com saudades. 
- Claro! - vi o taxista parar na minha casa e comecei a procurar o dinheiro. 
- Como foi no shopping ontem com ela? - insistiu numa conversa, em um momento incômodo. 
- Foi ótimo! Matei toda a minha saudade, Alice é uma graça.
- Imagino, né? Imagina como você vai ser com nossos filhos. - filhos? Quê?  Eu nunca pensei nisso. Era tão nova... Paguei o taxista e saí, ficando parando em frente à minha casa 
- Daqui uns três anos, né? Vou ser a melhor mãe. - disse irônica. Tudo que eu queria era deitar e dormir. Ligue outra hora, Felipe, por favor! 
- Não sei se aguento esperar tudo isso. - falou um pouco sério. 
- Valha! - ri, sem ânimo. 
 - Mas é verdade, minha princesa. Quero uma filha, do seu mesmo jeitinho. E quero logo, assim que casarmos.
- Mas é muito cedo, Fê. Não seja tão exagerado!
- Não é exagero, meu bem. Eu estou ficando velho para ter filhos, sabia? O Luan já tem a Laura, de 5 anos. Eu preciso de um filho também! - falar do Luan? Rezei para não gaguejar.
- Você não é o Luan, e não está nada velho. Vou desligar, tá? Quero tomar banho e comer. 
- Tudo bem, amor. Até mais tarde! Um beijo. 
- Tchau, Fê. - desliguei, agradecendo à todos os santos existentes. 

Quando entrei em casa minha mãe perguntou onde eu havia dormido e eu disse a mesma coisa: na casa da Larissa. Entrei no quarto e a primeira coisa que fiz foi pedir pra Larissa confirmar minha mentira, sem dizer mais sobre isso. Não expliquei nada, ela não tinha que saber que eu fui uma fraca e acabei metendo chifres no meu noivo. Eu esqueceria aquele episódio da minha história com o Luan! Esqueceria. Aliás, nossa história acabou há dois anos. Isso não foi nada, certo? Não, errado. Eu sei, eu estava tentando me enganar. Mas eu tinha que me convencer disso, era necessário. Você vai fingir que não aconteceu nada e vai tudo correr bem, não é Tanara? Claro que é. Respira e não pira. 

Luan's POV. 

Depois da minha conversa com Marina, ela preparou meu café e mudamos de assunto. Laura acordou toda animada e perguntou de Tanara. Falei que ela havia ido embora depois do filme e ela formou um bico no rosto. Elas se gostaram e isso era ótimo para mim. Sei que minha história com Tanara já tinha se encerrado, naquele 18 de outubro; mas, era inevitável agir como se ela fosse um passado. Ela era um passado presente em mim, prestes a virar o meu futuro. Felipe é meu amigo, eu sei. Mas eu não vou aceitar infelicidade só para não machuca-lo. Duvido que ele a ame como eu. Ele vai sofrer, mas passa. Claro que passa! Afinal, amigos amigos, Tanara's à parte. Já tinha em mente o que fazer e também o que ela faria. Ela fugiria de mim, fingiria que nada aconteceu. A conheço perfeitamente. E por conhece-la tão bem, saberei lidar com sua atitude. Me aguarde, Tanara. Me aguarde! 

Deixei Laura em casa no final daquele dia e ainda estava curtindo o gosto da noite anterior. Como ela era deliciosa! Como não se apaixonar? 

Tanara's POV.

Dormi o resto daquela manhã e ao acordar, ainda pensando naquele cantor desgraçado, fui tomar banho e comer algo. Me pegava sorrindo e negava imediatamente. Parece que esses dois anos que nos separaram não existem mais. Não depois disso tudo. Nós transamos! Nós fizemos amor..!? Mesmo depois de tanto tempo! Como se ainda fôssemos dois apaixonados com saudade. Que inadmissível. Meus pensamentos foram atrapalhados pela a pessoa que eu realmente estava apaixonada. Claro. Felipe! Me cumprimentou com um beijo e passou aquela tarde comigo. E mesmo ele querendo, não consegui deixar o clima esquentar. Eu acho que não sei trair. Ajo como uma idiota! Que logo logo vai virar-se pro noivo e assumir: “te traí, tá? Por isso estou te tratando tão diferente, por isso estou tão nervosa. Não sei disfarçar. Mereço um perdão por ter assumido?” É, definitivamente não sei. 

Chegamos no final de setembro, passaram-se alguns dias desde o meu adultério. Não vi mais Luan e torcia para isso não acontecer nunca mais. Ele não me procurou, outra coisa que me deixou aliviada. Mas mesmo com tanta distância, ele agora morava nos meus pensamentos. Traição não é só a carnal. E todo dia eu me odiava mais, todo dia eu traía Felipe. Por pensamento, mais traía. Isso fazia sentir-me a pior mulher do mundo. A mais suja, a mais mentirosa. O Felipe não merece nenhum tipo de traição e todo dia minha consciência pesa, pelos dois tipos de traição ocorridos. Vai passar, eu tenho fé que vai. 

- Te acordei? - riu, sem graça.
- Acordou. - respondi manhosa. - Mas não tem problema, já está tarde. Bom dia.
- Bom dia, preguiçosa. Já está tarde mesmo, tem que levantar. 
- Aconteceu alguma coisa?
- Não, por quê?
- Você me ligando à essa hora...
- Não posso mais ligar, meu amor? Estamos nos vendo tão pouco, o que não era pra acontecer. Já que já passamos 5 meses namorando à distância! Agora que você tá pertinho de mim, quero aproveitar.
- Eu sei, Fê. Também quero.
- Não é o que parece! - riu, meio triste.
- Deixa de bobeira, vai. 
- Sabe o que é, minha princesa? Está na hora de começarmos com os preparativos do casamento. Foi para isso que você veio!
- Casamento, claro! O casamento.
- Nossa! Tinha esquecido do nosso casamento, Tanara?
- Não, Fê. Claro que não! Mas é que você nunca mais tocou nesse assunto.
- Na maioria dos casos a noiva que fica ansiosa e animada pra preparar tudo, né?! 
- É claro que eu tô ansiosa! 
- E não fala disso?
- É o meu jeito, Felipe. Eu já estou pensando na igreja, em tudo...
- Que bom que está, eu também estou. Mas eu não te liguei pra falar disso. 
- Hum...
- Temos um jantar pra ir hoje.
- Conhecer sua família?
- Não, ainda não. Estou reservando um dia bom para isso, quero que todos estejam quando você for apresentada.
- E o que é? 
- Um jantar, meu bem. Na casa dos pais do Luan.
- Como assim? - ri nervosa. Não, não e não! 
- Dona Marizete e Seu Amarildo, eu gosto muito deles e queria que eles te conhecessem. 
- Sabe o que é, Fê? Eu tô meio doente. - fingi uma tosse e ele riu, não convencido.
- Amor, não precisa inventar essas coisas. Eu sei que você é tímida, mas... - eu tímida? - Eles são tão legais! Você vai adorar.
- Felipe...
- Às 20:00 esteja pronta, tá? Eu te amo, um beijo. - desligou na minha cara, me deixando indignada. Como ele pode decidir as coisas sem me perguntar o que acho? O que quero? Se eu aceito? Que merda! Idiota! Levantei da cama o xingando, e automaticamente bufando. Não podia ir nesse jantar e correr o risco de ver o Luan. Não podia!

Para o meu azar o tempo ia passando e eu ficava cada vez mais irritada com aquela ideia. Mas não podia demonstrar tanto, Felipe desconfiaria. Que raiva!

Deu 19:00 e eu tive que começar a me arrumar. Não era porque eu não estava feliz em ir, que eu iria desarrumada né?!  Tomei banho, ajeitei o cabelo e escolhi uma roupa nem tão simples e nem tão extravagante: uma blusa e uma saia. Apropriadas para algo à noite, me deixando satisfeita. Juntei duas mechas do meu cabelo atrás, ficando um penteado simples e legal. Não exagerei na maquiagem e também não escolhi um batom chamativo. Pus um salto, claro, e logo estava pronta. Desci e dei de cara com meu noivo. Disfarce, querida! Disfarce! 

 - Uau, como está linda essa minha noiva. - aproximou-se sorridente, me causando um pequeno sorriso. Selou meus lábios e me olhou por mais um tempo, me admirando.
- Obrigada.
- Vamos? 
- Vamos...
- Amor, deixa de ser tímida vai. Vai ser legal, não precisa ficar nervosa. 
- Está tudo bem, Fê. Vai ser legal, eu tenho certeza. - sorri sem graça.
- Exatamente! Você viu como a Bubu é legal? Ela é um amor. 
- Vi sim.
- A família toda é muito gente boa! Você vai adorar, confia em mim. - falou animado e eu só sorri, tendo meus lábios tomados para os seus novamente. Fomos para o carro e eu, modéstia parte, acho que estava começando a disfarçar melhor o meu estado. 

Luan's POV. 

Não procurei mais Tanara, apesar de não esquecê-la. A pressa era inimiga da perfeição e eu tinha que ser cuidadoso, nada podia dar errado. Tudo aconteceria no momento certo e não demorou muito para ele chegar. Felipe, animado, marcou um jantar para meus pais conhecê-la. Controlei minha risada e concordei. Pediu que eu levasse a Natacha, ele tentava empurra-lá pra mim. Mal sabia ele que quem eu queria mesmo era a sua namorada. Mas, eu acabei convidando Natacha. Ela era legal e eu não gostava da ideia de aparecer sozinho enquanto Tanara tinha meu amigo do lado. Parecia que aquele jantar não chegaria nunca, eu estava muito ansioso. Mas chegou. Finalmente chegou! Caprichei na minha arrumação e fui buscar Laura. Minha mãe pediu para eu a levasse. Dentro do carro eu dava as  coordenadas: nada de citar que Tanara havia ido lá em casa. Minha filha, esperta do jeito que é, questionou. Dei uma desculpa e logo ela acreditou. Fomos buscar Natacha e Laura adorou, já que as duas se davam muito bem. Quando chegamos meu pai pegou Laura nos braços, enchendo-a de beijos. Avós só servem para mimar! O cumprimentei enquanto ele fazia ela rir e fui falar com a minha mãe, que estava  toda arrumada. Dona Marizete sempre foi linda! Natacha os cumprimentou íntima, achando que realmente tinha intimidade com eles. Eles a cumprimentaram simpáticos e logo Bruna apareceu, a cumprimentando com um abraço. Elas duas também se davam bem! Eu fingia não ver toda aquela pressão para ficarmos juntos, o que Natacha adorava. Ficamos conversando e um tempo depois, quando a campainha tocou, meu coração acelerou. Era ela. 

Meu pai abriu e ficou do mesmo modo de Sorocaba ao ver que era Tanara. Aquele jantar estava só começando! Deu passagem para eles entrarem e não disfarçava a surpresa. Se cumprimentaram desentendidos e entre cumprimentos, Felipe a apresentou. 
- Essa é a Tanara, gente. Minha noiva! Luan e Bruna conheceram ela no aniversário do Sorocaba. - meus pais se entreolharam espantados e eu, cínico, disfarcei.
- Oi, Tanara. Tudo bom? - peguei na sua mão enquanto ela me olhava nervosa. - Tá linda, viu? - a olhei cúmplice e tenho certeza que ela engoliu seco, me respondendo apenas um "obrigada". 
- Que linda sua noiva, Felipe. Mas nós já nos conhecemos! - meu pai falou e eu percebi os olhos de Tanara sairem para fora. Controlei a risada, pra variar.
- Já? - Felipe olhou confuso para a noiva, que era inteligente e inventou uma ótima desculpa:
- Já. Minha mãe é amiga da Tia Zete! - falou sorridente, olhando para a minha mãe que estava assustada, porém muito feliz em vê-la. Sempre a adorou. 
- Como tá, Tatá? Tá bem? - meu pai abraçou-a carinhoso, dando um beijo no topo da sua cabeça. Eles adoravam a ex nora. 
- Tô bem sim, e o senhor? - respondeu simpática, porém ainda nervosa. 
- Tudo ótimo! 
- Tatá! Menina! - minha mãe correu para abraçá-la e as duas se apertaram. 
- Tia Zete! - Tanara riu e eu me vi encantado naquela cena. Não dá pra perceber que era aquilo que eu queria pra sempre? Com a diferença que ela os chame de sogros, claro.
- Meu amor, você sumiu. - Xumba a analisava, com um sorriso imenso. - Tá linda! - elogiou-a e as caras de Bruna e Natacha eram as melhores.
- Que coincidência, né?! - Felipe disse sem tirar o sorriso do rosto. Mané. Com certeza se achava por namorar ela! 
- E você, filha da puta, sumiu! - bateu amigavelmente nas minhas costas. 
- Tô trabalhando, cara! - respondi e ele cumprimentou Natacha, nos lançando olhares sugestivos. Laura apareceu na sala e quando viu Felipe correu para os seus braços.
- Tio Felipe! - disse contente.
- Oi minha princesinha. Como você tá?
- Eu tô bem! Sabia que eu já conhecia a noiva do senhor? - Laura sorriu inocente. Puta merda. Qual foi o combinado que você fez com o papai, filha?
- Ah, já? - respondeu curioso.
- Aham! Ela me levou pro shopping com a Alice. Né, Tatá? - olhou encantada para Tanara.
- É sim, Laurinha! - respondeu carinhosa. Que madrasta boa você vai ter, Laura! Olha como você é uma menina sortuda.

Laura foi para o chão e abraçou Tatá, outra cena que me deixou apaixonado. 
- Não vai me apresentar pra ela, Luan? - Natacha me cutucou. 
- Ah, essa é a Natacha. Minha amiga. - falei, vendo-a fazer uma cara feia enquanto Tatá sorria, acenando. 
- Oi, Tanara. - Bruna sorriu envergonhada.
- Oi, Bruna. - respondeu da mesma forma. 
- Oi boneca. - Felipe abraçou Bruna. - Não é pra ter ciúmes, viu amor? Aqui é só amizade.
- E antiga. - Bruna alfinetou Tanara, que ficou sem graça. 
- Ah, quê isso! - disfarçou com um sorriso fraco.
- Vem cá, minha filha! Temos muito o que conversar! - Dona Marizete a puxou para um canto enquanto meus olhos relutantemente não saíam dela. Como ela estava linda! 

Conversei um pouco com meu pai e Felipe, enquanto Laura brincava com Bruna e Natacha. Depois me isolei em um canto, observando todos e pensando no que eu faria em instantes. Natacha se aproximou de mim, com uma expressão não muito boa.

- Você é um idiota.
- Que foi que eu fiz? - ri, desentendido.
- Me apresentou para ela como amiga.
- Não é isso que nós somos?
- Não. Não mesmo! Por que você não me pede em namoro de vez, Luan?
- Vai continuar com isso, Natacha? Não quero me prender a ninguém e já te falei isso.
- Sua filha me adora! Eu seria uma ótima madrasta!
- Que bom pra você, Natacha. Mas a Laura está muito bem sem madrasta.
- Você é um cachorro! Pensa que eu não sei que você fica com outras.
- Não te devo satisfação.
- Um dia eu vou cansar!
- Até lá a gente aproveita. - pisquei e ela bufou, cruzando os braços. - Fica assim não, a noite está ótima.
- O que você achou da noiva do Felipe? Eu esperava mais dela.  
- Sinceramente? - perguntei e ela assentiu. - Achei linda. Até entendi o porquê ele querer casar.
- Af você, Luan! Ela não tem nada demais. É baixinha, magrinha...
- E você é invejosa. Só porque a menina é linda, fica aí, se remoendo.
- Não sei porque achou ela linda. Não faz seu tipo! - falou irritada e eu me permiti rir. 
- Mas ela é linda, uai. Muito linda. 
- Sou mais eu. 
- Você também é bonita, Natacha! Deixa de ser assim, muié. - ri, negando. Ela fez careta e saiu irritada. Eu ia mentir? 

Houve um momento em que todos estavam distraídos e Tatá avisou à minha mãe que iria ao banheiro. A segui imediatamente. Ela não fechou a porta, só se olhou no espelho e retocou o batom. Resmungava algo baixinho, mas não dava pra entender. Na hora que ia saindo, eu apareci na sua frente, a assustando e a empatando de sair. 
- E aí, anã fujona. - sorri. 
- O que você tá fazendo aqui? - corou, envergonhada.
- Uai, naquele dia cê saiu sem se despedir. Fiquei magoado, acredita? - fiz um bico, irônico. 
- Luan, por favor, podem ver a gente aqui... 
- Foda-se! - a empurrei pra trás e fechei a porta. - Estava esperando o momento certo e bom, é agora. - tranquei a porta, cruzando os braços em seguida. Ela me olhava receosa, assustada e com certeza ainda mais nervosa. 


Hello hello, lindas! Como foi o natal de vocês? O meu foi ótimo! Gostaram do capítulo? Falei que ia postar ontem mas acabou não dando... Me desculpem! Já deduzem o que vem pela frente? Comentem amores!!! Beijos!!! 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Capítulo 5

Tanara's POV. 

Saímos da casa de Sorocaba e no carro Felipe já mostrava o seu entusiasmo em seus amigos me conhecerem. Eu sorria fraco e ele tornava a perguntar a se o mal estar havia passado. Eu negava. Passei a gostar daquela desculpa quando ele confessou que esperava que passássemos a noite juntos e com essa desculpa, eu tirei essa ideia de cogitação. Ele entendeu. Felipe sempre hesitava me contrariar. Se despediu de mim me roubando um selinho e ele continuava acreditando naquela história, já que minha cara estava mesmo de uma pessoa incomodada, doente. Mas não era por qualquer mal estar. Era pelo o seu amigo. Minha cabeça estava lá, estava nas palavras que Luan dirigiu a mim. Ele não podia pensar isso de mim, eu nunca quis magoa-lo. Minha consciência pesou ainda mais lembrando do que Sorocaba me disse. Ele ainda gosta de mim. Gosta? Eu já não sabia mais o que sentia por Luan. Pus um fim, mas nossa história não terminou. No caminho de volta, Felipe deixou claro o quanto ele gostava e considerava Luan. Era uma amizade bonita, que eu não podia estragar. O destino não podia nos pregar essa peça. Oh, droga! O que eu faço? Eu conto pro meu noivo? Ou finjo que nada está acontecendo? E se alguém contar? E se Luan contar? Milhares de coisas passavam na minha cabeça, me amedrontando cada vez mais. E assim fui dormir. Depois de anos, sem saber o que fazer, justamente por causa dele. 

                              • 

Fazia uma semana do aniversário que me deixou aflita, que tirou minha paz e desde então, eu não tomei nenhuma atitude. Eu estava confusa. Indecisa. Odiava ficar assim! Sentia que não deveria me abrir com ninguém, mas ao mesmo tempo sentia que não seria capaz de solucionar aquilo com minhas próprias conclusões. Felipe continuava amoroso, sem desconfiar do clima que presenciou. Não sabia de Luan, de Sorocaba, de Bruna. Só de Micaella! Que me procurou e começamos a conversar. Por mais que tudo estivesse calmo enquanto decidia o que faria, Felipe me deixava nervosa sempre que tentava marcar algo com Luan. Queria muito que saíssemos com ele, com a filha dele, que Felipe falava com um afeto enorme. Eu, descobrindo meus dotes de atuação, fazia uma cara de paisagem e sorria, fingindo não ter problema. O famoso "tanto faz". Tanto faz um caralho! Eu não posso mais ver o Luan, você não entende? Não entende que é perigoso pra mim? Pra você? Pro nosso noivado? Não é normal uma pessoa noiva sentir o que eu sinto perto do amigo do noivo. Para, Felipe. 

Tinha medo de contar a verdade e estragar a amizade dos dois. Medo que Felipe começasse a agir diferente comigo. Medo que ele cismasse, ainda não sei se Felipe era o tipo "ciumento". Tomara que não. Eu não suporto. E pra variar, meus pensamentos me levam à Luan. Luan escondeu por um bom tempo, seus ciúmes de mim, só porque não me agradava. Lindo. Como eu o amava naquela época. O pior de tudo é que no fundo, eu sei que não chego a sentir nem a metade por Felipe. 

Almocei e liguei para minha comadre, para ver minha afilhada. Alice, que agora estava com 4 aninhos. Ela disse que tudo bem, já que estava em casa. Larissa agora casada, morava com Gabriel. Com o marido e a filha. Comentou que Alice estava ansiosa para me ver, tínhamos um apego muito grande. Não trouxe nada para ela e hesitei ir sem nenhum presente. Mas, acabei tendo uma ideia. Que tal ela mesma escolher o presente? A levaria no shopping, um passeio. Descansei um pouco o almoço e depois comecei a me arrumar. Já eram 14:30am. 

Já arrumada, pedi à minha mãe que tirasse algumas fotos minhas. Fazia tempo que eu não postava nada! Fiz uma montagem e postei, rapidinho. 

tataccioly Boa tarde, São Paulo! 



Peguei um táxi e fui para a casa do meu 'irmão'. Toquei a campainha e Larissa atendeu, feliz em me ver. Nos abraçamos forte, fazia um tempinho que eu não a via. Logo minha afilhada correu, me fazendo pega-la no colo. A enchi de beijos e ela logo me picou para dentro, alegando querer me apresentar uma amiguinha que estava brincando com ela. 

- Essa é a Laura, 'madinha'. - apontou para uma menininha, que nos observava calada. Era linda e parecia ser tímida. 
- Essa é minha madinha, Lau. Ela mora bem longe de mim! - Alice me apresentou, me fazendo rir. Olhei bem e tive a impressão de já conhecê-la. O nome, o rostinho...
- Essa não é a...
- Filha do Luan. - Larissa completou. Claro! A Laura! Nossa, como ela era parecida com ele. 
- Oi, bebê! - acenei e ele sorriu, fazendo a mesma coisa. 
- Alice e ela são amigas. Ele trouxe ela pra brincar, antes de você ligar. - falou e eu sorri nervosa. Ouvir falar dele já me deixava amedrontava. 
- Meu pai é o Luan Santana, sabia? - disse com um sorriso sapeca no rosto. 
- Eu sabia, sim! - me abaixei, ficando da sua altura. - Que linda que você é. Quantos anos você tem?
- 5. E você, madrinha da Alice?
- Tenho 22, Laura! E meu nome é Tanara, mas se quiser pode me chamar de Tatá. Todos me chamam assim.
- Meu nome é Laura, mas se quiser pode me chamar de Laurinha ou Lau. Meu pai de chama de Laurinha e minha avó Zete, me chama de Lau. Minha mãe também me chama de Lau, sabia? - explicou, toda desenrolada. Nossa. Que esperta! 
- Vou ficar com Laurinha, pode ser? - perguntei e ela assentiu. - Sabia que eu também chamava sua avó de Zete?
- Sério? Você conhece ela? 
- Sim! Conheço sim.
- Só eu chamo ela assim. - deu de ombros, com uma feição intrigada.
- Você deixa eu chamar?
- Deixo! - sorriu. - Você é linda, sabia? Parece aquelas mulheres ricas de novela. - comentou, fazendo eu e Larissa rir. - Que nem minha tia Bubu. Ela se veste assim, toda linda. Eu queria me vestir, mas meu pai não deixa.
- Ah, obrigada viu? Então quer dizer que eu pareço rica? A diferença Laurinha, é que sua tia é rica, eu não. - falei e ela riu. - Você é criança ainda, não pode vestir essas roupas. 
- Meu pai tem uma foto no quarto dele que parece muito você, Tatá. Muito! Será que meu pai conhece uma pessoa igualzinha a você? - abriu a boca, com admiração. Larissa riu e eu lancei olhares cúmplices. 
- Acho que você está se enganando! Mas então, eu vim levar a Alice para o shopping. 
- Eba! - Alice pulou, batendo palminhas. 
- Só ela, Tatá? Pensei que agora fôssemos amigas. - Laura cruzou os braços, com um bico identifico ao do pai. Olhei para Larissa espantada com o jeito daquela menina. Ela não era nada tímida!
- Você também, meu amor. Mal deixou eu terminar! - ri. - Você e a Alice, topam?
- Eu até podia ir, Tatá, mas eu não tenho roupa. Eu não posso ir feia enquanto você e a Alice vão assim, toda bonitonas. Algumas fãs do meu pai podem pedir foto e eu não quero sair assim! - falou decidida, me lembrando alguém que eu conheço. Gargalhei, desacreditada.
- Então você não quer ir?
- Eu até queria, mas meu pai nem deixou dinheiro. - deu de ombros, com drama. 
- Eu tô levando dinheiro.
- Mas eu nem tenho roupa.
- Essa está ótima, princesa.
- Você tá falando isso pra me agradar.
- Eu te empresto uma, Lau. - Alice falou, generosa.
- Desculpa, Lice. Mas suas roupas não fazem meu estilo. - abaixou a cabeça, enquanto eu continuava com meus olhos arregalados. Alice, fez feição triste e abraçou a amiga desconsolada. 
- Não fica assim, outro dia a gente vai. 
- Eu sei que sim, mas eu queria ir com a Tatá. - conversavam baixinho e Larissa segurava a risada. 
- E se eu arrumar sua roupa? Deixar bem fashion? Com o seu estilo?
- Você pode tentar, Tatá. Mas eu não quero te dar trabalho...
- Ô moça, que nada. Você vai arrasar com o meu look! 
- Ah madinha, então eu também quero. - olhei para Larissa e ela levantou as mãos em rendição. 
- Vamos, vou arrumar vocês. 
- Deixa eu levar sua bolsa. - Alice pegou minha bolsa, colocando no braço como "gente grande". Peguei nas mãos das duas e fomos para o quarto de Alice. Laura parecia gente grande e em certos pontos parecia mesmo comigo. Elas tomaram banho toda entusiasmadas e depois foram se arrumar, enquanto eu tentava agradar Laura com o "look" feito com as roupas de Alice. Ela era cheia de si e toda pra frente, o que dificultou um pouco meu trabalho. Alice não, mais meiga, ela gostou da primeira roupa que eu escolhi. Já arrumadas, ajudei-as a pentear o cabelo. Prontas! Certo? Não, ainda não. Alice viu minhas unhas pintadas e cismou que também queria. Pedi a Larissa um esmalte claro e ela me deu, rindo da invenção da filha. Laura olhava eu pintado toda desconsolada. O que foi dessa vez?
- Pronto, Lice. Tá linda, meu amor! - respondi e ela sorriu, esticando as mãozinhas e mostrando pra amiga. 
- Olha Lau. 
- Tá linda, Lice. Eu também queria pintar. - abaixou a cabeça, com drama.
- Então vem, eu pinto. - me ofereci, sorrindo.
- Não, Tatá. Meu pai não deixa. Minha tia já tentou, ele não gosta. Diz que eu sou criança!
- Mas seu pai não vai ver. Você já é uma mocinha, tem que pintar as unhas! Vem cá. - a chamei e ela veio, receosa. - Vamos fazer o seguinte. - me olhou. - Se ele brigar, eu te defendo! Tudo bem?
- Tudo bem. - sorriu, confiando em mim. - Eba! Eu sempre quis pintar. - comemorou, alegre. Ri do seu modo e comecei a pintar, com o mesmo cuidado que pintei a de Alice. Já totalmente prontas, nos despedimos de Larissa e pegamos um táxi, indo para o shopping. 

Luan's POV. 

Depois de falar aquilo para Tanara, eu saí na tentativa de me acalmar. Estava quase impossível, mas eu precisava me controlar. Como ela não sabia? Cínica. Que raiva dos dois! Eles não podem estar fazendo isso comigo. Bruna, para piorar tudo, veio me encher o saco com o assunto e eu nem lembro o que ela falou, lhe cortei de imediato. Minha noite não podia piorar. Mas meus próximos dias, sim. Felipe idiota, queria a todo custo marcar algo com nós quatro. Eu, Natacha, Tanara e ele. Eu não contaria, quem tem que fazer isso é ela! E por mais que estivesse magoado, eu não tinha mais nenhum poder sobre ela. Não podia obriga-la a contar nossa história, não era possível que ela continuasse escondendo por muito tempo. Me dava vontade de contar, sim, uma enorme vontade. Mas eu engolia a raiva, o ciúmes e torcia para ela contar de uma vez. Felipe agia com normalidade e eu tinha que fingir. Quando ele descobrisse, não sei como ficaria nossa amizade, mas com certeza não ficaria intacta. Em casa, fui buscar a Laura. Eu e Isabel dividíamos os dias de acordo com a minha agenda. Apertei minha filha, matando minha saudade e esquecendo um pouco o assunto que estava me perturbando. Laura me distraía. Seu jeitinho me fazia rir e infelizmente, lembrar da Tanara. A que eu namorei, não a de agora. Pediu que eu a deixasse com a minha afilhada, Alice. Eram amiguinhas e eu liguei para Larissa, perguntando se havia algum problema. Marina a ajudou na hora de se vestir, ela não me deixava, dizia ser mulher e mulher não podia trocar de roupa na frente de homens. Eu ria da sua inocência e tentava explicar que ela era criança e minha filha, e só o papai podia. A deixei na casa de Larissa e apertei minha afilhada, que me adorava. Mesmo com a distância de Tanara, não deixei Alice de lado. Éramos os padrinhos, mas eu não podia esquecer isso só porque nos separamos. Pedi que minha filha se comportasse e Larissa disse para eu não me preocupar. Voltei para casa sozinho, voltando também com os meus pensamentos no mais novo casal. Ridículos. Contei para Marina, que era uma conselheira pra mim. Ela sabia da minha história com Tanara e eu contava tudo com tom de indignação. Me disse para esperar ela contar, algo que eu já imaginava ser o certo. Passamos um bom tempo conversando e depois eu dormi. Acordei já tinha anoitecido e lembrei de Laura, indo direto tomar banho para buscá-la. Marina já tinha ido embora e eu preferi que ela não fizesse janta, comeria uma pizza com a minha filha. Isabel pegava muito no pé de Laurinha, a menina era privada de muitas coisas. E então, eu me via no direito de mima-lá um pouco. Fui para a casa de Larissa e Gabriel e pra minha sorte, ele não estava em casa ainda.

- Então Lare, chama lá elas? - pedi, sentado no sofá mexendo nas mãos. 
- Elas saíram, Luan. - disse sem graça.
- Saíram? Com quem? Com o Gabriel?
- Não, com a Tatá. - falou e eu levantei de imediato. 
- Como assim minha filha saiu com aquela louca? 
- Então, ela veio ver a afilhada e tinha nos planos ir pro shopping... A Laura tava aqui, logo a Tatá não ia deixar ela sozinha. Ela adorou a Tatá!
- Não era pra ter deixado, Larissa! Mesmo que a Laura tenha adorado ela. Se chegar qualquer um e Laura adorar você vai deixar levar ela? 
- Ei, Luan. Calma! Não é qualquer um, é a Tatá. Você tá falando como se não conhecesse ela, ou como se ela fosse  perigosa. 
- Não importa Larissa. Deixei de conhecer a Tanara faz um bom tempo. 
- Nossa, Luan. Não fala assim dela! 
- Não fala assim dela? Você sabe o que ela fez, Larissa? 
- O que ela fez?
- Olha. - respirei fundo. - Pergunta a sua amiga depois, mas agora, você vai ligar e vai mandar ela trazer minha filha! - cruzei os braços e Larissa me olhou assustada. 
- Tá bem, tá bem. Não precisa ficar assim. - levantou os braços e depois pegou o celular. 
- Ela não atende. - disse, tirando o celular do ouvido. 
- Meu Deus, ela perdeu a Laura! - pus as mãos no rosto. - A Tanara não sabe cuidar nem dela, como você confiou duas crianças? 
- Luan... - Larissa foi interrompida com a campainha. - Tá vendo seu exagerado? Pode ser elas! - sorriu, indo atender. Abriu a porta e logo a sala foi invadida com Alice e Laura falando alto, empolgadas e com algumas sacolas. 
- PAPAI! - Laura gritou, correndo para os meus braços. Tanara foi desfazendo o sorriso aos poucos. 
- E aí, minha princesinha. Brincou muito? - perguntei com ela nos meus braços. 
- Brinquei muito, papai! A Tatá levou eu e a Lice pra passear no shopping, sabia?
- É, sabia. - a olhei. - Então, vamos? 
- Me põe no chão, papai. Eu quero mostrar o que eu ganhei da Tatá. - sorriu, me fazendo colocá-la no chão. 
Sentou no sofá junto de Alice e começou a tirar o que tinha nas sacolas. 
- Não precisava gastar com ela. - disse sério. 
- Não foi nada, não se preocupe. Sua filha é um amor. - disse do mesmo modo. Ficamos nos olhamos por um tempo e Larissa percebendo o clima, coçou a garganta. 
- Então... Obrigada pelos presentes, Tatá. Já agradeceu a sua madrinha, Alice?
- Já sim! 
- Eu também! - Laura falou. - Tatá senta aqui, olha aqui como ela fala. Você disse que ela não falava! 
- Eu preciso ir, Laurinha. Já tá tarde. - sorriu sem graça pra minha filha. 
- Ah não, madinha! Senta aqui, vem brincar com a gente. - Alice pediu e Tanara riu, parecendo incomodada. Devia mesmo estar com vergonha de mim. 
- Espera o Gabriel, Tatá. Ele te deixa em casa. 
- Não precisa, Lare. Eu vou pegar um táxi. Tchau meninas! - se aproximou das duas e beijou o rosto de cada uma. 
- Não vai agora, fica aqui pra gente contar sobre o esmalte na minha unha. - escutei Laura sussurrar no seu ouvido. - Eu tenho medo do papai. Ele não vai brigar com você!
- Tá bem. - sussurrou de volta. 
- Olha papai, a Tatá pintou minhas unhas! - sorriu sapeca, estendendo as mãos.
- Filha, você é criança... Não pode pintar as unhas. - olhei frio para Tanara.
- Ela é uma mocinha, não tem problema. Deixa de ser chato! 
- É, seu chato! - Laura imitou-a. 
- Laura! - a repreendi, enquanto ela ria. Só o que faltava, ela imitar mais ainda o jeito de Tanara. - Dá tchau pra Alice, a gente precisa ir. 
- Pai, vamos levar a Tatá? Ela tá sem carro, a gente foi de táxi pro shopping. 
- Filha...
- Não precisa, Laurinha. Eu vou pegar outro táxi! - Tanara disse doce. Até parece! Você só engana minha filha, a mim não. 
- Papai, é perigoso ela ir pra casa sozinha. Ela é menina! 
- Eu sou adulta, Laura. Eu posso andar sozinha! - Tanara riu constrangida. 
- Mas minha prima é do seu tamanho e minha tia não deixa ela sair. - disse inocente. Até uma criança percebe que ela é anã.
- Amiga, até a Laura! - Larissa riu. 
- Olha senhorita Laura, você para! O que você tem contra as baixinhas? 
- Tudo bem, tudo bem. A gente leva a Tanara, Laurinha. Mas vamos, né?! 
- Eba! - Laura pulou, comemorando. 
- Eu também quero ir! - Alice cruzou os braços, com birra.
- Você já tá em casa, filha. Não pode ir. Outro dia a Tatá e a Laurinha vêm, tá? - Larissa explicou e ela concordou triste. Alice se despediu de nós três e depois Larissa. Agradeci e ela passou o mérito para Tanara. Laurinha não parava de conversar com a mesma, toda animada. Mereço?

Entramos no carro em silêncio, Laura nos olhava com um sorriso de orelha a orelha. O que aquela mentirosa tinha feito com a minha filha? 

- Você sabe o endereço, não é? - perguntou.
- Sei. - respondi seco e ela encarou a pista. 
- Papai, a Marina tá lá em casa?
- Não. 
- Então vamos pedir pizza?
- Vamos. 
- Tatá, vamos comer pizza com a gente?
- Laura. - a repreendi. 
- O que foi, papai? Deixa ela ir com a gente, eu quero mostrar minhas outras bonecas. Você gosta de pizza, Tatá? - perguntou e Tanara me olhou sem graça.
- Laurinha...
- Claro que gosta! Quem não gosta? Minha mãe não deixa eu comer, mas meu pai deixa. Por favor, paizinho. - deitou a cabeça no meu ombro. Não conseguia negar nada a Laura, por mais errado que fosse. Estava muito magoado com Tanara, a queria bem longe. Mas ao mesmo tempo, eu a queria perto. Queria muito. Coração era uma grande merda! 
- Quer comer pizza com a gente, Tanara? - perguntei, engolindo minha raiva. 
- Não, melhor não. - falou receosa.
- Ah nem, Tatá! Por favor! Pai, pede por favor pra ela.
- Laura, ela não quer. Deixa ela.
- Eu vou chorar! 
- Você não precisa chorar pra conseguir as coisas, Laurinha. E eu aceito. Mas tem que ser bem rapidinho, tá? - Tanara falou, me deixando nervosa. Ela não tinha que aceitar!
- Eba! - animou-se, me fazendo respirar fundo. A noite seria longa. 

Laura foi contando sobre a tarde de shopping que tiveram e enchia Tanara de elogios. Contou que tinha sujado a blusa de sorvete e ela não brigou, gostando ainda mais dela por isso. Não sei como, mas acho que ela acabou cativando minha filha também. Ter Tanara perto novamente me causava tantas coisas, me sentia um idiota. Entramos no meu apartamento e Laura pegou na mão da mais nova conhecida e já adorada, arrastando-a pro seu quarto. 

- Então, vocês vão querer qual sabor? - perguntei, parando na porta do quarto de Laura.
- Frango. - falaram juntas, me assustando. Riram da coincidência logo depois.
- Uai, então tá. - dei de ombros, saindo dali para ligar. Liguei, pedi e fiquei na sala, mexendo no celular. As duas estavam no quarto até agora, acho que fui trocado. Duplamente. 
- Pai, a Tatá conhecia o Vevê, sabia? - Laura apareceu na sala, com um penteado no cabelo. 
- Conhecia? - me fiz de desentendido. 
- Você já mostrou pra ela? Vocês já se conheciam? - perguntou desconfiada. Laura era muito esperta. 
- Então, Lau... - Tanara ia começar a explicar, quando tocaram a campainha. Eu atendi. Era a pizza. Paguei e Tanara se ofereceu para pegar os copos. Laura pediu para comermos na sala e eu deixei. Pus a pizza no centro da mesinha e logo minha ex voltou com os três copos. 
- Sabia que minha mãe não gosta que eu beba refrigerante, Tatá?
- Sério? Mas ela tá certa, dá estria, celulite... - respondeu, como se minha filha soubesse o que era estria. 
- Você acha que uma criança de 5 anos sabe o que é estria e celulite, Tanara? - ri do seu devaneio. - Você é pior que ela. 
- O que é isso? - minha filha perguntou. 
- É uma coisa muito chata, Laura. Depois eu te explico! - piscou pra Laura e eu ri, negando. Pus refrigerante nos três copos e sentamos no chão, começando a comer a pizza. Laura falava algumas coisas que nos fazia rir e diminuía a tensão entre mim e Tanara. Depois de comermos, Laura sugeriu um filme de criança e depois de 30 minutos dele, ela pegou no sono. 
- Eu vou levar ela pra cama. 
- E eu vou pegar um táxi. Já tá tarde, nem percebi as horas passarem.
- Seu noivo se importa? - indaguei, com veneno. 
- Não. - sorriu falsa. 
- Então espera mais um pouco que eu vou te deixar. 
- Não, já tá tarde, você já está em casa, não precisa. 
- Eu vou te levar, deixa de ser teimosa. Vou só levar ela pra cama e venho, para irmos. 
- Vou arrumar aqui e lavar os copos. 
- Tudo bem. - peguei Laura no braço e a levei até a sua cama. A ajeitei, a cobri e liguei o ar condicionado, fechando a porta e saindo em seguida. Voltei e a sala estava organizada como antes, fui até a cozinha e vi Tanara pondo os copos na pia. Fiquei observando-a. Amarrou o cabelo com o próprio, e começou a lavar. 
- Não se sente mal mentindo assim pra ele? - perguntei, de braços cruzados. 
- Não estou mentindo. Estou omitindo, é diferente.
- Pra mim dá no mesmo. Tem vergonha da nossa história?
- Não. Mas não achei necessário. Eu queria te esquecer, estou com o Felipe há pouco tempo, ainda temos tempo. Mas se você está tão incomodado...
- Incomodado é bem pouco pro que eu estou sentindo. Você não podia ficar com o Felipe, Tanara. Não podia fazer essa sacanagem comigo!
- Qual a foi a parte do "eu não sabia", que você não entendeu? - virou-se, segurando o copo. 
- É meio impossível, você não acha? 
- Não, não acho. 
- Você foi muito injusta com a gente! Acabou com a gente pra isso, noivar de um cara que mal conhece.
- Pensei que ele fosse seu amigo.
- Ele é. Mas namorar você não é algo que eu considero como atitude de amigo. 
- Ele não sabe, não culpa ele. 
- Vai defender? Que linda! - ri, irônico.
- O que você quer, Luan? 
- Eu já quis. E foi ficar com você. - falei e ela ficou nervosa, já que acabou derrubando o copo que segurava. Deveria estar escorregadio, ela estava lavando-o. 
- Droga. - abaixou, para juntar os cacos. 
- Não mexe, você pode se cortar. Deixa eu pegar a vassoura! - corri para a área de serviço e peguei a vassoura. Mas ela era uma teimosa, então não pôde resistir a tocar nos cacos. Ela se cortou, e pelo visto feio. 
- Eu te falei pra não pegar, Tanara. - me aproximei, a levantando. A sua mão já sangrava, muito. - Quando você vai deixar de ser desastrada assim? - peguei na sua mão, vendo se o corte havia sido fundo. 
- Você adora me inferiorizar, né?! Que saco, Luan. Não precisa se preocupar, não foi nada. - puxou a mão com tudo, marrenta. 
- Fica quieta, Tanara. Parece criança mimada! - falei sério e ela me olhou nos olhos. - Vem cá, deixa a mão debaixo da água, que eu vou limpar os cacos e buscar algo pra pôr no corte. - segurei em seus cotovelos e a subi, fazendo-a ficar em pé, de frente a pia. Colocou a mão debaixo da água que caía, me obedecendo. Podia jurar que seus olhos estavam cheios de lágrimas, ela era literalmente fraca para essas coisas. Varri o copo quebrado e depois fui atrás de algum kit de primeiros socorros. Laura era como ela, desastrada. E eu tive que aprender a cuida-lá. A virei pra mim e comecei a limpar o resto do sangue com algodão, enquanto ela parecia levar pequenos choques, já que sempre que eu encostava o algodão, ela tentava afastar a mão. 
- Fica calma, está limpando. Será que foi profundo?
- Não sei. - respondeu frágil. Senti saudades de cuidar das consequências do seu jeito atrapalhado. 
- Se você não deixar eu limpar, não vai melhorar.
- Mas tá doendo. - reclamou como uma criança.
- Mas tem que limpar, Tatá! - a chamei pelo apelido que tanto amava, depois de tanto tempo. Aliás, pela primeira vez, falei mais doce com ela. 
- Então faz devagar. 
- Eu tô indo com cuidado, você que não ajuda. - segurei forte seu punho e comecei a passar o algodão com mais carinho, delicadeza. Dessa vez ela ficou mais calma e nós passamos a trocar olhares. Que merda, Tanara. Que merda. Terminei de limpar o sangue e lancei um sorriso sutil. Peguei um trem que era apropriado para passar em machucados desse tipo e pus no algodão, começando a passar suavemente. Mas assim que encostei, ela tirou a mão com tudo.
- O que foi?  
- Arde. - me olhou, como uma menina amedrontada. 
- Muito? - perguntei e ela balançou a cabeça negativamente. - Então me deixa passar, vem cá. - fui passando de leve e ela me lançou alguns sorrisos, que eu entedia como uma melhora pro corte.
- A Laura é igual a você, até nisso. Desastrada... - comentei.
- Eu melhorei muito nisso.
- Ah, claro. - falei irônico e ela revirou os olhos, contendo um sorriso. - Com o tempo eu fui me acostumando e aprendendo a lidar... Aprendi a cuidar de machucados e ela reclama desse seu mesmo jeitinho. 
- Ela é a sua cara. 
- Eu sei, ela é linda. 
- Metido. - riu.
- Realista! - ri também. 
- Luan... 
- Oi.
- Acredita em mim, eu não fiz por mal. 
- Não tenho nada a ver com isso, Tatá. Não mais. Você seguiu sua vida, independente de ser com meu amigo ou não. Eu fiquei com raiva, ciúmes... Porque no fundo, eu ainda tinha alguma esperança de nós dois.
- Não é possível, Luan. Faz tanto tempo.
- Nem tudo o tempo cura, não é assim?
- Por quê? - sorriu de lado.
- E desde quando existe explicação pro amor? Ninguém sabe explicar, mas todos sentem. Ou quase todos. Algo forte, bonito. Algo que nos faz enfrentar tudo pela aquela pessoa, algo que nos faz querer estar junto... Algo que eu nunca tinha sentido antes e de repente, já me vi completamente louco por você. Entendo o Felipe, ele deve ter se apaixonado fácil como eu...
- Eu sempre achei que você nunca gostou de mim quanto eu gostei de você.
- Era algo tão impressionante, que eu preferia disfarçar. Por precação. Demonstrar demais nunca dá certo. 
- Não demos certo.
- Porque você não quis.
- Porque eu quis te poupar.
- Porque você só sabe fugir.
- Isso não vai resolver nosso problema.
- É, não vai mesmo. Antes até poderia, mas agora não. Você com o Felipe, definitivamente não. Perdi você pra sempre. - falei de cabeça baixa.
- Ainda tá ardendo?
- Muitas coisas doem, Luan. Cortes que diferente desse, não vão cicatrizar. 
- Fomos os culpados, mas já nos perdoamos. Como você diz, não precisamos remoer isso...
- Não, não. Tínhamos tudo pra dar certo! Eu sofri tanto em exatamente todo o tempo que passamos separados. Em 2015, em 2016... Falando com você naqueles e-mails, Luan, eu me via cada vez mais incapaz de te esquecer. Eu precisava! Já estávamos separados, continuar te amando não me levaria para canto nenhum. Foi aí que eu viajei pra Nova Iorque...
- E o fora que você me deu, te levou pro Felipe. Posso ser sincero com você? - 
- Pode. - respondeu baixo.
- Você não tá feliz. Seus olhos dizem... E eu simplesmente não entendo. Felipe é uma pessoa maravilhosa, deu pra ver o quanto ele está apaixonado, te trata bem. Por que ele não consegue te fazer feliz?
- Porque talvez ele não seja você. Ele não despertou em mim, o que você já despertou. 
- E não morreu. Eu sei que não. - sorri, me aproximando. - É claro que não! - aumentei meu sorriso, deixando nossos rostos a centímetros. 
- Luan. - sussurrou, com os olhos fechados. Nossos lábios se encontraram antes que nossas mentes pudessem articular algum outro plano para nos manter afastados. Tanara segurou forte em minha mão, como que buscando algo em que se apoiar enquanto caíamos do abismo, juntos. Acariciei seu rosto com a mão livre, sentindo meu corpo inteiramente eletrificado pela sensação de beijá-la outra vez depois de todo aquele tempo de distância. Ela repousou sua mão na curva de meu pescoço, deslizando-a para minha nuca e aprisionando meu cabelo entre seus dedos saudosos. Aprofundamos o beijo sem demora, famintos um do outro, e em poucos segundos, envolvi sua cintura com meu braço, puxando-a para meu colo; ela obedeceu de bom grado, acomodando-se de lado sobre minhas pernas. 

Desabriguei minha mão de seu aperto e desenhei o contorno de seu braço às cegas, seguindo até seu cotovelo, para então conduzi-lo até meu ombro e fazê-lo envolver meu pescoço. Tatá sorriu contra meus lábios, prontamente atendendo ao meu pedido e me abraçando apertado. Seu perfume invadiu minha mente, impedindo o surgimento de qualquer pensamento a não ser o que ela vocalizou, com a testa unida à minha e os olhos fechados.
 - Que saudade... 
Abracei sua cintura com mais força, trazendo-a para ainda mais perto de mim, e respondi com outro beijo, que pareceu durar um mísero segundo, embora estivéssemos nitidamente descabelados, com os lábios avermelhados, e sem fôlego quando o partimos. Todo o tempo perdido levaria ainda mais tempo para ser recompensado, foi o que rapidamente percebi. Não desperdicei mais um instante, e mesmo precisando desesperadamente de ar, voltei a beijá-la com toda a intensidade que meu corpo implorava para externar, depois de meses de contenção. 
Como foi que sobrevivi mais de um minuto sem ela? 

Encerramos o beijo, sorrindo um para o outro feito duas crianças em manhã de Natal; ainda que ela estivesse rindo, desconfiei quando escondeu o rosto em meu pescoço. 
- Ei... - sussurrei, convencendo-a a voltar a me olhar com um carinho no queixo, e minhas suspeitas se confirmaram quando observei a excessiva umidade em seus olhos - Não faz assim. 
- É por causa do machucado - ela fungou, lançando um olhar envergonhado em minha direção. 
- Eu amo você. 
Um suspiro quente escapou de seus pulmões. Ela apertou a gola de minha camiseta e se encolheu ainda mais em meu abraço. 
- Eu amo você - repeti, sentindo minhas pálpebras cada vez mais pesadas e o oxigênio cada vez mais escasso. Nossas bocas se encontraram com urgência, e minha mão se encheu com a maciez de sua coxa ainda por cima da sua calça. Meu sangue borbulhou nas veias ao ouvi-la ensaiar um gemido enquanto aprisionava meu lábio inferior entre seus dentes, e minha sanidade evaporou quando ela se remexeu em meu colo, provocando um leve atrito que tirou meu fôlego. Subi meu toque e brinquei com o tecido de sua roupa, ansiando o calor que eu sabia que encontraria se apenas avançasse mais um pouco entre suas pernas. Tatá se empenhou em traçar um caminho torturante de beijos por minha mandíbula, seguindo para meu pescoço. Suas unhas arranharam de leve o outro lado de meu rosto em provocação, e eu beijei sua palma, sobre o machucado que havia acabado de fazer. Sorrateiramente, continuei escalando sua perna sobre a calça até atingir o cós, acariciando a região logo abaixo de seu umbigo com meu polegar antes de embrenhar meus dedos sob o elástico de sua calcinha. Ela soltou o ar pesadamente, descolando sua boca da parte de trás de minha orelha, e eu prossegui, descendo sem pressa e explorando cada centímetro de pele no caminho. Abaixei a cabeça ao atingir meu destino, repousando minha testa sobre seu ombro com os olhos fechados, concentrado em sentir cada reação que seu corpo oferecia aos meus estímulos. Ela respirou fundo quando as pontas de meus dedos encontraram a umidade entre suas coxas; sem exercer muita pressão, acariciei a região sensível e senti minha boca salivar ao perceber o quão intenso era seu desejo. 
- Quero te beijar - sussurrei para a curva de seu pescoço, completamente refém. Tatá trouxe sua boca até a minha, respirando com dificuldade devido aos lentos movimentos de meus dedos, e eu retribuí o beijo que ela me deu. No entanto, não era àquele tipo de beijo que eu me referia. Eu ainda estava sedento. 
- Eu quero... - ofeguei, removendo minha mão de dentro de sua calça e passando meu braço por baixo de seus joelhos; envolvi sua cintura com o outro, carregando-a comigo, para deitá-la sobre a mesa ao nosso lado, empurrando todo o resto. 
Seus quadris estavam alinhados com a beirada do móvel, suas pernas pendiam uma de cada lado de meu corpo, e ela se esparramou sobre a madeira escura, com o olhar fixo no meu. Minhas mãos deslizaram por sua cintura, levando junto consigo em sua subida a blusa, e meus lábios encontraram sua barriga. Ela arqueou as costas em resposta à minha carícia, removendo seu sutiã e expondo seus seios. Levei meus beijos até eles, com toda a paciência e dedicação do mundo. Tatá mantinha os lábios entreabertos, e por entre eles uma sinfonia de gemidos baixos escapava a cada toque de minha língua em sua pele. Uma vez livre da parte de cima de seus trajes, minhas mãos passaram a trabalhar na parte de baixo, empurrando os dois itens restantes de vestuário enquanto a distraía com beijos e leves mordidas. 
Assim que a despi por completo, espalmei minhas mãos ao lado de sua cabeça e olhei fundo em seus olhos. Meu rosto pairou a centímetros do dela quando enfim finalizei minha frase: 
-Te beijar. 
Mantive contato visual conforme erguia meu tronco e me sentava numa das cadeiras atrás de mim, bem diante dela. Percorri o interior de suas coxas com minhas mãos e as afastei, umedecendo meus lábios discretamente para então saciar meu desejo e beijá-la exatamente onde queria. Seus dedos se embrenharam em meu cabelo de imediato, acompanhados de um longo gemido. Continuei acariciando suas pernas conforme minha língua se movia, por vezes em círculos, por vezes, verticalmente, ora rápido, ora devagar. Quanto mais eu provava dela, mais eu queria; não havia melhor sabor no mundo. Meu corpo inteiro queimava de vontade, e eu somente não dirigi minhas mãos ao volume incômodo em minhas calças porque estava concentrado demais em fazê-la se contorcer sobre a mesa sem nem sequer ter removido uma peça de roupa. 
Sua respiração tornou-se ainda mais irregular após algum tempo, e só para provocá-la, interrompi minhas atividades e ergui um pouco o rosto para observá-la: seu corpo estava recoberto por uma fina camada de suor, o que apenas o tornava ainda mais convidativo, e suas feições denunciavam o alto nível de excitação no qual ela se encontrava, à beira do abismo. Imediatamente percebendo minha pausa, ela me olhou; deslizei uma mão por sua barriga, e entrelaçou seus dedos nos meus. Retomei meu trabalho, e em poucos minutos ela atingiu o ápice, apertando minha mão com força. 
Relutante, permaneci onde estava, permitindo que ela recuperasse o fôlego e recolhendo o resultado de meus esforços. Somente parti o beijo quando ela ergueu o tronco da mesa. Levantei meu rosto até o dela, recostando-me na cadeira, e enxuguei meus lábios com as costas da mão, com os olhos vidrados. Sua boca e bochechas estavam vermelhas, e seu cabelo desgrenhado denunciava claramente o evento nem um pouco ortodoxo que havia se passado. Ela estava nua, sentada diante de mim, com as pernas abertas e a respiração irregular; talvez fosse a saudade, talvez fosse o efeito sempre inebriante de levá-la ao orgasmo, talvez fosse verdade – não importava. 
Eu nunca a tinha visto mais linda. E mais minha. 
Com um sorriso sujo, ela esfregou um dos pés no lado externo de meu joelho, e aos poucos o apoiou por inteiro sobre minha coxa. Continuamos nos encarando, numa espécie de transe, e ela continuou seu trajeto, parando ao atingir minha virilha com a ponta do pé. Levei minha mão até sua panturrilha, acariciando a pele quente, prestes a me render. Por mais que eu amasse dominá-la, em nossas disputas silenciosas por poder, eu geralmente jogava a seu favor, minha única estratégia tendo como objetivo vencer a mim mesmo e deixar que ela conquistasse o controle. Eu não me importava com a derrota, pois sabia que a sanção seria tão incrível quanto a vitória, se não ainda mais. Tanara havia vencido assim que coloquei os olhos nela; eu já estava mais do que acostumado a perder. 

Ficou em pé e eu ergui uma sobrancelha, observando-a cercar minhas coxas com as suas e sentar em meu colo, com as mãos sobre meus ombros. 

Ela suspirou pensativamente, descendo as mãos por meu peito e abdômen e parando ao atingir a barra de minha camiseta, enquanto as minhas ocupavam seu lugar de costume em sua cintura. Sorriu, livrando-me da peça de roupa sem cerimônias. Fiz o mesmo. Sorri provocante, antes de segurá-la pela cintura e puxá-la para mim. Suas unhas se fincaram em meus bíceps em resposta ao contato direto de nossos corpos. Seus mamilos se enrijeceram contra minha pele, me fazendo ver estrelas; o mero fato de estar abraçado a ela sem barreiras entre nós já bastava para me tirar do sério. 

Já ficou óbvio que eu era pirado por aquela garota ou preciso elaborar mais um pouco? Tanara percorreu meus lábios com a ponta de sua língua, levando suas mãos até o botão de minha calça, e eu senti calafrios descerem por minha espinha ao me dar conta de que aquilo realmente estava acontecendo. Todas as noites, desde que ela deixou aquele hotel, eu imaginei aquele momento em minha mente, quando enfim sentiria seu toque de novo. Fechei os olhos, implorando por misericórdia, e respirei fundo ao sentir o botão abrir, aliviando parte da pressão que começava a me sufocar. O zíper seguiu o mesmo caminho, permitindo que as pontas de seus dedos passeassem por parte de meu membro por sobre a cueca. Ela depositou mais um beijo no canto de meus lábios e manteve o rosto colado ao meu, de forma que seus cílios fizessem cócegas em minhas pálpebras. Tudo em mim parecia tão quente que eu temia uma queda de pressão a qualquer instante – não por meu bem-estar, mas pela interrupção indesejada que isso causaria. 
Contrariando minhas expectativas, ela levou suas mãos de volta para meus ombros, abandonando meus jeans exatamente onde estavam, e iniciou um movimento de vai e vem com seus quadris, para frente e para trás. Tal processo originou uma fricção que, juntamente com toda a encenação bastante fiel do ato em si, bastou para me fazer jogar a cabeça para trás em poucos segundos. 
- Porra, Tanara... - suspirei, perdendo o controle e me agarrando à sua cintura ondulante na tentativa de não estragar o momento antes da hora. Seu corpo reproduzia todos os detalhes ao se afastar e voltar a se aproximar do meu: suas coxas se retesavam e relaxavam sobre as minhas, seus seios roçavam em meu peito, seu rosto subia e descia a cada investida imaginária... Era real demais, e eu só tinha tirado a blusa. 
Aquela menina estava acabando comigo. Como se todo o resto não bastasse para me enlouquecer, ela começou a gemer perto de meu ouvido, deixando-se levar pelo efeito de seus movimentos em seu próprio corpo. Mordi meu lábio com força, respirando fundo e de olhos fechados, imaginando o que seria de mim quando eu realmente estivesse dentro dela. Se já me encontrava naquele estado com uma mera simulação... 
- Eu preciso... - murmurei, levando uma de minhas mãos até seu cabelo e prendendo algumas mechas em meu punho. Não consegui terminar a frase, pois já estava atingindo o limite de meu autocontrole, mas não precisei. Ela também precisava. 
Numa sequência de movimentos desajeitados e apressados, removemos o resto de minhas roupas. 
Acariciei suas coxas, inclinando a cabeça em sua direção e roubando um rápido, porém intenso beijo para refrescar nossas memórias. Num movimento simples e fácil, tão natural quanto respirar, eu estava dentro dela. 
Unimos nossas testas, ambos com os lábios entreabertos em êxtase, e permitimos que nossos corpos absorvessem todas as sensações que explodiam dentro de nós. Uma vez recuperada do furor inicial, ela voltou a se mover sobre mim, da mesma forma que fazia por sobre minhas roupas. Seus braços envolveram meu pescoço, apoiados em meus ombros para ajudá-la a tomar impulso, e minhas mãos recaíram sobre sua cintura, guiando seus movimentos; sem mais floreios, transamos no meio da cozinha. 
O calor que me preenchia se tornou ainda mais insuportável adicionado ao calor que vinha de dentro dela. Seu corpo me abraçava, por dentro e por fora, transformando-se numa nova atmosfera sem a qual eu sufocaria e que ao mesmo tempo me levava cada vez mais para perto de uma espécie de morte. Eu não me julgava capaz de suportar toda a intensidade que ela compartilhava comigo a cada som rouco que escapava de sua garganta, a cada sopro de ar quente que acarinhava meu rosto, a cada espasmo interno de seu corpo, que eu também sentia. Naquele momento, que pareceu se desenrolar em velocidade reduzida, eu tive certeza de que se eu estava doente, ela era a cura, e de que se ela era o meu fim, ela também era o meu começo. 
Ela era tudo, e se eu tivesse que viver sem ela mais uma vez, nada me restaria. Nem eu mesmo; tudo ficaria com ela. Apesar do ritmo acelerado de nossos corpos, levei meus lábios até os dela, e coloquei neles tudo o que tinha. Apertei sua cintura com força, colocando na ponta de meus dedos tudo o que tinha. Abri meus olhos por um instante, bem a tempo de observá-la atingir o clímax novamente, e coloquei neles tudo, tudo o que eu tinha. 

Era tudo dela, de qualquer forma. E eu não queria que fosse diferente. 
Meu ápice veio logo em seguida, acompanhado de um beijo demorado no pescoço. Tatá descansou a cabeça em meu ombro, mantendo o rosto escondido onde seus lábios ainda repousavam vez ou outra, e eu acariciei suas costas, aos poucos retornando do estado de graça ao qual ela havia me elevado. - Quanto mais o tempo passa, mais você melhora nas suas chaves de coxas. - ofeguei quando fui capaz de raciocinar claramente outra vez, após beijar seu ombro. 
- Somos loucos. - ela riu, com a voz serena. - Sempre na cozinha. - sorri ao ouvir seu comentário, aliviado por poder finalmente revisitar nossas memórias sem ser instantaneamente esmagado por toda a culpa e sensação de desmerecimento. 

Meu amor por ela vinha sendo grande parte de mim há alguns anos, e ainda que um dia ele deixasse de existir, eu simplesmente não conseguia me ver desligado de sua vida. Ainda que no futuro eu deixasse de amá-la, por qualquer motivo que fosse, eu sentia em meus ossos que continuaria fazendo o que me fosse possível por ela. Não podia deixá-la livre para outro assim. Ela era minha menina. Minha. 


Como prometi, outro hoje. Parece que eles não resistiram. Tatá sempre odiou traição e acabou de cometer uma. E agora, Brasil? Vocês só vão descobrir no 6, sabiam? E... Será postado com 20 comentários! Não sei se vou postar outro daqui pro natal, então, feliz natal pra vocês meninas! Cheio de paz e felicidades... ✨❤️



Capítulo 4

Luan's POV.  

Estava em mais um dia de folga e dessa vez não ficaria com Laura. Sorocaba, meu amigo, estava aniversariando e estava preparando um churrasco para comemorarmos. Todos estavam ansiosos, finalmente conheceriam a noiva misteriosa de Felipe. Menos eu. Minha cabeça continuava em Tanara! Estava intrigado com aquela história e queria mais que tudo descobrir a identidade do filha da mãe, o que mais parecia impossível. Procurei, procurei... E pelo visto, eles realmente eram muitos discretos. Será que ela inventou aquilo? 

O dia também era do Max, meu tio, mas nós apenas nos falamos por ligação. Bruna tinha pedido para ir comigo e eu aceitei. Nossa relação ainda não era como antes, mas a Laura nos aproximou muito. Bruna era completamente apaixonada pela sobrinha! Com o passar dos dias, minha mágoa ia passando... Bem devagar. A peguei em casa e fomos, trocando pouquíssimas palavras. Chegamos quando já tinha muitas pessoas. Micaella, noiva do Sorocaba, nos recebeu simpática, avisando que ele estava ajeitando algumas carnes. É, de repente todos resolveram casar. E eu continuo sendo a exceção. Depois o cumprimentamos. Estava completando 37 anos e todos os amigos estavam o zoando. Micaella tinha 27, era dez anos mais nova que ele. 

- O Felipe não vem, cara? - comentava com Sorocaba, enquanto estávamos a sós. - Esse viado tá fazendo maior mistério com a tal muié.
- Não sei, ele disse que vinha. - deu de ombros. - Ou ela é muito feia, ou é muito bonita. Aposto no bonita. Felipe era que nem você, sem coração, de repente se apaixona? 
- Não quero que esse azar dele passe pra mim. 
- Deixa de ser assim, cara. Você tá ficando velho!
- Fala isso porque arranjou a Micaella pra te aguentar. Está apaixonado. Eu já fui apaixonado. Acho que nunca mais vou conseguir isso.
- Claro que vai, Luan. Você é novo. Eu sei que o que aconteceu com a Tatá foi forte, mas...
- Forte não, foi fatal. Ela acabou comigo.
- Entende o lado dela.
- Eu gostava dela, ela podia se esforçar pela gente.
- Não culpa só a menina, você vacilou também. 
- Eu sei, eu sei. Mas enfim, sabe o que eu descobri nesse show que teve em Fortaleza?
- O quê? 
- Ela tá noiva.
- A Tatá?
- É. A própria! - suspirei, bebendo um gole da minha cerveja. 
- Nossa, cara. Ainda lembro de vocês aqui em 2013, na enrolação de vocês. Amizade colorida! - riu, me fazendo lembrar também.
- Naquele tempo não tínhamos nada ainda.
- Mas você trouxe ela afirmando ser só uma amiga e beijou ela na frente de todo mundo. 
- Digamos que a gente estava ficando! - ri. - É complicado de explicar, mas era muito divertido. 
- Muda essa cara de apaixonado arrependido falando dela, pega mal pra você.
- Que apaixonado o quê! - neguei, sob seus risos.
- Mas quem é o tal noivo?
- Então... Eu também não sei! Ela disse que são discretos, nunca postou nada. - dei de ombros, percebendo Sorocaba mudar de expressão. Seus olhos estavam arregalados, parecia surpreso. 
- Que foi, cara? - empurrei seu ombro de leve, rindo da sua cara de espanto. Olhei na mesma direção que ele olhava e não sei decifrar o que eu senti. Fiquei sem forças, engoli seco. Meus olhos estavam vidrados naquela cena horrorosa e minha vontade maior foi beliscar-me para acordar daquele pesadelo. Felipe e Tanara ali, cumprimentando os outros convidados, com um sorriso no rosto. Ela é a misteriosa noiva dele? Puta que pariu. Aquilo era uma brincadeira de muito mau gosto!

Tanara's POV. 

Felipe percebeu minha mudança de humor e perguntou o que estava acontecendo, me fazendo negar com um sorriso falso no rosto. Passou a mão na minha cintura e beijou o topo da minha cabeça. Entramos de mãos dadas e eu já tinha um frio na barriga. Não foi o aniversariante que nos recebeu, mas Felipe conhecia todos e logo começou a me apresentar a cada pessoa presente ali. Alguns sorriam me olhando desconfiados, com certeza lembrando do meu namoro com Luan. A maioria ali eram amigos do meu ex, me deixando mais nervosa ainda. Não o vi ali. Ele não estava ali. Obrigada meu Deus! 

- E aí, parceiro. - ouvi a voz do Sorocaba e meu noivo virou com um sorriso gigante. Fiz o mesmo e me arrependi na hora. Luan estava ao seu lado, me lançando um olhar quase indecifrável. Surpresa. Decepção. Cumplicidade. Raiva. No que você se meteu, Tanara? O que eu faço? 
- E aí, meu velho! Tá velho mesmo hein? - abraçou o amigo. - Parabéns cara! E aí, filha da mãe. - se referiu à Luan, me fazendo sustentar um sorriso sem graça para os dois. 
- Obrigado, cara. - Sorocaba agradeceu. 
- E aí, Felipe. Essa é a sua noiva? - Luan agiu com indiferença, me deixando surpresa. Ele não ia contar? Ele não ia me envergonhar na frente de todos? 
- Minha noiva, sim! Finamente, lhes apresento meu amor: Tanara. - beijou minha mão, enquanto eu não mudava o sorriso. Nervosa e sem graça. Com medo. Constrangida. Ok, preciso urgentemente ir embora. 
- Obrigado, cara! Linda sua noiva, prazer. - Sorocaba falou me olhando intimidador.
- Obrigada e parabéns. - tentei melhorar o sorriso e fui alfinetada com o olhar penetrante de Luan. Merda. Que merda. 
- Ela é realmente linda. Se deu muito bem, Felipe. - Luan disse me encarando. Era quase impossível não perceber o clima formado ali, e Felipe parecia totalmente intocável à ele. 
- Obrigada. - sorri para Luan, liberando mais sentimentos especialmente naquele sorriso, pra ele. Eles trocaram  mais algumas palavras e deram uma desculpa, para sair de perto da gente. 
- Felipe, por que você não me contou que seus amigos eram famosos? - tentei falar sem demonstrar nervosismo, o que era muito difícil. 
- Quis te testar. Não podia ficar comigo só pra conhecer eles, né?! - falou brincalhão, rindo sozinho em seguida.
- Eu não vi graça. - falei juntamente de uma careta. Foi uma brincadeira inocente, mas que me irritou, devido à pressão que eu estava sofrendo. 
- Deixa de ser marrenta, meu amor. Relaxa, eles são gente boa. - pegou no meu rosto, selando meus lábios todo feliz, enquanto eu continuava mal com tudo aquilo. Valeu, destino. Luan ser amigo do meu noivo é realmente magnífico. 
- Quer tirar foto com o Luan? Ele é de boa, e eu sei que você é toda ligada em  internet.
- Diferente de você, que parece um velho de 85 anos.
- Eu prefiro coisas físicas. Não pode?  
- Nem um instagranzinho, Fê? - mudei de assunto, o fazendo me abraçar.
- Nem isso, meu bem. WhatsApp está ótimo! 
- Como você vivia em Nova Iorque sem tirar foto naqueles lugares lindos? 
- Não sendo você, Tatá, a louca das fotos. Não vai me aceitar do jeito que eu sou?
- Não vou. Quero devolver! - cerrei os olhos, o fazendo rir.
- Não pode mais. Você vai ficar comigo pra sempre, nem que você não queira.
- Ih, vai me forçar? 
- Vou sim! - beijou meu rosto, enquanto eu fingia um sorriso divertido diante seu papo fofo.

- Vem, amor, vou te apresentar o resto do pessoal. - falou sorrindo. Ah, meu Deus, o que fazer quando já conheço todo mundo? Colocar o meu sorriso de pateta e continuar? Seguir como se nada tivesse acontecendo? Isso, vá em frente, Tanara. Sorri para Felipe que passou o braço em minha cintura, sorrindo. Ele foi passando de mesa em mesa, falando e me apresentando para todos. 

- Agora você vai conhecer uma pessoa muito especial para mim. Minha boneca!  - seria um irmã?  - É a irmã do Luan, a Bruna. Vocês vão se dar muito bem, amor. Ela adora moda e fotos como você! 
- Ah, não vejo a hora de conhecer! - sorri fechado. Era só o que me faltava! Ele puxou minha mão e me parou em frente a ela, que se virou sorrindo e alegre. Mas, como nenhuma alegria dura para sempre, seu sorriso se desfez.
- Oi, Fê! - o abraçou com intimidade. - Quanto tempo.
- Oi, Bu! Olha, essa é a Tanara... - me puxou carinhoso. Ele sorria de orelha a orelha, me apresentando a todos. - Minha noiva. - beijou meu ombro.  
- Oi, Bruna! Prazer! - sorri, falsa. Ela estava... envergonhada?  
- Oh, Tanara! Muito prazer também, viu? - eu sorri fechado, falsa e cínica. Ela estava tão desconfortável quanto eu e logo tratei de inventar uma desculpa. Perguntei onde era o banheiro e ele ensinou, me deixado sair dali. Bruna. Falsa. Estragou tudo! Bufei, tentando me acalmar. No caminho acabei esbarrando numa moça, que se apresentou como Micaella e noiva do aniversariante. Eu também me apresentei e logo nós iniciamos um papo. Acabei nem indo ao banheiro, mas não tinha importância, foi a primeira desculpa que me veio na cabeça. Ela era legal, simpática e muito bonita. Depois de muita conversa, eu voltei para perto do meu noivo que para melhorar tudo, fez com que ficássemos na mesa do Luan. Que linda a amizade dos dois. Seria uma pena se eu não estivesse me sentindo a pior mulher do mundo! 

Luan's POV.

A primeira reação que eu pensei em ter foi ir lá e acabar com aquela palhaçada. Mas Sorocaba me segurou, pedindo para eu ter calma e não estragar seu aniversário. Estava tão mal, magoado, decepcionado. Com ódio, dos dois. Eles não podiam fazer isso comigo! Era uma traição dupla. Uma traição de fato, que estava doendo muito. Ciúmes me cegou e nem sequer conseguia absorver aquilo. Estava acontecendo mesmo? Ela estava com o meu amigo? É por ela que ele está apaixonado? Pensava em tudo isso, atordoado, os encarando e descontando tudo na minha cerveja. Até Sorocaba me puxar para falar com eles e me sugerir indiferença, frieza. Eu fiz. Foi difícil, mas consegui. Ela sorria sem graça, a desgraçada fingiu que só pôde me conhecer ali. Eu estava desnorteado com a notícia, com a sua atitude, com a burrice de Felipe. Ele não percebe? Me afastei e passei a encara-los, com meus pensamentos a mil. Que vontade de espancar ele. Mas aí eu lembrava que ele era o meu amigo. Mas também lembrava que ele estava sendo um fura olho e a vontade do espancamento voltava. O que eu fiz pra ser tão castigado, meu Deus? Ninguém merecia passar pelo o que eu estava passando naquele momento, sentir o que eu estava sentindo e sofrer dessa maneira. 

Tanara's POV. 

A festa foi esvaziando e durante toda ela, Luan não parava de beber, calado, me encarando. Eu estava com medo dele explodir, contar tudo, contar o que já vivemos. Eu não queria, ele não podia. Eu já estava constrangida o suficiente! Queria um buraco para enterrar minha cabeça e nunca mais tirar. Felipe feliz, não percebia meu receio e sempre que me perguntava algo, eu só respondia com a cabeça. Sorrisos, expressões e sim ou não. Acabou ficando só nós seis e estava ficando cada vez pior. O clima estava pesado e meu noivo só podia ser um idiota para não perceber. Bruna me olhava envergonhada e ao mesmo tempo, superior. "Namorar o amigo do ex, que puta". Eu sei, todos julgam. Mas eu não sabia. Eu juro que não sabia. Se eu soubesse, nunca me envolveria. Não pelo o que os outros iriam pensar, mas sim pela minha saúde mental. 

Eu e Micaella estávamos entretidas, quando nos assustamos com um barulho de algo caindo na água. Olhamos imediatamente, vendo Bruna na piscina. Como ela caiu ali? Felipe foi o primeiro a se aproximar para ajudar e a cara dela não estava nada boa. Todos estavam sérios e bom, eu não sou uma pessoa que consegue segurar a gargalhada. Foi algo engraçado naquela situação tão tensa, e eu acabei soltando uma risada. Micaella me acompanhou e Bruna nos olhou irritada, enquanto seu irmão começou a rir também. Felipe continuava sério, ajudando-a a sair, e nós três riamos. Sorocaba estava segurando a risada, ele era um homem de autocontrole. Ela saiu encharcada e Micaella se ofereceu para ajudá-la, ainda rindo. Bruna aceitou e as duas entraram. 

 - Tatá, coitada. Não era pra rir! - Felipe me repreendeu. 
- Mas foi engraçado, ué. Deixa a menina rir. - Luan me olhou, enquanto nós dois moderávamos nossa respiração, acelerada pela risada. 
- Você também, cara. É sua irmã! Ela ficou irritada.
- Bruna já fez coisa bem pior e eu te garanto que eu não fiquei só irritado. - alfinetou, me encarando, nova e descaradamente. 
- Deixa de ser certinho, Felipe. Eu não posso fazer nada se ela caiu! - dei de ombros, me defendendo. 

Na mesma hora o celular de Felipe tocou e ele saiu para atender, piorando a situação. Eu, Sorocaba e Luan. Droga.

- Quando vai contar pra ele? - Luan perguntou frio, me causando arrepios.
- Luan cara... - Sorocaba tentou contê-lo. 
- Deixa ela responder, cara. - repreendeu Sorocaba. - Quero ver até onde vai a cara de pau dela.
- Não me venha com ofensas, Luan. Eu não sabia de nada! - fui sincera. 
- Eu tô vendo sua cara de assustada. Estranho, né?! Também achei. Não contou do seu passado pro seu noivo? - me olhou sério. 
- Não, justamente por ser passado. Mas não se preocupe, se faz tanta questão... 
- Não tenho que fazer questão de nada. Agora são noivos, você que sabe sobre o que deve contar pra ele. Fiquei lisonjeado em saber que você tem tanta consideração pela nossa história, que escondeu. Muito feliz pelos dois e muito triste pela pessoa que você se transformou. - falou angustiado, saindo em seguida.
- Luan! - levantei, para ir atrás dele quando Sorocaba me impediu.
- Deixa ele, Tatá. Ele tá magoado. 
- Eu juro que não sabia! Eu...
- Eu sei. Mas acontece que ele gosta de você e você sabe disso. Ele sofreu muito depois que você acabou com tudo e saber que o Felipe, o cara que se tornou um dos melhores amigos dele, é o seu noivo... Não deve tá sendo fácil. Ele tá bebendo, quer afogar as mágoas, deixa ele. 
- Faz tanto tempo, Sorocaba. Eu quis seguir minha vida, poxa!
- Eu sei, Tatá. Mas o Luan não conseguiu fazer a mesma coisa. Tá sendo um baque pra ele!
- Ele não pode achar essas coisas de mim.
- Não é o que ele vai achar, é o que ele tá sentindo. Ele tá morrendo de ciúmes, de raiva. Acha que foi traído por vocês dois. 
- O Felipe nunca me falou nada.
- Ele não sabe porque o Luan se transformou nesse cara desapegado, não sabe da história de vocês. É melhor não contar! Vai estragar a amizade dos dois, que até então era muito forte.
- Nossa, você tá ajudando muito. Eu sou uma idiota!
 - Infelizmente ninguém tem culpa, Tatá. Mas quem sofre nisso tudo é o Luan, e ainda é por você. 
- Não é possível que ele não tenha esquecido...
- Ele não esqueceu. E você também não! Desde que você viu o Luan, seu olhar tá diferente. 
- Eu tenho um carinho por ele, foi muito especial.
- Ele não sente só carinho por você e é melhor você deixar isso quieto. Se for conversar com ele vai piorar tudo...
- Não acredito que isso tá acontecendo! 
- Pede pro Felipe ir embora, Tatá. Eu dou um jeito no Luan. 
- O que tem eu? - Felipe chegou sorrindo.
- Tô falando que você devia levar a Tatá embora, ela não está se sentindo bem. 
- Tatá? - riu. - Tá vendo, amor? Todos se encantam por você, olha o Sorocaba já te chamando pelo apelido! - ri nervosa. - O quê você tá sentindo? 
- Uma dor de cabeça. Será que a gente pode ir? 
- Deixa eu só me despedir da Bubu, do Luan e da Mica... - fez menção de andar e eu o segurei.  
- Não, Fê! Depois você fala com eles! O Soro explica, né?! - perguntei e Sorocaba assentiu. - Vamos, por favor. - olhei pidona e ele me abraçou, preocupado. 
- Tchau então, parceiro. Sabe como é, né?! Tenho que cuidar... - falou brincalhão e eu sorri pro Sorocaba, como uma forma de agradecimento. 
- Relaxa, eu entendo. Tenho a minha! - sorriu pequeno. - Vão com Deus.
- Obrigada, Sorocaba. Estava tudo ótimo! Parabéns de novo.
- Quê isso, Tatá. Volta sempre! Gostei de te conhecer. - sorriu compreensivo e eu deixei escapar um sorriso envergonhado. 
- Obrigado, cara. Explica mesmo pra eles! - se despediu do amigo e em seguida saímos, enquanto ele perguntava o que eu estava sentindo e eu inventava várias coisas. Que se ele fosse um pouco mais esperto, sacaria que eram desculpas esfarrapadas para sair dali. Estava perturbada. Pávida. 


Parece que alguém descobriu. E de agora em diante? Como lunara/fenara ficam? Já escolheram seu lado? 20 comentários e eu posto outro mais tarde! Se eu fosse vocês, comentava hein?! Hahahaha